Finalmente, a PF foi para cima do gabinete de intervenção federal do Rio de Janeiro, comandado pelo general, pelo esquema de fraude na compra dos coletes balísticos denunciado pela Homeland Security americana.
Mas o chefe da intervenção foi poupado da operação de hoje.
Na minha esquisita visão das coisas, o Brasil contemporâneo, esse controlado pelo STF e manipulado por psyops do Exército, surgiu justamente na intervenção do Rio, que marcou a volta dos militares ao centro da política.
Com o escândalo das conversas de Temer com Joesley, o general Etchegoyen assume a presidência de facto e cria, junto com o STF, o atual esquema de tutela do executivo, que vigorou durante toda o governo Temer, depois durante o gov Bolsonaro e implantado parcialmente no gov Lula.
A intervenção teve duas funções e uma consequência relevante: primero, servir de cortina de fumaça para uma presidência que naufragava num escândalo de corrupção, beneficiando Temer, e, segundo, colocava o exército no centro da política nacional, beneficiando os generais.
A consequência foi a paralisia das reformas no congresso (com intervenção não se vota PEC), que favoreceu o discurso de "precisamos reformar o estado inteiro e esses caras que estão aí mamando não vão fazer" que marcaria a campanha de 2018.
Houve um desvio de rota, porém.
O candidato natural e desejado era o interventor (que aliás já está em campanha para 2026), mas Bolsonaro, que embora fosse desprezado pelos oficiais já tinha apoio irrestrito da tropa, atravessou os planos. Em fevereiro de 2018, general Villas Boas ainda falava na imprensa que Bolsonaro não era o candidato dos militares, na esperança de tentar reverter a situação. Os milicos só aderiram à campanha de Jair na véspera e a maior parte dos oficiais só entraram mesmo depois que ele ganhou a eleição. Quem participou da campanha sabe bem como foi.
Tão logo assumiu, o GSI de Heleno e o STF de Moraes/Temer já entraram em campo para tutelar Bolsonaro. Meteram o braga de gerentão dos ministérios, na casa Civil, para ser o presidente de facto, e trouxeram para a Defesa general Fernando, que estava como assessor especial da presidência do STF na gestão de Toffoli como sugestão de Villas Boas e que atuava como principal interlocutor entre Exercito e STF.
Tão logo assumiu, o GSI de Heleno e o STF de Moraes/Temer já entraram em campo para tutelar Bolsonaro. Meteram o braga de gerentão dos ministérios, na casa Civil, para ser o presidente de facto, e trouxeram para a Defesa general Fernando, que estava como assessor especial da presidência do STF na gestão de Toffoli como sugestão de Villas Boas e que atuava como principal interlocutor entre Exercito e STF.
Braga era tão presidente de facto que em abril de 2020 tentou dar um golpe no próprio governo. No dia 22, convocou a imprensa e anunciou um novo programa investimentos do governo chamado de Pró-Brasil. Era uma reciclagem do PAC da Dilma. A contradição entre o nacional-desenvolvimentismo do programa e a orientação liberal das reformas conduzidas pela equipe econômica do governo eram tão grandes, que Paulo Guedes ficou sabendo do evento e do programa pela imprensa! E aparentemente, até Bolsonaro, pois depois que Guedes denunciou o golpe, afinal, Braga retirava de suas mãos a agenda econômica, o programa foi enterrado e Bolsonaro, constrangido, não falou mais disso.
Quando a inépcia política dos militares chegou ao seu clímax, e Bolsonaro estava com a corda no pescoço, o presidente abriu espaço para o centrão ocupar a articulação política e Braga foi transferido para a Defesa, de onde só saiu para ser vice de Jair e para falar a uma massa de gente iludida e esperançosa que o "ladrão não sobe a rampa". Subiu, e os colegas do general batem continência para ele o tempo todo.Braga será o prefeito do Rio com as bençãos de Jair. É isso, aliás, que explica o desastre político da prefeitura de SP.
O acordo entre Bolsonaro e Waldemar da Costa Neto prevê que o ex-presidente decide o candidato no Rio e não se mete em SP. Como Bolsonaro precisa manter o partido militar no hype, prefere sacrificar a mais importante cidade brasileira para atender os interesses dos generais. É por isso tbm, pela necessidade de impulsionar Braga Netto politicamente em detrimento de uma estratégia de longo prazo para a direita conservadora, que vemos bizarrices como a possibilidade de Marta Suplicy ser vice numa chapa apoiada pelo bolsonarismo.
Não sei se nesse arranjo entre STF e generais para tutelar a política nacional há acordo e consenso sobre um candidato militar positivista para 2026, mas o destino de Braga nessa operação da PF em cima do gabinete de intervenção do Rio pode servir de termômetro.
Ah, e precisa ser lembrado que no processo do TSE conduzido pelo Alexandre de Moraes, que cassou os direitos políticos do Bolsonaro por alguma ilegalidade cometida na campanha, Braga Netto foi poupado pelo establishment e teve seus direitos preservados.
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