Paixão e realidade:

Ricardo Roveran
Aquele que está desprovido da análise (decompor um objeto em seus elementos) e da crítica (verificar se o resultado é condizente com a proposta), está inegavelmente cego.

O cego não sabe para onde está indo.

A paixão (pathos), segundo Homero, é uma doença justamente por isso: leva o indivíduo a viver o futuro que projetou em sua mente no presente, e então passa a ignorar a realidade.

A paixão subtrai a identidade do sujeito, tornando-o o indivíduo que vive o seu sonho, o futuro no presente, sem no entanto sê-lo real.

Quando esta hipótese (este sonho) que vive acordo é negada, e o sujeito cai da cama pro chão duro, o sofrimento é incomparável.

Se alguém começa a ver no outro os seus sonhos sendo prováveis, deve imediatamente frear-se, sob a pena de traumatizar sua alma e perder os sonhos por pura irresponsabilidade.

O indicador de que está se apaixonando por alguém, irresponsavelmente, é passar a calcular as atitudes alheias, pressupondo seus comportamentos, e passar a agir de acordo com as suposições, esquecendo-se de verificar os resultados reais. Isto é, na prática, a supressão das capacidades crítica e analítica, que levam qualquer um para o buraco dos traumas, de onde se demora muito para sair (quando sai).

Os sonhos são todos bons, mas precisam ser construídos na realidade, não na ilusão.

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