A metalinguística da Comunicação - Porque o uso da linguagem para iludir as pessoas é um despotismo

Eu falava aqui, há poucos dias, a respeito do odor nauseante que exala da imprensa, da mídia em geral, por causa da forma como a linguagem é usada. A língua realmente apodrece quando os lugares-comuns predominam. O que eu não disse, mas afirmo agora, é que o uso exagerado do clichê, do lugar-comum, não revela só que jornalistas e colunistas não sabem escrever. Se fosse apenas isso, a solução seria fácil. O grande problema, a questão mais dramática, escondida sob o clichê, é a manipulação. 

O lugar-comum, e também o jargão, servem perfeitamente a esse trabalho de conduzir o raciocínio do leitor, de viciar nossa forma de entender a realidade, de esconder pormenores que, conhecidos, iluminariam nossa compreensão. Não se trata, portanto, de produzir mentiras cruas, mas de envolver o leitor numa rede de ideias prontas, de conceitos cujo sentido foi transformado pela ideologia. Jornalistas e colunistas, com raras exceções, consideram-se uma casta intelectualmente privilegiada, uma casta de iluminados que sabem o que é melhor para todos nós. 

Essas criaturas não estão preocupadas com a verdade ou com os fatos — mas são impregnadas da certeza de que é necessário controlar a opinião pública. Ou seja, são déspotas. Porque o uso da linguagem para iludir as pessoas é um despotismo. O clichê e o jargão são formas de abuso de autoridade. Não por outro motivo, são recursos utilizados por todos os déspotas — e também por todos os populistas e demagogos, que nada mais são do que candidatos a déspotas. Com essas criaturas não há diálogo — apenas por um motivo: elas não sabem o que é trocar ideias, não desejam dialogar. O diálogo, para elas, é, por princípio, uma degradação, uma forma de submissão ao que nós pensamos. Então só nos restam duas opções, ambas muito amáveis: crítica visceral e desprezo absoluto.

Rodrigo Gurgel

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu