Ninguém sabe ao certo o que Cézanne quis dizer com esta obra enigmática de 1877, mas ela parece antecipar o século XXI, preparado pelo século XX.
Reclinada sobre um leito guarnecido por um dossel, estrutura cujo simbolismo é a proteção divina nos altares e tronos medievais, a mulher de formas pouco convidativas, sem curvas nem sensualidade, se aquece sob os olhares dos admiradores.
O que seria este "eterno feminino"?
Maria, em centenas ou milhares de pinturas ao longo de mais de mil anos, representou o feminino na doçura e na força, na tristeza e na fé, na maternidade e na proteção de todos os filhos de Deus. Antes dela, as deusas gregas (com suas variações de nomes entre romanos, celtas e nórdicos), a Ishtar babilônica e a Isis egípcia jamais se dignaram a ouvir os pobres mortais, antes perseguiam-nos por inveja de seus talentos -- como Atenas perseguiu Aracne -- ou beleza -- como Afrodite perseguiu Psiqué -- e jamais se preocuparam com os angustiados habitantes da Terra, salvo os casos em que sua vaidade deveria prevalecer.
É obvio que o feminino só existe em relação ao masculino, sem a existência do segundo, ele não tem razão de ser. Se é eterno, há a necessidade do eterno masculino igualmente. Um pequeno deslize, um leve desequilíbrio e leito e dossel se tornam instantaneamente uma armadilha criada pela própria vaidade. A adoração se torna vazia, obrigatória.
Este eterno feminino de formas sem sensualidade e sem feminilidade legado pela modernidade incipiente do século XIX, prisioneiro de sua própria ilusão auto-enaltecedora, mostra-se como liberdade, mas é a verdadeira masmorra em que padecem as emoções sinceras que não podem mais ser expressas.
Esta mulher sem curvas, sem marido e sem filhos que destronou a Maria é o retrato do feminino hoje: falsamente enaltecida pela religião sequestrada, pelos artistas, pelos homens fracos e vis, mas por nenhuma mulher real, sensual, com curvas, filhos e até santidade.
A mulher sem curvas deseja que todas as mulheres caiam na armadilha para que ela não sofra sozinha: já são anos de cerco contra a feminilidade real, contra o masculino, contra a natureza. Não sei se nosso fim será como o de Troia.
É obvio que o feminino só existe em relação ao masculino, sem a existência do segundo, ele não tem razão de ser. Se é eterno, há a necessidade do eterno masculino igualmente. Um pequeno deslize, um leve desequilíbrio e leito e dossel se tornam instantaneamente uma armadilha criada pela própria vaidade. A adoração se torna vazia, obrigatória.
Este eterno feminino de formas sem sensualidade e sem feminilidade legado pela modernidade incipiente do século XIX, prisioneiro de sua própria ilusão auto-enaltecedora, mostra-se como liberdade, mas é a verdadeira masmorra em que padecem as emoções sinceras que não podem mais ser expressas.
Esta mulher sem curvas, sem marido e sem filhos que destronou a Maria é o retrato do feminino hoje: falsamente enaltecida pela religião sequestrada, pelos artistas, pelos homens fracos e vis, mas por nenhuma mulher real, sensual, com curvas, filhos e até santidade.
A mulher sem curvas deseja que todas as mulheres caiam na armadilha para que ela não sofra sozinha: já são anos de cerco contra a feminilidade real, contra o masculino, contra a natureza. Não sei se nosso fim será como o de Troia.
0 Comentários