Sobre Silas Malafaia:

Do conduzido Malafaia ao pentadenunciado Lula, distância é enorme

Blog também comenta caso Toffoli e recurso da Câmara sobre 10 medidas

– Polícia Federal vai tirar dúvida se o pastor Silas Malafaia emprestou conta de instituição religiosa para ocultar origem ilícita de valores. Seus inimigos, obviamente, já têm certeza.
– De boas, aguardando (sentado…) os petistas que reclamaram da condução coercitiva de Lula reclamarem da do Malafaia.
– Se for provado que Malafaia lavou dinheiro (para um grupo que fraudava valores de royalties de mineração devidos por mineradoras a municípios), terá se igualado a petistas, senão em nível de banditismo, ao menos em hipocrisia. Caso contrário, chamá-lo-ão de hipócrita do mesmo jeito.
– Malafaia alega que recebeu 1 (hum) cheque de uma oferta de R$ 100 mil de um membro – que ele diz desconhecer – da igreja de seu amigo pastor Michael Abud e a declarou no imposto de renda, como faz com inúmeras outras.
– Indignado, aos gritos, Malafaia divulga vídeo em que dá suas alegações, repudia condução coercitiva e acusa tentativa de desmoralizá-lo perante a opinião pública. Assista:
– Contas de doações partidárias ou religiosas são usadas para lavar dinheiro até porque se pode alegar desconhecer a origem dele, o que pode ser verdade ou não.
– Cabe à PF provar com outros meios de investigação relação direta ou indireta entre recebedor e pagador que demonstre intencionalidade, bem como eventuais contrapartidas das supostas doações. Senão, vida que segue, a despeito da imagem manchada.
– Após a publicação do vídeo, Malafaia se distingue de petistas corruptos com um aviso:
– O PT, claro, tenta tornar crimes muito maiores de petistas em nome e em favor de um projeto criminoso de poder não apenas menos graves que crimes aparentemente menores, mas também que qualquer suposto crime cometido por adversários políticos que nem indiciados foram.
– Do conduzido Malafaia ao pentadenunciado Lula, vai uma distância enorme, ao menos por enquanto. O primeiro recebeu, entre outras doações legais, aparentemente um único cheque de R$ 100 mil cuja origem ilícita diz desconhecer. O segundo é acusado de ser o comandante máximo do maior esquema de corrupção da história, por meio do qual recebeu dezenas de milhões de reais e tentou se perpetuar no poder.
– Quando Lula era só um “conduzido”, o juiz Sérgio Moro afirmou: “A condução coercitiva para tomada de depoimento é medida de cunho investigatório”; “não envolve qualquer juízo de antecipação de responsabilidade criminal, nem tem por objetivo cercear direitos do ex-presidente ou colocá-lo em situação vexatória”. O caso de Malafaia não está com Moro, mas vale a mesma tese geral.
– Mais cedo, o pastor também havia dado as seguintes tuitadas:
Mais Lula
– Lula pede R$ 1 milhão de indenização por gráfico do MPF com seu nome. Parece que vaquinha petista não é suficiente para pagar os advogados.
– Que trabalho para prender Lula é feito com cuidado para evitar que STF o solte, é óbvio. Cabe ao povo mistura de paciência, apoio e pressão.
– O juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso Comperj contra o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, que agora são também réus na Justiça do Paraná, a exemplo da Justiça do Rio. O discípulo segue o exemplo do comandante.
– Não ter investigados nem bandidos de estimação é uma liberdade deliciosa que petistas, socialistas e comunistas desconhecem.
Toffoli & PT
– Brasil é um país tão atrasado que, em 2016, PGR ainda está analisando suspeição do ministro Dias Toffoli, do STF, para julgar petistas.
– Para quem chegou à Terra agora: Toffoli é advogado de carreira no PT e foi indicado por Lula ao Supremo Tribunal Federal. Ah, sim: atuou três vezes em favor de Renan Calheiros nas últimas semanas (pedindo vista da ação que impede réus de fazer parte da linha sucessória da presidência da República; e votando contra a denúncia por peculato e a favor da manutenção na presidência do Senado).
– Se nem mensagens de celular e e-mails indicando “amizade íntima” de Toffoli com o ex-ministro da Previdência Carlos Gabas são motivo de suspeição, suspeito é o PGR.
– Relembro: Operação Custo Brasil, para a qual PGR analisa suspeição de Toffoli, investiga também marido de Gleisi Hoffmann (PT-PR), o ex-ministro dos governos petistas Paulo Bernardo, que Toffoli mandou soltar.
Como queríamos demonstrar
– Rodrigo Janot rejeita investigação sobre Michel Temer e Eliseu Padilha no caso Geddel Vieira Lima. Falei semanas atrás no ‘Sem Edição’ que seria difícil investigá-los por isso.
10 medidas contra a corrupção
– Alegar que autoria de um projeto de iniciativa popular desfigurado na Câmara dos Deputados foi atribuída a um parlamentar por falta de meios de checar milhões de asssinaturas dos eleitores é justificar a malandragem pela própria incompetência.
É isso que faz a Câmara comandada por Rodrigo Maia em recurso ao STF.
– O ministro Luiz Fux, que determinou a volta das 10 medidas do Senado Federal à Câmara, declarou ao Globo:
“A Constituição existe há mais de 20 anos e prevê essa sistemática. De sorte que a falta de aparelhamentos para verificação das assinaturas é, digamos assim, um argumento muito desinfluente para se descumprir um comando constitucional num Estado democrático em que o povo tem o direito de exteriorizar a sua intenção legislativa. E essa intenção não pode ter uma paternidade assumida por outra.”
Mais:
A proposta “foi completamente desfigurada. Ela tinha de ser votada admitindo-se eventualmente emendas pertinentes que dissessem respeito ao tema que o projeto veiculava, ou seja, medidas contra a corrupção. E inseriram tópicos que nada têm a ver com o que se estava discutindo. O rito adotado não foi o correto. A Câmara tinha que se reunir no plenário e apreciar o projeto de lei de iniciativa popular.”
Relembro trechos da liminar de Fux:
“Há apenas simulacro de participação popular… quando o texto é… atropelado pelas propostas mais interessantes à classe política”.
“Além de desnaturação da essência da proposta popular destinada ao combate à corrupção, houve preocupante atuação parlamentar contrária a esse desiderato” (a essa aspiração).
Em resumo: deputados usaram a proposta popular de combate à corrupção para blindarem a si próprios contra as investigações. A ilegalidade ainda será debatida no plenário do STF em 2017, mas a imoralidade é flagrante.
– Gilmar Mendes: Fux deveria “fechar o Congresso de uma vez e dar a chave ao procurador Deltan Dallagnol”. Pode dar a do STF mesmo, Gilmar.
Felipe Moura Brasil

