Nelson Ascher |
Trump reverteu radicalmente a política do governo anterior, e isso começou a doer. Aconselhados em nome do ex-governo Obama por John Kerry, os aiatolás esperaram quietos a deposição segura de Trump. Que não veio. E, diante da perspectiva apavorante (para eles) de sua reeleição, resolveram, por meio de ataques aqui e ali e ações terroristas, desmoralizar o presidente e subverter sua candidatura no ano eleitoral. A certeza era a de que, mesmo com reações e represálias, todas como de hábito meias bombas e a contragosto, a iniciativa continuaria em mãos iranianas. O mais provável é que a esta fosse do próprio general Suleiman.
De repente os EUA promoveram a maior virada na região em mais de meio século, especificamente desde 1967, quando, destruindo num ataque preventivo as forças aéreas dos países árabes inimigos no início da Guerra dos Seis Dias, Israel se tornou em poucas horas a potência militar hegemônica do Oriente Médio. No caso da eliminação do general Suleimani, um alvo legal e legítimo, os EUA, após anos de reações defensivas, retomou, ou melhor, tomou finalmente a iniciativa e transferiu o peso de décadas de incerteza para as costas dos aiatolás. São ele, portanto, que, ao tomar qualquer decisão, ao planejar um ataque, atentado ou retaliação, terão doravante que se colocar a pergunta: “Será que os americanos são loucos a ponto de arriscarem uma guerra total?” Uma semana atrás a resposta era: “Seguramente não.” Hoje ela não é “Sim”; é (do ponto de vista dos aiatolás e demais inimigos dos EUA) muito pior, ela é: “Ninguém sabe.”
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