Aí, galera
“Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo ‘estereotipação’? E, no entanto, por que não?
- Aí campeão. Uma palavrinha pra galera.
- Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenaremos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
- Ahn?
- É pra dividir no meio e ir pra cima prá pegá eles sem calça.
- Certo. Você pode dizer mais alguma coisa?
- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
- Pode.
- Uma saudação para minha genitora.
- Como é?
- Alô, mamãe!
- Estou vendo que você é um, um...
- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
- Estereoque?
- Um chato?
- Isso.
(Luis Fernando Veríssimo)
Questionamentos
1. Luis Fernando Veríssimo constrói o humor por apresentar um jogador de futebol que não corresponde à imagem que normalmente se faz desse tipo de atleta.
a) Qual é essa imagem?
b) Que tipo de linguagem se esperaria que um jogador de futebol utilizasse?
2. (Enem- MEC) O texto retrata duas situações relacionadas que fogem à expectativa do público. São elas:
a) A saudação do jogador aos fãs do clube, no início da entrevista, e saudação final dirigida à sua mãe.
b) A linguagem muito formal do jogador, inadequado à situação da entrevista e um jogador que fala, com desenvoltura, de modo muito rebuscado.
c) O uso da expressão “galera”, por parte do entrevistador, e da expressão “progenitora”, por parte do jogador.
d) O descobrimento, por parte do entrevistador, da palavra “estereotipação”, e a fala do jogador em “é pra dividir ao meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça”.
e) O fato de os jogadores de futebol serem vítimas de estereotipação e o jogador entrevistado não corresponder ao estereótipo.
3. A expressão “ pegá eles sem calça” poderia ser substituída, sem comprometimento de sentido, em língua culta, formal por pegá-los
a) na mentira.
b) desprevenidos.
c) em flagrante.
d) rapidamente.
e) momentaneamente.
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