Vídeo de 2013 mostra Malafaia falando dos R$ 100 mil. Entenda


Blog contextualiza a história e o leitor acredite no que quiser


Alvo de um mandado de condução coercitiva, o pastor Silas Malafaia publicou em rede social um vídeo de mais de três anos atrás e escreveu o seguinte:
“Mais uma prova [de inocência]. Veja a minha fala no dia 7 de julho 2013 diante de 20 mil pessoas sobre a oferta que recebi. Isso não é corrupção!”
Assista. Contextualizo em seguida.
A suspeita a ser esclarecida pela Polícia Federal é se Malafaia teria “emprestado” contas correntes de uma instituição religiosa sob sua influência com a intenção de ocultar a origem ilícita dos valores.
Malafaia hoje nega que tivesse conhecimento de que os valores eram frutos de um esquema desvendado pela PF em que um Diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral detentor de informações privilegiadas a respeito de dívidas de royalties oferecia os serviços de dois escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria a municípios com créditos de CFEM junto a empresas de exploração mineral (65% da chamada Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – CFEM – tem como destino os municípios).
No vídeo acima, da época em que recebeu o cheque de R$ 100 mil, Malafaia se refere à “oferta” feita por um advogado de Santa Catarina que tinha acabado de vencer uma causa.
Segundo o relato, um outro pastor foi quem comunicou a Malafaia que o advogado queria lhe fazer a oferta porque, dois anos antes, Malafaia, embora tenha dito que não se lembrava muito bem, havia rezado pela vitória do advogado, a pedido do mesmo pastor.
A causa, da qual Malafaia não demonstra no vídeo saber qualquer detalhe, pode ter sido justamente uma das cobranças judiciais de roylaties nas quais consistia o esquema de corrupção.
O advogado, ainda segundo o relato, pegou um avião numa terça-feira, foi ao escritório de Malafaia e lhe deu o cheque de R$ 100 mil.
O vídeo talvez não chegue a provar a inocência de Malafaia, mas obviamente quem tem de provar sua culpa é a PF.
De todo modo, para acreditar que ele sabia de tudo, parece ser necessário, também, acreditar que, por onipotência ou descuido, ele não viu problema algum em falar para milhares de pessoas da “oferta” durante um culto filmado; ou que, fingindo não saber o que sabia, nem conhecer quem conhecia, falou justamente para ter um álibi razoável se e quando o esquema fosse descoberto.
Enquanto a investigação não avança, o leitor acredite no que quiser.

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