“Você é Fake News”:

Blog explica e comenta a guerra de informação no "Brasil" americano:

I. CNBC: Ações da Time Warner caíram após Trump detonar CNN
As ações do conglomerado de mídia Time Warner, dono da CNN, caíram na quarta-feira (11) logo depois que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse a um repórter da emissora, durante entrevista coletiva, a frase “You are Fake News”, acusando a CNN de espalhar notícias falsas a seu respeito.
A informação foi divulgada no Twitter por dois jornalistas da CNBC, Carl Quintanilla e Steve Kopack.
II. Trump x CNN
Na terça-feira (10), a CNN havia noticiado que agentes de Inteligência americanos apresentaram documentos confidenciais a Trump e Barack Obama com alegações de que a Rússia tem informações comprometedoras sobre o presidente eleito.
Em seguida, o site BuzzFeed, admitindo não ter qualquer evidência de que as informações são verdadeiras, divulgou este mesmo relatório que o resto da imprensa vinha se recusando desde a campanha eleitoral a divulgar justamente por falta de confirmação dos fatos, como reconheceram depois veículos como o New York Times e a Fox News.
No documento atribuído a um espião britânico aposentado, constam as alegações de que a Rússia tem imagens de Trump com prostitutas em um quarto de hotel de Moscou urinando em uma cama que havia sido usada por Obama e sua mulher, Michelle; e que o governo russo usa a posse dessas imagens para chantagear Trump.
Na coletiva, o presidente eleito negou as informações, criticou o vazamento e a divulgação, e atribuiu a oponentes políticos a tentativa de deslegitimar sua vitória nas urnas.
Diante da reação, o correspondente da CNN na Casa Branca, Jim Acosta, argumentou que Trump estava atacando a emissora e pediu insistentemente a palavra, negada pelo presidente eleito.
Assista ao vídeo, legendado pelos Tradutores da Direita:
Trump já havia acusado a CNN de “Fake News” em dezembro, quando a rede insistiu em noticiar que ele “estaria trabalhando em O Aprendiz” durante sua presidência.
Depois da coletiva, o presidente eleito voltou a tirar um sarro, dizendo que ela foi “ótima”, apesar de “um par de organizações de notícias falsas” lá presente.
III. CNN x BuzzFeed
Para se defender, a CNN distinguiu em nota a sua própria notícia e a do BuuzFeed:
“A decisão da CNN de publicar matéria cuidadosamente apurada sobre as operações do nosso governo é vastamente diferente do que a decisão do BuzzFeed de publicar memorandos infundados.”
O âncora Jake Tapper, da CNN, criticou no Twitter os “esforços hoje [quarta] para confundir relatos responsáveis sobre a apresentação da comunidade de Inteligência de um anexo de 2 páginas [o sumário alegadamente levado a conhecimento de Obama e Trump] com a divulgação irresponsável [pelo BuzzFeed] de 35 páginas não corroboradas” do relatório.
Um tuiteiro questionou Tapper:
“Se os memorandos originais não são dignos de notícia, por que o ‘briefing’ sobre a sinopse dos memorandos indignos de notícia de repente são dignos de notícia?”
“O que chefes de Inteligência apresentam aos altos funcionários do governo é digno de notícia, ponto”, respondeu Tapper.
Trump, no entanto, voltou a acusar a CNN de “Fake News” porque “a audiência deles está despencando e a credibilidade logo vai desaparecer”.
IV. CNN x NBC
Na contramão da CNN, a NBC noticiou que, segundo um membro da Inteligência, Trump não havia sido informado sobre as alegações não verificadas de que a Rússia tinha informações comprometedoras a seu respeito, nem lhe fora entregue qualquer documento confidencial – mas Tapper naturalmente alegou que a NBC está errada e o relato correto é o da CNN.
Trump, na linha da NBC, afirmou que nunca foi informado do sumário do dossiê, nem lhe foi entregue qualquer documento.
V. BuzzFeed x Jornalismo
Outra troca de mensagens no Twitter merece uma menção à parte.
“Se você se opõe à decisão do BuzzFeed de publicar, você precisa explicar por que não poderia ser dada aos cidadãos a possibilidade de ler o dossiê”, escreveu Richard Tofel.
A conta Vive Charlie respondeu:
“Pela mesma razão de que não vamos publicar um dossiê contra você contendo alegações não verificadas de que você é um pedófilo.”
VI. Diretor de Inteligência & Trump
O Diretor Nacional de Inteligência, Jake Clapper, divulgou nota oficial, afirmando que expressou “profunda consternação” a Trump sobre o vazamento que ambos concordaram ser danoso à segurança do país.
“Eu enfatizei que este documento não é um produto da Comunidade de Inteligência [IC, na sigla em inglês] dos EUA e que eu não acredito que os vazamentos vieram de dentro da IC”, escreveu Clapper.
“No entanto, parte da nossa obrigação é garantir que decisores políticos sejam munidos com o mais completo quadro de qualquer assunto que possa afetar a segurança nacional”, acrescentou.
Embora o texto não deixe claro se isto significa que Trump havia sido informado na semana passada sobre o dossiê, Tapper, da CNN (não confundir os nomes parecidos), apontou o trecho como indicação de que a reportagem da emissora estava correta.
Trump, por sua vez, carregando na tinta mais que o diretor de Inteligência, afirmou que ele lhe telefonou na noite de quarta para denunciar “o falso e fictício relato que vazou ilegalmente”.
VII. A origem do dossiê
Na quarta (12), o New York Times noticiou como nasceu o dossiê anti-Trump.
Um doador do Partido Republicano ainda não identificado contratou a empresa de pesquisa Fusion GPS, de um ex-jornalista do Wall Street Journal, Glenn Simpson, para fazer um relatório secreto sobre o então candidato presidencial.
Essa empresa delegou a tarefa ao espião inglês Christopher Steele, que já investigou para o FBI o escândalo de corrupção na FIFA.
Steele foi agente secreto do MI6 em Moscou vinte anos atrás e, como não podia, por essa razão, viajar para a Rússia sem ser detectado, teve de contratar mão de obra local para elaborar seu relatório.
Quando Trump venceu as primárias republicanas, o doador anti-Trump desistiu do dossiê, mas o espião inglês continuou a coletar material e entregou uma cópia do relatório ao MI6.
Em dezembro de 2016, John McCain, republicano da ala anti-Trump do partido, também recebeu o dossiê e o encaminhou ao chefe do FBI, James Comey.
O troço circulou então pelos gabinetes de Washington e pelas redações dos jornais até ser publicado pelo BuzzFeed.
Segundo o Telegraph, o ex-espião fugiu de sua casa no Surrey porque teme por sua vida.
Questionado pela CNN, McCain se explicou:
“Eu fiz o que qualquer cidadão devia fazer. Eu recebi informações sensíveis e as entreguei ao FBI”.
Naturalmente, McCain agora é ainda mais criticado pelos defensores de Trump.
VIII. Estrategista da Planned Parenthood atuou no dossiê
A empresa de pesquisa Fusion GPS que contratou o ex-espião britânico é a mesma que foi contratada pela Planned Parenthood para salvar a imagem da multinacional do aborto – tida pelos republicanos como um braço do Partido Democrata – quando estourou o escândalo – denunciado neste blog, mas omitido na imprensa brasileira – dos vídeos que mostravam seus diretores e funcionários negociando a venda de partes de bebês.
Segundo o Dailly Caller, a Fusion GPS esteve envolvida em 2012 em atividades similares ao projeto do dossiê anti-Trump. O Wall Street Journal informou na ocasião que um super PAC democrata contratou a empresa para ir atrás de um bilionário de Idaho chamado Frank VanderSloot após ele ter doado 1 milhão de dólares para um super PAC pró-Mitt Romney, o candidato republicano derrotado por Barack Obama na eleição daquele ano.
O jornal informou que um pesquisador contratado pela Fusion GPS visitou tribunais em Idaho procurando informações negativas sobre VanderSloot e logo histórias negativas sobre ele começaram a circular por Idaho e Washington.
IX. O que este blog pensa disto tudo?
1) Que poderia ser bastante educativo e civilizatório se conglomerados de mídia ou veículos de comunicação, nos EUA e no Brasil, realmente sentissem no bolso as consequências de travestir de jornalismo a propaganda política de esquerda, assim como o megainvestidor e esquerdista fanático George Soros está sentindo a perda de 1 bilhão de dólares, segundo o Wall Street Journal, após a derrota de sua candidata, Hillary.
