Da arte de escolher entre opções não ideais:

Blog também examina como demonização afeta capacidade de julgamento

Por: Felipe Moura Brasil
Closeup of businessman making decision whether to accept or deny a suggestion or employee.
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A falta de domínio verbal com frequência embota o senso de justiça.
Não “defendo” Donald Trump, como tampouco “defendo” Marcelo Crivella, como muitos acusam com o tom desafiador e superior de costume. Na verdade, nem sei o que significa no mundo real “defender” – genericamente, sem qualquer especificidade sobre determinado caso – uma pessoa inteira.
Prefiro Trump a Hillary para presidente dos EUA, como prefiro Crivella a Freixo para prefeito do Rio de Janeiro. Nenhum dos dois jamais foi meu candidato ideal, como comentei desde o início, muito menos concordo com todas as posições de ambos ou aplaudo todos os seus comportamentos; apenas constato que tudo que se diz contra eles, com e sem razão, é muito, muito pouco perto da gravidade do histórico de declarações, atos e ideologias de seus atuais rivais.
Faço, portanto, as devidas ponderações, baseadas em sensos das proporções e de hierarquia, sem os quais nenhuma escolha é possível. E obviamente há momentos em que é preciso escolher, embora seja mais confortável, para muitos no Brasil, maldizer ambas as partes afetando um bom-mocismo redentor.
O que defendo, sempre, é simplesmente a verdade dos fatos sobre quem quer que seja, ao contrário da aparente regra nacional, sobretudo na imprensa, de fazer vista grossa e deixar correrem as mentiras, distorções e confusões de categoria contra figuras públicas demonizadas, tidas como desprezíveis.
É mentira, por exemplo, que Trump ridicularizou a deficiência de um repórter. Eu refutei essa mentira em vídeo. Acontece que mentiras infamantes, quando as pessoas nelas acreditam, têm o efeito de torná-las predispostas a ver o sujeito com maus olhos e a interpretar qualquer fala ou ato seus da pior maneira.
Isto é da psique humana e, quando ocorre na vida íntima, às vezes só boa terapia consegue fazer com que a pessoa seja capaz de rever os fatos novamente sem tal predisposição negativa. Muitas, mesmo informadas de que acreditaram em engodo, são incapazes de rever o ódio que o engodo alimentou.
A demonização política é calculada justamente para criar essa repulsa emocional automática que prescinda de maiores razões objetivas e sobreviva até mesmo às provas cabais de qualquer refutação, de preferência tornando dispensável a própria necessidade de examinar as qualidades da concorrência.
Se ainda surge um fato verdadeiramente desabonador contra o alvo da demonização, como surgiu a gravação de 2005 em que Trump usa termos chulos ao relatar como tentou transar com uma atriz, é natural que a repulsa acumulada, para além da repulsa pontual, irrompa novamente, a despeito do pedido de desculpas e da real dimensão do caso.
Trump não é candidato a marido de ninguém, mas a presidente dos EUA. Um país cujas fronteiras ele promete proteger e cujas liberdades religiosas ele promete preservar.
O que Trump admite ter dito de grosseiro na conversa privada de 11 anos atrás sobre a investida em uma mulher que julgou bonita, já ouvi centenas de vezes de homens linguarudos – ademais honestos e competentes – em mesas de bar, grupos de whatsapp e aquecimento de futebol, sem que isto significasse um contumaz desprezo ou desrespeito no trato das mulheres, que dirá a ponto de inviabilizá-los para qualquer função pública.
Como disse o ator Jon Voight: “Eu não sei de muitos homens que não tenham expressado algum tipo semelhante de termos sexuais em relação às mulheres, especialmente em seus anos mais jovens.”
Seria melhor um candidato sem essa mancha? Claro. Mas, não havendo, é preciso comparar o tamanho e a gravidade das manchas de cada um.
Hillary não é menos apta à presidência por ter descrito como “erupções de periguetes” as denúncias das alegadas vítimas de estupro de seu marido Bill Clinton. É apenas hipócrita por dizê-lo quando a alegação a envolve, uma vez que prega que todas as alegadas vítimas de estupro sejam ouvidas e apoiadas.
É compreensível, claro, que declarações grosseiras de Trump sobre suas aventuras sexuais despertem maior repulsa que as mentiras de Hillary sobre escândalos que colocaram o país em risco (como o do uso de servidor privado e “hackeável” de e-mail com trocas de informações secretas) ou que resultaram na morte de quatro americanos (como o ataque terrorista ao complexo do consulado dos EUA em Bengasi, pelo qual ela falsamente culpou o autor de um vídeo, chegando ao cúmulo de prometer ao pai de um dos mortos, no enterro do filho, que iria pegá-lo).
Para a plateia leiga, sobretudo brasileira, um tema é mais fácil de entender que os outros – e esses outros ainda são minimizados ou omitidos pela grande imprensa, em geral pró-Hillary e anti-Trump.
Enquanto essa imprensa e seus comentaristas promoverem campanhas do medo e estimularem a plateia a disparar rótulos contra adversários políticos em vez de oferecer o quadro completo, continuarei fazendo, a despeito de toda a tragicômica incompreensão, o meu trabalho individual de divulgar as informações faltantes, colocá-las na balança torta do debate público, pesá-las, examiná-las e separá-las em suas diversas categorias.
Meu público, afinal, também é composto de leitores capazes de aceitar, mesmo eventualmente discordando, que há muito mais entre “defender” e “atacar” fulano, concordar 100% ou discordar 100% de beltrano, do que pensam os milhões de peixinhos nadando na maré do aquário cultural esquerdista, crentes de que estão surfando em alto mar.
Felipe Moura Brasil

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