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Andréa Fernandes |
Teve de tudo: cantores famosos aflitos com o fim da “dinheirama” da Lei Rouanet cantando “Tá Proibido o carnaval”[1]; desfile de “coxinhas armadas” para ironizar o presidente e seus seguidores[2]; governador do Maranhão desfilando eufórico aparamentado de boina semelhante à do ditador Fidel Castrocom martelo e foice em “memória festiva” aos milhões de cadáveres produzidos pelo Comunismo; foliões encenando com risadas o atentado à faca contra Bolsonaro com bastante “sangue cenográfico”; escola de samba carioca Unidos da Tijuca com integrantes fantasiados de vermes com a faixa presidencial[3]; bloco em Belo Horizonte insultando o presidente e pedindo a liberdade para o presidiário Lula[4];fantasias temáticas diversas criticando as candidaturas laranjas do PSL, além dos ministros Ernesto Araújo e Damares Alves[5]; e escola de samba campeã do carnaval carioca glorificando o negro escravista “Zumbi dos Palmares”, que “sequestrava mulheres e mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para trabalhos forçados no Quilombo dos Palmares[6]”.
A referência da Mangueira à “farsa heroica” de Zumbi dos Palmares é tão vergonhosa que merece uma pequena digressão. O jornal BBC entrevistou alguns historiadores e carnavalescos para analisarem a performance da escola, os quais foram “desastrosamente harmônicos” em afirmar que alcançou-se o “protagonismo de personagens afrodescendentes e indígenas”. O historiador Luiz Antonio Simas afirma[7]:
“O enredo vai na linha defendida por Walter Benjamin, grande filósofo e teórico da História, que falava da necessidade de ‘escovar a historia a contrapelo’, ou seja, de tentar mostrar os lados não vinculados à história oficial das grandes efemérides, e dos heróis consagrados do panteão da pátria”.
Faltou argumento para Simas explicar se a “escovada” na História para mostrar os “lados” não vinculados aos registros oficiais merece ecoar uma “mentira caricata” para agradar movimentos negros filiados aos partidos de extrema-esquerda. De sorte que, reverenciar como “mártir da resistência contra escravidão” um negro que “historicamente” foi símbolo da “conservação da ordem escravista”, é estelionato intelectual combinado com “revisionismo ideológico”. Aliás, na matéria da BBC descobri através do historiador entrevistado que “em 1960, o salgueiro revolucionou a história dos enredos das escolas de samba trazendo o quilombo dos Palmares”, e o atrevido ainda não fica rubro ao afirmar que “Zumbi dos Palmares é um personagem que chega à avenida antes de chegar nas salas de aula”. É isso que dá um sistema educacional moldado pelas “aulas ministradas por escolas de samba”: Perpetuação das “fraudes intelectuais” na construção falsificada de narrativas e identidades durante décadas.
Contudo, é impossível esperar “grandeza moral” de uma escola de samba que na busca de “dividendos políticos” homenageia a vereadora assassinada Marielle Franco convidando a companheira, o deputado Marcelo Freixo e o vereador Tarcisio Motta, ambos do PSOL, mas deixando de fora os PAIS da falecida[8]. A mãe de Marielle tentou demonstrar que não estaria ressentida por não ter sido convidada para que “políticos brilhassem” em seu lugar, porém, deve ter compreendido que “família” não é um ente admirado na “ala da revolta psolista”.
“Politicagens” à parte, a escola de samba que conseguiu chocar a opinião pública e “levantar a arquibancada parlamentar evangélica” em críticas[9] foi, sem dúvida alguma, Gaviões da Fiel com a sua comissão de frente representando um “Jesus fake” de olhos azuis sendo arrastado e pisoteado pelo “Diabo”, que teria vencido a “batalha do bem contra o mal”. COMENTARISTAS DE TV TENTARAM ESCONDER O “ÓBVIO” ALEGANDO QUE O PERSONAGEM DA COMISSÃO DE FRENTE VESTINDO TECIDO EM VOLTA DO QUADRIL, USANDO COROA DE ESPINHOS E COM MARCAS DE FLAGELAÇÃO SERIA O “SANTO ANTÃO”, E NÃO JESUS, O QUE FOI DESMENTIDO PELO COREÓGRAFO DA ESCOLA DURANTE A TRANSMISSÃO DA REDE GLOBO APÓS O DESFILE. Disse Edgar Junior[10] ao explicar as “peripécias do Diabo” ao som da bateria embalada por enredo de “lenda árabe”:
“O foco era chocar. Essa comissão de frente foi incrível e alcançou nosso objetivo, que era mexer com essa polêmica de Jesus e o Diabo, com a fé de cada um”.
Todavia, para a imprensa brasileira – que outrora achou perfeitamente “normal” uma criança tocar o corpo de homem nu[11] em museu bem como a exposição para crianças em idade escolar de “obras de arte pornográficas[12]” com imagens de zoofilia, pedofilia, sexo grupal e outras “extravagâncias sexuais” como o caso do homem que recebeu jato de sêmen no rosto – o verdadeiro “escândalo inaceitável” desse carnaval teria sido protagonizado pelo presidente Bolsonaro ao expor em seu perfil ato obsceno – praticado por dois homens durante as festejos profanos – visando mostrar a imoralidade presente em blocos de rua[13]. Jornalistas se irritaram com Bolsonaro mas não esboçaram nenhuma reação condenatória quanto aos atos da dupla nojosa, possivelmente, por saberem que obscenidade é “marca registrada” do carnaval que não merece reprovação dos “isentões”. Penso que a “ira midiática” se dá por temporária “afetação virtuosa pós-carnaval”. Logo passa!
E para quem pensou que a Europa está livre do “carnaval diabólico”, uma polêmica que não alcançou na mídia patamar nem mesmo de “diabrete” foi o desfile de carro alegórico antissemita na BÉLGICA. Dois gigantescos bonecos representando judeus ortodoxos com enormes narizes e barbas usando shtreimels(chapéus de pele usados por alguns judeus hassídicos) estavam de pé entre moedas de ouro e sacos de dinheiro. UM DOS JUDEUS TINHA UMA FIGURA DE RATO NO SEU OMBRO E PARA SIMBOLIZAR A PROFANAÇÃO DA FÉ JUDAICA, NA PARTE DE TRÁS HAVIA UMA SINAGOGA COM MEZUZÁ[14]NA PORTA. O título do carro alegórico era “ano sabático” para impossibilitar a ideia de não se tratar de ataque antissemita de cunho religioso[15].
A demonstração de antissemitismo não poderia ter sido em local mais icônico: o “desfile de ódio” aconteceu nas cercanias do edifício da União Europeia, no centro de Bruxelas. Os moradores que integravam o “bloco dos horrores” explicaram aos jornalistas que aquela era uma forma de expressar “preocupação” de ordem econômica lançando mão dos antigos estereótipos antissemitas vinculando judeus a ganância.
A EXTREMA-IMPRENSA, POR SUA VEZ, NA SUA OBSTINADA “AMNÉSIA SELETIVA” NÃO DENUNCIOU O ATO ODIOSO, QUE É SIMPLESMENTE REMINISCÊNCIA DO “CARNAVAL NAZISTA”. Carros alegóricos antissemitas desfilavam durante os anos que antecederam a 2ª Guerra Mundial. Em 1934, na cidade de Colônia, um dos carros alegóricos exibia grupo de homens vestidos de judeus ortodoxos com uma faixa acima deles escrita: “Os Últimos Estão Partindo”. Em outro “desfile do mal”em 1935, o Holocausto era prenunciado: EM NUREMBERG, UMA FIGURA DE UM JUDEU EM PAPEL MACHÊ FOI PENDURADA NUM MODELO DE MOINHO REPRESENTANDO UMA FORCA[16].
No entanto, um fato curioso relaciona o carnaval brasileiro à folia nazista: Apesar de o carnaval ser a festa profana mais antiga que se tem registro, existindo há mais de 3 mil anos, segundo o historiador Voltaire Schilling[17], e tendo chegado ao Brasil por meio dos portugueses no século XVII, foi Getúlio Vargasque disseminou os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro para todo o país como estratégia para criar “identidade nacional” visando o “controle das massas” pela arte. A inspiração para o enaltecimento da identidade nacional adveio do sucesso da propaganda nazista. “Em 1933, o ministro das Relações Exteriores viaja à Alemanha para conhecer o regime de Hitler. Quando ele volta, Getúlio resolve criar um sistema de propaganda similar”, diz a historiadora Maria Clara Warsseman[18].
Logo, o capiroto que manipulou multidões na Alemanha nazista teve no antissemita Getúlio Vargas um “fiel súdito” da “realeza infernal” não somente ao “copiar” o modus operandi hitlerista de manipulação das massas através do “carnaval perenizado”, mas também, penalizando o embaixador Souza Dantas por ter concedido vistos aos refugiados judeus desobedecendo “circulares secretas”, já que, “milhares de vistos foram negados aos judeus apátridas de múltiplas nacionalidades e profissões comprovando a práxis por parte do Estado brasileiro que, entre 1937 e 1948, editou 28 ordens restritivas, incluindo circulares secretas, ordens de serviço e resoluções”. Contudo, o antissemitismo da era Vargas continua sendo “tabu” e silenciado nas escolas brasileiras enquanto a grande mídia silencia as ações pavorosas dos “blocos do antissemitismo europeu”.
Logo, representar o “pai da mentira” vencendo Jesus no sambódromo de São Paulo ou demonizar judeus na capital da União Europeia é o apogeu dessa nova rouparia da velha campanha nazista que seduz multidões para o culto ao ódio nas “passarelas da hipocrisia”.
*Andréa Fernandes é jornalista, advogada, internacionalista e presidente da ONG Ecoando a Voz dos Mártires.
[1]https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/noticias/redacao/2019/03/05/em-desfile-comedido-daniela-mercury-nao-menciona-polemica-com-bolsonaro.htm
[2] https://veja.abril.com.br/entretenimento/paraiso-do-tuiuti-faz-critica-com-coxinhas-armadas-e-ironiza-bolsonaro/
[3] https://epoca.globo.com/criticados-politicos-minimizam-os-protestos-que-marcaram-carnaval-do-rio-23500369
[4]https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2019/03/05/interna_politica,741112/protestos-politicos-ganham-as-ruas-do-pais-durante-o-carnaval.shtml
[5] https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2019/noticia/2019/03/05/mais-um-ano-de-glitter-e-fantasias-de-temas-politicos-marcam-carnaval-de-rua-no-rj.ghtml
[6] https://educacao.uol.com.br/noticias/2011/05/13/zumbi-era-um-lider-autoritario-e-tinha-escravos-veja-as-polemicas-sobre-a-escravidao-no-brasil.htm
[7] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47409435
[8] https://oglobo.globo.com/rio/pais-de-marielle-nao-sao-convidados-para-desfile-da-mangueira-mas-desejaram-sorte-escola-23500823
[9] https://oglobo.globo.com/rio/criticada-por-religiosos-comissao-de-frente-com-luta-entre-jesus-demonio-perde-pontos-em-sp-23501057
[10] https://www.acidigital.com/noticias/escola-de-samba-encena-satanas-vencendo-jesus-em-desfile-e-gera-polemica-54742
[11] https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/interacao-de-crianca-com-artista-nu-em-museu-de-sp-gera-polemica.ghtml
[12] https://www.locusonline.com.br/2017/09/06/santander-cultural-promove-pedofilia-pornografia-e-arte-profana-em-porto-alegre/
[13] https://renovamidia.com.br/video-publicado-por-bolsonaro-escandaliza-jornalistas-da-grande-midia/?utm_source=OneSignal&utm_medium=link&utm_campaign=Noticia
[14] “Mezuzá” é a palavra hebraica para designar umbral. Consiste em um pequeno rolo de pergaminho (klaf) que contém duas passagens bíblicas, manuscritas, “Shemá” e “Vehaiá”. A mezuzá que deve ser afixada no umbral direito da porta de cada dependência de um lar ou estabelecimento judaico, obedece ao seguinte mandamento da Torá: “Escreve-las-ás nos umbrais de tua casa, e em teus portões” (Deuteronômio VI:9, XI:20). In Chabad
[15] https://israelnoticias.com/antisemitismo/carros-alegoricos-antisemitas-belgica/
[16] https://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/02/12/tabu-na-alemanha-carnaval-era-explorado-pelos-nazistas.jhtm
[17] https://www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/quais-as-origens-do-carnaval-no-brasil-e-no-mundo,f808d8aec67ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
[18]https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/sob-inspiracao-nazista-getulio-inventou-o-carnaval-brasileiro-a64fpn1ovrutmeepdb7jo18bk/
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