Gramática - O conceito de erro em língua



(Língua – um código de que se serve o homem para elaborar mensagens com fim à comunicação.)

Rigorosamente, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos de ortografia. O que normalmente se comete são transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do discurso, diz: “ninguém deixou ele falar”, não comete exatamente erro; na verdade, transgride (fere) a norma culta.

Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um banquete trajando shorts (na verdade, xortes) ou quanto um banhista, numa praia, vestido de terno. Releva considerar, assim, o momento do discurso, que pode se íntimo, neutro ou solene.

O momento íntimo é o das liberdades da fala. No lar, na fala entre os amigos, parentes, namorados, etc., portanto consideradas perfeitamente normais construções tipo: Eu não vi ela hoje. Eu te amo, sim, mas não abuse!

Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a norma culta, deixando mais livres os interlocutores (os que conversam entre si).

O momento neutro é o do uso da língua padrão, que é a língua da Nação. Como forma de respeito, são base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a norma culta. Assim, aquelas frases anteriores se alteram: Eu não a vi hoje. Eu te amo, sim, mas não abuses!

Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista, etc.) Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgressões da norma culta na escrita e na fala dos jornalistas, quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço à causa do ensino, então o contrário.

O momento solene, acessível a poucos, é o da arte poética, caracterizado por construções de rara beleza.

Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de sê-lo no exato instante em a maioria absoluta o comete, passando, assim, a constituir fato linguístico (registro de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda que não tenha amparo gramatical). Ex.: Olha eu aqui! (substituiu: Olha-me aqui!) Vamos nos reunir (substituiu: Vamo-nos reunir)

Observação: Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário escolar palavras como corrigir e correto, quando nos referimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases da língua popular para a língua culta”. Uma frase correta não é aquela que se contrapõe (é contrária) a uma frase “errada”; é na verdade, uma frase elaborada conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma culta.

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu