Então você quer ir à China?

Bruna Luiza
Então você se elege deputado federal e resolve aceitar um convite para uma viagem à China, sem avisar seu partido ou consultar seus eleitores.

Você não vê mal em fomentar relações entre os países, e acredita que isso será positivo para o Brasil. Quando a viagem se torna pública, e as críticas aparecem, você não entende o motivo, e fica bravo com Olavo de Carvalho por criticá-lo. Como ele ousa, afinal? Ele não sabe nada de Brasil, nem de China, brada seu ego em auto-defesa, enquanto passa instruções aos assessores do conforto da cama do hotel 5 estrelas bancado pelo governo chinês.

Mas Olavo sabe, sim, do que está falando. Em 2018 ele já previa que você seria convidado para essa viagem, e o racha que isso causaria. Vejamos o que ele disse há mais de um mês (em 8 de dezembro de 2018):

"O que eu condeno é o sujeito subir rápido demais sem estar preparado. Então, prestem atenção ao tamanho do inimigo que você enfrenta, é um negócio de escala mundial.

Eu estudo isso há cinquenta anos, vocês não têm ideia do que é um negócio chamado KGB, do que é o Serviço de Inteligência Chinês, vocês não têm ideia da magnitude dos intelectuais que dirigem isso.

Esse pessoal é capaz de fazer picadinho de qualquer partido conservador latino-americano em dez minutos.

Eu vou lhe dizer algo simples, por exemplo: que recomeçaram as negociações com a China, negociações com bases mais equitativas, e quem vai conduzir é o presidente Bolsonaro e ninguém mais. O que a China faz?

Manda um convite para cada deputadinho: 'venham aqui discutir um pacto comercial conosco'. Num instante, por uma porcaria de conjunto de passagens aéreas, dissolvem a unidade do movimento, isola cada um para conversar particularmente com a gente. E os idiotas caem nessa armadilha.

Isso o que é? Falta de preparo, não estudaram o assunto tempo suficiente, alguns não estudaram nada".

Como é possível que Olavo tenha previsto isso? Bem, não importa. O que importa é que agora você será deputado e precisa defender sua decisão. Então o que fazer? Já sei: vamos usar dados do comércio. Comércio é bom e todo mundo gosta. Foi pensando na economia brasileira que vim! Como sou articulado, hein? Vou dizer, irônico que sou, que "o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota" é repetir uns números de balança comercial e pronto.

Mas, novamente, Olavo previu isso. Ele sabe o que está acontecendo, entende o cenário e as relações entre Brasil e China muito antes de você googlar os números de comércio bilateral. Pior. Esses dados já foram destroçados pelo professor e desmontados. Não existe balança comercial positiva quando o requerimento da relação de troca pede que o Brasil realize doações bilionárias a ditaduras. Vejamos o que Olavo previu e explicou em novembro de 2018:

"Ano passado o comércio com a China nos deu 20 milhões de superávit", muito bem. A China só fez isso porque o governo Lula e Dilma e o Temer também estavam distribuindo dinheiro para os amigos deles, os amigos da China: Cuba, Angola, Venezuela, etc: 1 trilhão. Levamos 20 milhões e distribuímos 1 trilhão. Que beleza, né? 
Claro que se o governo parar de representar vantagem política para a China, acaba o comércio na mesma hora. Comércio com a China é escravidão. Isso é óbvio e todo mundo deveria saber disso. 

Vai perguntar para o Tibet se é bom conversar com a China. Agora, para os EUA, é bom, porque a riqueza da China é quase feita toda de dinheiro americano. Outra coisa, tem gente que chega a ser tão idiota que ultrapassa a medida do acreditável. Por exemplo, Mino Carta acha ruim comerciar com Estados Unidos e acha que deve comerciar com a China. Mas a China só quer saber de comerciar com os Estados Unidos, meu deus do céu. Por que os EUA é bom para a China e é ruim para nós? Essa coisa anti-americana pueril é coisa de estudantezinho comunista de 1950, naquele tempo havia um livrinho que os comunistas distribuíam, a Editora Brasiliense, que é comunista para caramba, chamado "um dia na vida do Brasilino" e tudo o que ele consumia era americano. Só que se você retirasse todos aqueles produtos, o Brasilino retornaria à Idade da Pedra. Tem essa mentalidade ainda. É encrenquismo. Agora encrenquismo com a China não tem, embora estejamos de fato entregando tudo para a China. Essa burrice já passou do limite no Brasil."

Como é possível que Olavo tenha previsto tudo isto? É difícil entender, querido deputado?

Se escapa ao seu entendimento, e se você não sabe mais como responder, talvez fosse melhor para você, e melhor para o Brasil, pegar sua malinha e voltar para casa antes que as demais previsões dele se cumpram e o seu vexame piore.

Ps: eu conheço a China, eu moro no Brasil, eu tenho formação em relações internacionais e conheço todos os dados da balança comercial. Mantenho: Olavo tem razão
.


