Ferreira Gullar - Prêmio Luís de Camões 2010

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

O poeta e dramaturgo Ferreira Gullar é o ganhador da edição de 2010 do Prêmio Luís de Camões, o mais importante prêmio literário da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A escolha foi anunciada pela ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas, e pela Comissão Julgadora do Prêmio, em cerimônia realizada no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa (Portugal). O valor do Prêmio é de € 100 mil, quantia dividida entre os Governos do Brasil e de Portugal.

Aos 79 anos, o brasileiro Ferreira Gullar é o 22º escritor a ganhar o Prêmio. Pelo segundo ano consecutivo, a poesia foi destacada pelo júri; no ano passado, o poeta cabo-verdiano Armènio Vieira foi o nome agraciado com o Camões, sendo o primeiro escritor de seu país a receber a honraria.

Instituído em 1988, pelos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões é concedido anualmente pela FBN/MinC e pelo Instituto Camões, com o objetivo de estreitar os laços culturais entre países lusófonos, premiando seus escritores mais representativos.

O presidente da FBN/MinC, Muniz Sodré, destaca que Ferreira Gullar é um poeta de dimensão internacional. “Ele coloca a língua num patamar de alta superioridade, faz juz plenamente ao Prêmio Camões. Acho que todos nós, professores, escritores brasileiros, só temos a nos congratular com a escolha”, afirmou.

Poeta, crítico, dramaturgo - Prestes a completar 80 anos, Ferreira Gullar é um dos autores mais importantes da poesia brasileira. Nasceu José Ribamar Ferreira, no dia 10 de setembro de 1930, em São Luís, no Maranhão. Entre ensaios, crônicas, poesias e obras para o teatro alguns são destaques em seu trabalho: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1975); Na vertigem do dia (1980); Barulhos (1987); Muitas vozes (1999). O poeta também foi o vencedor, em 2007, do Prêmio Jabuti. É também ganhador, pelo conjunto de sua obra, do Prêmio Machado de Assis, a maior honraria da Academia Brasileira de Letras.

Lista de ganhadores do Prêmio Camões:

1989 - Miguel Torga, Portugal
1990 - João Cabral de Melo Neto, Brasil
1991 - José Craveirinha, Moçambique
1992 - Vergílio Ferreira, Portugal
1993 - Rachel de Queiroz, Brasil
1994 - Jorge Amado, Brasil
1995 - José Saramago, Portugal
1996 - Eduardo Lourenço, Portugal
1997 - “Pepetela” - Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, Angola
1998 - Antonio Candido, Brasil
1999 - Sophia de Mello Breyner, Portugal
2000 - Autran Dourado, Brasil
2001 - Eugénio de Andrade, Portugal
2002 - Maria Velho da Costa, Portugal
2003 - Rubem Fonseca, Brasil
2004 - Agustina Bessa-Luís, Portugal
2005 - Lygia Fagundes Telles, Brasil
2006 - José Luandino Vieira, Portugal/Angola (o autor recusou o prêmio)
2007 - Antonio Lobo Antunes, Portugal
2008 - João Ubaldo Ribeiro, Brasil
2009 - Arménio Vieira, Cabo Verde
2010 - Ferreira Gullar, Brasil

Parabéns, Gullar.

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