Literatura: A arte da palavra

Definindo literatura
A literatura, como qualquer outra arte, é uma cria­ção humana, por isso sua definição constitui uma tarefa tão difícil.
O homem, como ser histórico, tem anseios, neces­sidades e valores que se modificam constantemente. Suas criações - entre elas a literatura - refletem seu modo de ver a vida e de estar no mundo. Assim, ao longo da História, a literatura foi concebida de diferentes manei­ras. Mesmo os limites entre o que é e o que não é literatu­ra variaram com o tempo.
Atualmente, não incluiríamos uma obra historio­gráfica ou um sermão religioso na arte literária. No entan­to, estudaremos neste livro as crônicas de um historiador, Fernão Lopes, como uma das principais manifestações li­terárias do século xv. O mesmo ocorrerá com os sermões do Pe. Antônio Vieira em relação ao Barroco do século XVII.
Tentemos, portanto, a definição mais abrangente possível, que atenda à concepção da literatura em nosso tempo:
Literatura é a arte que utiliza a palavra como ma­téria-prima de suas criações.
Como todas as outras artes, a literatura reflete as relações do homem com o mundo e com os seus seme­lhantes. Na medida em que essas relações se transformam historicamente, a literatura também se transforma, pois é sensível às peculiaridades de cada época, aos modos de encarar a vida, de problematizar a existência, de questio­nar a realidade, de organizar a convivência social etc.
Por isso, as obras de um determinado período his­tórico, ainda que se diferenciem umas das outras, pos­suem certas características comuns que as identificam. Essas características dizem respeito tanto à mentalidade predominante na época quanto às formas, às convenções e às técnicas expressivas utilizadas pelos autores.
Chamamos de escolas literárias os grandes conjun­tos em que costumamos dividir a história da literatura. Essa divisão tem uma função sobretudo didática, ajudan­do-nos a compreender as transformações da arte literária ao longo do tempo.
A história da literatura portuguesa divide-se em três grandes períodos:
* Era Medieval: do final do século XII ao século XV;
* Era Clássica: do século XVI ao século XVIII;
* Era Romântica: do século XIX até hoje.
Já a literatura brasileira possui apenas os dois últi­mos, mais especificamente denominados:
* Era Colonial;
* Era Nacional.
Os gêneros literários
As tentativas de classificar as obras literárias em gê­neros são muito antigas. Remontam a Platão e a Aristóteles.
A tradição fixou uma classificação básica em três gêneros, que englobam inúmeras categorias menores comumente chamadas subgêneros:
• gêneros - narrativo (ou épico), dramático.
O gênero lírico se faz o mais das vezes em versos. Mas os outros dois gêneros - o narrativo e o dramático - também podem ser escritos nessa forma, embora modernamente se prefira a prosa.
As características do gênero narrativo
Podemos definir a obra narrativa como o relato de um enredo imaginário ou não, que se desenvolve no tem­po, envolvendo uma ou mais personagens.
Quanto à estrutura, ao conteúdo e à extensão, po­demos classificar as obras narrativas em romances, con­tos, novelas, poemas épicos, crônicas, fábulas etc.
Quanto à temática, as narrativas podem ser histórias policiais, de amor etc.
Tipos de narrador
Para contar uma história, o narrado r pode se posicionar de maneiras diversas. Assim, dependendo da perspectiva do narrador, uma obra literária pode ter:
* foco narrativo em terceira pessoa - quando o narrador é apenas uma voz que não se identifica; em outras pala­vras, quando o narrado r não é uma personagem;
* foco narrativo em primeira pessoa ou narrador-perso­nagem - quando o narrador é uma das personagens que vivem a história.
O narrador pode ainda ser:
* observador - quando narra de um ponto de vista exte­rior, como quem presencia ou testemunha os aconte­cimentos;
* onisciente - quando conhece e revela o interior das personagens, seus pensamentos e emoções.
As características do gênero lírico
Na obra lírica um sujeito que chamamos eu-lírico, sujeito lírico, voz lírica ou voz poética exprime suas emo­ções. (Por emoções entendemos todas as experiências psí­quicas: sejam os mais profundos sentimentos e sensações, sejam ainda as mais variadas reflexões e concepções de mundo.)
Devido à intensidade da expressão, as obras líricas tendem a ser breves e a acentuar o ritmo e a musicalidade da linguagem. Em conseqüência, o gênero lírico realiza-se preferencialmente em forma de poema, isto é, em versos.
É, dos três gêneros, o mais subjetivo.
Todos os elementos de um poema lírico concorrem para sua intensidade expressiva:
* no nível da sonoridade - a estruturação melódica e rítmica do poema (métrica, rimas, jogos de palavras,
aliterações, assonâncias etc.;
* no nível das imagens;
* no nível conceitual - o pensamento desenvolvido ao longo do poema.
As características do gênero dramático
Na obra dramática os fatos são apresentados direta­mente ao espectador, sem intermediários. Não é necessá­ria a voz de um narrador como na obra narrativa.
Pertencem ao gênero dramático as obras escritas em versos ou em prosa para a representação teatral. As­sim, embora o texto possa ser objeto de leitura, sua reali­zação plena enquanto obra de arte só pode ocorrer no palco, onde cada personagem é representada por um ator, que (re)vive o papel em cada novo espetáculo.
Enquanto o tempo próprio da narrativa é o passa­do, o tempo da obra dramática é o presente.
O discurso direto (fala da personagem sem inter­mediação de narrado r) e o diálogo são as formas básicas da linguagem dramática. É através do diálogo que ocorre o entrechoque das personagens, realizando-se a caracte­rística essencial do gênero, que é o conflito.
Noções de versificação
A intensidade expressiva da obra lírica exige um tra­balho muito especial do poeta sobre a sonoridade do texto. Vejamos alguns elementos básicos de versificação e da estrutura de um poema, enquanto lemos um dos mais conhecidos sonetos de Camões.

Amor é um fogo que arde sem se ver, verso
é ferida que dói e não se sente; verso
é um contentamento descontente; verso (verso + verso = estrofe)
é dor que desatina sem doer. verso

É um não querer mais que bem querer; (A)
é um andar solitário entre a gente; (B)
é um nunca contentar-se de contente, (B)      Rimas
é um cuidar que se ganha em se perder. (B)

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade,

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões. In Para tão longo amor tão curta a vida: sonetos e outras rimas São Paulo, FTD, 1998.

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