Mudança de foco e ocultação de objetivo - a Hidra:

Há anos, qualquer pessoa que não seja de esquerda e que não se submeta ao silêncio absoluto ou não aceite ausentar-se totalmente dos debates públicos tem de lidar com a possibilidade de ver "mudadas em armadilhas as verdades que dissera".

Todo comentário descuidado, toda opinião rapidamente esboçada, toda palavra dita no calor do momento e toda tentativa fracassada ou bem-sucedida de tirada humorística pode (e frequentemente é) distorcida e usada em acusações maliciosas, destinadas a mostrar que somos seres odiosos; racistas, sexistas, homofóbicos e seja lá qual for a última tendência em matéria de preconceito.

Tudo o que dizemos ou fazemos é sempre interpretado da pior maneira possível pelas criaturinhas tolerantes que povoam nossas universidades, redações e repartições públicas, num esforço de demonizar não apenas os nossos nomes, mas também as nossas crenças, os nosso valores, as nossas tradições e tudo o que consideramos mais elevado e sagrado.

Por outro lado, o establishment cultural, a esquerda e o beautiful people desejam produzir, colecionar e exibir "arte" que sexualiza crianças e retrata de modo positivo e propagandístico toda sorte de bestialidade sem ter de lidar com a acusação (de resto óbvia) de que isso os torna entusiastas de abominações como a pedofilia e a zoofilia. Mais: eles querem escarnecer, vilipendiar e tratar como objeto de chacota tudo o que há de mais sagrado para o povo brasileiro sem ter que lidar com qualquer tipo de reação negativa, mesmo as mais pacíficas e civilizadas como o boicote e a crítica, e fazem isso ao mesmo tempo que exigem que tratemos como sacro-santa qualquer tara ou bizarrice sexual por eles cultivada. Eles podem tudo. Nós não podemos nada.

Eis mais um dos muitos frutos perversos do relativismo moral e cultural: todo e qualquer ataque às tradições consagradas da civilização deve ser aplaudido e recebido com entusiasmo; entretanto, até a mais moderada das críticas ao freak show esquerdista deve ser tratada como um risco de segurança pública, uma ameaça à liberdade e ao mundo civilizado.

Não devemos nos deixar enganar por quem está tentando mudar de assunto e colocar a "liberdade de expressão" no centro da discussão. Este não é um debate sobre preceitos formais, é um debate sobre valores substantivos. O pessoal das micro-agressões, dos trigger warnings, dos safe spaces, dos lugares de fala, nada tem a dizer sobre a liberdade de expressão. Muito menos sobre a arte, a não ser nas nada infrequentes ocasiões em que essa gente está tentando proibir a leitura de Shakespeare, Dostoiévski e Monteiro Lobato ou exigindo a demolição de estátuas e esculturas. Para eles a questão é simples: não se trata de defender a liberdade ou a arte, mas de destruir a verdade, as virtudes e a beleza. Por isso mesmo, não é difícil se dar conta de que a única liberdade que está em risco é a liberdade do cidadão comum de defender seus valores e suas crenças contra a hidra diversionista que quer destruí-lo; a liberdade de perseverar na defesa daquilo que os engenheiros sociais querem extirpar e substituir.

Filipe G. Martins

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