2) Que, embora tentar emplacar uma pergunta a um político seja mesmo parte do ofício de repórter, Jim Acosta pareceu estar em um debate presidencial ao insistir aos gritos por uma espécie de direito de resposta (à moda Dilma Rousseff) na coletiva de um presidente eleito que defendia a sua honra e a de sua família contra alegações falsamente comprometedoras ventiladas direta ou indiretamente por veículos com um vasto histórico de ataques contra a sua reputação (como no caso da mentira desmontada em vídeo deste blog, mas repetida por Meryl Streep de que zombou da deficiência de um repórter).
3) Que a CNN jamais investigou o passado de Obama, muito menos insistiu em qualquer fato comprovadamente comprometedor contra o seu queridinho, como o de ter sido apadrinhado na política pelo ex-terrorista de extrema esquerda Bill Ayers, sobre o qual escrevi aqui.
4) Que o duplo padrão de tratamento da imprensa em relação a Obama e Trump pode ser medido pela comparação entre a postura de confronto de Acosta e a de seu atual colega de CNN Jeff Zeleny, que fez para Obama talvez a pergunta mais chapa-branca da história das coletivas presidenciais após 100 dias de governo, como mostrou Sean Hannity, na Fox News, a partir dos 5min10seg deste vídeo.
5) Que não pode ser descartada a hipótese de que, em ação coordenada, membros da Inteligência tenham decidido informar a Obama e Trump sobre o dossiê justamente PARA dar à CNN – à qual também eles próprios ou seus colegas repassaram a informação sobre a iniciativa – um pretexto para jogar no ventilador a sua existência, possivelmente também PARA que um site qualquer como o BuzzFeed divulgasse em seguida o conteúdo não verificado, elaborado por estrategistas da Planned Parenthood, braço do Partido Democrata.
6) Que, no entanto, ao menos enquanto nenhuma conspiração for confirmada e a veracidade das alegações sobre Trump ter ou não sido informado sobre o dossiê estiver em disputa, CNN não deve desculpas ao presidente eleito pela decisão de publicar a matéria, nem pela postura de Acosta na coletiva, ainda que ambas – a matéria e a postura – possam e devam ser questionadas e discutidas publicamente do ponto de vista do grau de adequação do comportamento jornalístico, inclusive com eventuais críticas a dois pesos e duas medidas usados no tratamento de políticos de correntes e partidos distintos.
7) Que Trump, apesar de descontar também na CNN a irresponsabilidade no mínimo maior do BuzzFeed, tampouco deve a Acosta uma pergunta e à emissora um pedido de desculpas que dela nunca recebeu por ser demonizado, por exemplo, como um zombador da deficiência alheia, um dos piores rótulos com os quais alguém pode ficar marcado.
8) Que, dito isto, é um marco do velório mundial do jornalismo – e do começo dos 4 anos de pipoca – o momento da coletiva em que Trump nomeou como “Fake News” a emissora que há muitos anos já é chamada nos EUA de “Clinton News Network”.
9) Que é uma pena que Trump não tenha feito o mesmo com as versões tupiniquins da dita-cuja, cujos correspondentes manifestam diariamente no Twitter a militância cega que suas matérias noticiosas não escondem.
10) Que falso dossiê é coisa de petista e é justamente pela urgência de “despetizar” os EUA – “desobamizando” e “desclintonizando” a CIA, o FBI, o Congresso e a imprensa – que era melhor eleger Trump a Hillary.
11) Que os EUA têm um presidente eleito que, mesmo atabalhoadamente, desmascara a imprensa por espalhar notícias falsas a seu respeito, enquanto o Brasil tem um ex-presidente (Lula) que demoniza a imprensa por espalhar notícias verdadeiras sobre ele.
12) Que Obama, aliás, passou 8 anos demonizando a Fox News e radialistas conservadores como Rush Limbaugh, sem que jornalistas da velha mídia americana e brasileira jamais vissem nisto qualquer amostra de comportamento inapropriado ou aversão às nossas liberdades.
Felipe Moura Brasil 

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