Adendos:

Só para constar, a China não é um 'socialismo light'. Ela criou, nos anos 70, as famosas 'Zonas Econômicas Especiais', ou 'ZEEs', como Hong Kong e Pequim, por exemplo, onde reina um liberalismo econômico extremo para financiar o resto da nação, que permanece comunista.  O deputado Daniel Silveira (PSL) foi até alguma dessas zonas e pensa que a China inteira é assim.
Não, sr. deputado! O regime comunista chinês é perito em espionagem e mantém uma extensa rede de campos de concentração para cristãos e dissidentes do governo!
Pare de falar asneiras!

Raul ETG



O novo Brasil assistiu embasbacado o desenrolar de uma patacoada envolvendo alguns deputados federais eleitos.

Mais de uma dezena de neófitos na política resolveram aceitar um duvidoso convite da ditadura chinesa para conhecerem – com todas as despesas pagas – as maravilhas de seu desenvolvimento tecnológico, a fim de, ao final, traçarem um estreitamento comercial entre os dois países, através de empresas pra lá de suspeitas no mercado internacional.

Assim, lá foram nossos intrépidos políticos para a aventura chop-suey das Arábias.

Eis que, no meio da viagem, foram repreendidos e interpelados quanto ao objetivo da estranha proximidade, posto que a China – apesar de parceira – não é uma desejável aliada no novo traçado geopolítico que se esboça no país e nem tampouco tem um governo que possa nos ser ideologicamente atrativo. Sendo que os tais viajantes foram eleitos exatamente para que modelos como os dos chineses JAMAIS sejam vistos em terras brasileiras.

Atabalhoados com a repercussão negativa do Expresso do Oriente, nossos impávidos representantes apresentaram as mais estapafúrdias desculpas. Desde a incrementação na exportação brasileira do açúcar e da carne bovina até a exibição do “capitalismo” chinês – tamanha a puerilidade das justificativas. Negaram, obviamente, quaisquer interesses pessoais, deslumbramentos com os novos postos públicos, ou atividade nociva que viesse a comprometer os interesses e a democracia nacionais.

Mensagem da Rede Social do Deputado Eleito Daniel Silveira

Consta que até mesmo o presidente Jair Bolsonaro ficou surpreso com a viagem dos deputados de seu partido.

No entanto, como amadorismo costuma não funcionar por muito tempo, nossas futuras excelências parlamentares se esqueceram do vasto material que foi postado em diversas redes sociais. Lá encontramos o mais provável objetivo do tour: uma parceria com empresas chinesas de tecnologia, voltadas para o reconhecimento facial. Muito embora, depois, tenha sido descaradamente negado ou minimizado.

Como sabemos, a China usa dessa tecnologia para o controle social. O uso da ferramenta é perigosa e, se usada nos moldes chineses, não encontra espaço nas democracias ocidentais. Nossos viajantes trataram de refutar qualquer objetivo ilícito. Entretanto, até entrevista sobre um projeto de lei que seria apresentado para a implementação do tal reconhecimento um dos participantes já tinha dado. Tudo divulgado, impresso, gravado e à disposição dos brasileiros.

Com o desenrolar da peregrinação nas terras de Mao, a cada explicação dada ou apresentação de motivos sobre a viagem, mais tenebrosa ficava a situação. O diletantismo e a ignorância se destacaram como agravantes da bizarrice. Ao invés de humildemente reconhecerem o erro e a precipitação na aceitação da oferta chinesa, os caipiras deslumbrados – com propriedade assim chamados – redobravam a arrogância e reafirmaram a profunda ignorância, orgulhosa e ‘patrioticamente’ ostentada: viajaram em nome do futuro Brasil.

A trupe de viajantes, em momento algum, reconheceu a gravidade do episódio, tratando de banalizá-lo completamente do ponto de vista geopolítico e moral, o que reforçou ainda mais o seu caráter oportunista. Teve jeca, digo, deputado, que disse ter a China um “socialismo light”. E, assim, foram apresentando um rol de imbecilidades na tentativa de justificarem o injustificável, ignorando a ferocidade do regime comunista chinês.

Certo é, caso o PSL tenha o mínimo de juízo, deverá expulsar a patota de seus quadros que, por mais certo ainda, encontrará acolhida em partidos como o PT ou PSOL. Não é possível que pessoas tão incultas e, na melhor das hipóteses, despreparadas – que nem ao menos assumiram suas funções legislativas – sejam mantidas no partido, depois de cometerem tão grave e irresponsável erro. Urge lembrar que o PSL é o partido que promete outro rumo para nossa combalida e desacreditada política.
Manifestação de um dos deputados sobre o objetivo da viagem

A serem mantidos como se nada tivesse acontecido, teremos a certeza que o PSL está condenado a ser apenas ‘mais um’ no mar da mediocridade que navega a política brasileira. Se pegarem o correto” biscoitinho da sorte chinês”, encontrarão o seguinte: um belo cartão vermelho para ser entregue a todos os oportunistas.

Claudia Wild, via Jornal Hora Extra.

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