TEMPO DE TV: UM PROBLEMA PARA CANDIDATOS COMO O BOLSONARO?

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TEMPO DE TV: UM PROBLEMA PARA CANDIDATOS COMO O BOLSONARO?

Há uma enorme confusão em relação à importância que o tempo de TV terá no primeiro turno da disputa presidencial do ano que vem.

É comum ler ou ouvir, por exemplo, que um candidato como o Bolsonaro não terá como furar o bloqueio da grande mídia dispondo apenas de 15 segundos para se defender, já que acabará apanhando durante os 30 minutos restantes.

O problema com esse argumento é que não haverá nada sequer próximo de 30 minutos de programa eleitoral. Na realidade, mesmo se somássemos o tempo de todos os candidatos não teríamos nem a metade de 30 minutos, já que as regras mudaram (Lei 13.165/2015) e o horário eleitoral obrigatório, que até 2014 era composto por dois blocos de 30 minutos, agora se resumirá a dois blocos de 12 minutos e 30 segundos.

Ademais, com as novas regras, mesmo os partidos e coligações que não possuem representação na Câmara participarão obrigatoriamente da divisão do tempo, o que significa que partidos como o PCO, o PCB e o PSTU, por exemplo, terão direito a uma fração do tempo total  — do qual 10% terão de ser divididos em partes iguais para todos os candidatos e os 90% restante serão distribuídos de acordo com o tamanho da bancada do partido ou da coligação de cada candidato na Câmara dos Deputados.

E quais são as implicações disso? A principal é que o tempo terá de ser dividido entre mais ou menos 15 candidaturas (embora esse número possa, plausivelmente, chegar a 22), fazendo com que qualquer partido (por maior que seja sua bancada) tenha dificuldade para conseguir mais do que 1 minuto e 40 segundos de programa.

Para fins de comparação, o PT, que é o partido com a maior bancada da Câmara, poderia contar apenas com 1 minuto e 35 segundos em uma disputa com apenas 10 candidatos. Mesmo com a maior coligação dentre as possíveis ao PT, o partido teria pouco mais de 2 minutos. E, em uma disputa com 15 ou 20 candidatos, esse número seria menor ainda.

Os 35 partidos também terão direito a 70 minutos diários em inserções, que, após as divisões entre candidatos a outros cargos, serão divididas entre os presidenciáveis na forma de chamadas de 30 segundos ou 1 minuto, a serem transmitidas durante os intervalos da programação normal das emissoras.

No mesmo cenário considerado acima (10 candidatos), o PT teria direito a duas inserções de 30 segundos por dia e partidos menores, como o Patriota do Bolsonaro ou a REDE da Marina Silva, teriam direito a uma inserção de 30 segundos a cada dois dias — all and all, a diferença não será tão considerável assim.

Ao que tudo indica, nenhuma das pessoas que superestimam a variável "Tempo de TV" se deu o trabalho de fazer os cálculos que eu fiz e, por isso mesmo, eu tenho insistido que apego a análises genéricas é fruto de um misto de pseudo-realismo com falta de informação.

Não se deixem enganar. No ano que vem, a importância do tempo de TV será mínima no primeiro turno e, no segundo turno, o tempo de TV será dividido igualmente entre os dois candidatos. Portanto, embora seja aconselhável que os candidatos busquem maximizar esse tempo, não há necessidade de vender a mãe e alma para isso.

O melhor recurso que um candidato como o Bolsonaro poderá usar para furar o bloqueio da grande mídia não está no tempo escasso da propaganda eleitoral obrigatória (quem assiste isso em tempos de Youtube e Netflix além de political junkies como eu?), mas (1) no tempo que os programas de TV terão que dar a ele sempre que entrevistarem os demais candidatos; (2) nos debates; (3) na capacidade de controlar os ciclos de notícias; (4) na internet; e (5) no contato pessoal constante com o eleitorado, algo que não será problema para alguém que está reunindo o apoio de campeões estaduais do voto, uma militância voluntária e um apoio orgânico que tem mais capilaridade do que qualquer partido que domine as velhas práticas da política.


Filipe G. Martins

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