Cobrar aos governantes melhor tratamento aos agentes da lei


Em tempos de BLM, quase ninguém lembra que problemas de abordagem policial podem decorrer da forma como nossos policiais são tratados pelo governo. 


Em uma pesquisa feita na Paraíba, mais de 1/3 dos policiais militares estudados apresentava algum nível de fadiga. Em outra, feita no Rio Grande do Norte, 47% apresentava sinal de forte estresse, 39% se encontrava na fase de resistência e 4% na fase de quase exaustão. 


Burnout e outras doenças psíquicas costumam ocorrer nessas profissões, que demandam alto envolvimento emocional e riscos constantes. 


Porém, no caso das polícias brasileiras, existem outros problemas envolvidos. 


Por um lado, em muitos locais, as escalas de trabalho não favorecem os policiais. Em modelos de 24h de serviço por 48h de folga (mais comum), o serviço costuma se prolongar em situações de flagrante no final do expediente, sem compensação em banco de horas. 


Além disso, com salários baixos, muitos policiais se vêem forçados a recorrer a bicos para complementar a renda, de modo que seu tempo de descanso fica ainda mais prejudicado. 


Por outro, em muitas cidades, a vida do policial é marcada por um nível de tensão fora do comum, dada a grande exposição ao risco, dentro e fora do serviço. 


A forma como o regulamento militar é aplicado também pode ser fonte extra de estresse. Exigências desemedidas sobre os agentes e falta de compreensão sobre a necessidade de descanso são infelizmente comuns. 


Esgotamento físico e mental, assim como a privação de sono por si mesma, são fatores associados a agressividade, perda de atenção, entre outros problemas. 


No caso dos policiais, isso os expõe a riscos extras, diminuindo o seu tempo de reação e tornando-os mais suscetíveis.  


Infelizmente, governos estaduais não costumam possuir programas de avaliação periódica para identificar e lidar com esse tipo de situação. Não há válvula de escape a ser acionada para preservar o policial sob forte estresse e evitar o pior. 


O brasileiro médio tem cobrado mais dos governantes no combate ao crime e à violência. Talvez já tenha passado da hora de cobrar mais atenção, valorização e respeito pelos agentes da lei.


Eduardo Matos de Alencar é Sociólogo e autor do livro De quem é o comando? O desafio de governar uma prisão no Brasil.

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