Quanto vale o show?


Era a frase do Sílvio Santos em seu programa de auditório, no qual se apresentava todo tipo de figura simplória, folclórica, diferente, etc., em busca de um trocado, de fama ou apenas dar o “ar da graça”. Após a performance, o júri determinava que valores seriam dados, de acordo com critérios nem sempre bem compreendidos. De qualquer maneira, a idéia era entreter. Quem assistia sabia disso. Não havia surpresas.
Esta semana conversava perto de casa com um rapaz, simpatizante de determinada pessoa, candidata ao executivo nacional. Entre uma frase e outra começamos a nos entender, a perceber que embora não concordássemos em todos os pontos tratados, poderíamos conviver amigavelmente, sem grandes conflitos, com nossas opiniões (Viva a diferença!) resguardadas as liberdades do que achamos. Acima de tudo, pela clareza que cada um tinha para dizer o que se pensa e ser bem entendido.
Os candidatos a Presidência também devem pensar assim: há coisas que devem ser muito bem explicadas, amarradas, compreendidas aos votantes. Os “dadores” de voto devem estar esclarecidos, do mais simples aos intelectuais. O Brasil é um país de todos, como o jargão escrito nas propagandas governamentais já manifestas. Não se engane, qualquer que seja o vencedor, será alguém que dará cara nova ao seu mandato, mesmo que aparentemente seja uma continuidade.
Independente de quem seja, com a péssima escolha, a nação poderá amargar tempos ruins, dificilmente recuperáveis ou navegar no equilíbrio social, financeiro, religioso, comunicativo – informação é crucial, fazer entender-se é imperativo e finalmente: a perfeição pode ser utopia, mas bem perto disso podemos chegar. Exija clareza dos postulantes, pois o lucro da entrada de qualquer certamente gerará prejuízo de toda ordem à população. Eis um caso interessantíssimo da literatura brasileira a este respeito:


Cão! Cão! Cão! (Millôr Fernandes)
Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não via. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado de um cão. O cão não muito grande mas bastante forte, de raça indefinida, saltitante e com um ar alegremente agressivo. Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efusão. "Quanto tempo!" O cão aproveitou as saudações, se embarafustou casa adentro e logo o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa. O dono da casa encompridou um pouco as orelhas, o amigo visitante fez um ar de que a coisa não era com ele. "Ora, veja você, a última vez que nos vimos foi..." "Não, foi depois, na..." "E você, casou também?" O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou pelo quarto e novo barulho de coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por parte do dono da casa, mas perfeita indiferença por parte do visitante. "Quem morreu definitivamente foi o tio... Você se lembra dele?" "Lembro, ora, era o que mais... não?" O cão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur, logo trepou com as patas sujas no sofá ( o tempo passando) e deixou lá as marcas digitais de sua animalidade. Os dois amigos, tensos, agora preferiam não tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se despediu, efusivo como chegara, e se foi. Se foi. Mas ainda ia indo, quando o dono da casa perguntou: "Não vai levar o seu cão?" "Cão? Cão? Cão? Ah, não! Não é meu, não. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. Não e seu, não?"
Moral: Quando notamos certos defeitos nos amigos, devemos sempre ter uma conversa esclarecedora.

Pois bem, pensemos nisso em todas as esferas da convivência: pessoal, econômica, religiosa e política.

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu