Assim como na poesia:

Evidências, fatos, dados sobre as ações do comuno-sócio-marxi esquerdismo e sua perversidade. Apesar disso há quem negue, semelhante ao poeta com relação ao amigo morto. Leia:

O SANGUE DERRAMADO

Que eu não quero vê-lo!

Digam à lua que venha
que não quero ver o sangue
de Inácio marcando a areia.

Que eu não quero vê-lo!

A lua de par em par.
Cavalo de nuvens quietas
e a praça parda do sonho
com salgueiros nas barreiras.
Que eu não quero vê-lo!
Que o recordar se me queima.

Avisai todo o jasmim
com sua brancura pequena!

Que eu não quero vê-lo!

A vaca do velho mundo
passava sua triste língua
sobre um focinho de sangues
derramados pela arena,
e os touros de Guisando,
quase morte e quase pedra,
mugiram como dois séculos
fartos de pisar a terra.
Não.

Que eu não quero vê-lo!

Pelos degraus sobe Inácio
com sua morte toda às costas.
Ele buscava o amanhecer,
e o amanhecer não era.
Busca seu perfil seguro,
e o sonho o desorienta.
Busca seu formoso corpo
e encontra seu sangue aberto.
Ai não me digam que o veja!
Não quero sentir o jorro
cada vez, com menos força;
esse jorrar que ilumina
o palanque e se desaba
no veludilho e no couro
da multidão tão sedenta.
Quem me grita que me assome?!
Ai não me digam que o veja!

Não se cerraram seus olhos
quando viu os cornos cerca,
porém as mães mais terríveis
levantaram a cabeça.
E pelas ganadarias,
houve um ar de voz secreta
gritando a touros celestes,
maiorais de névoa pálida.

Não houve em Sevilha príncipe
que lhe possa comparar-se,
nem espada como era a sua,
nem coração de verdade.
Como um rio de leões
sua força maravilhosa,
e como um torso de mármore
a desenhada prudência.
Um ar de Roma andaluza
a cabeça lhe dourava
onde o seu riso era um nardo
de sal e de inteligência.
Que grão toureiro na praça!
Que bom serrano na serra!
Que brando era com as espigas!
Que duro com as esporas!
Que terno com o orvalho!
Que deslumbrante na feira!
Que tremendo com as últimas
bandarilhas todas treva!

Porém já dorme sem fim.
Já os musgos maila erva
abrem com dedos seguros
a flor da sua caveira.
E já seu sangue por aí vem cantando:
cantando por marinhas e por prados,
e resvalando pelos cornos hirtos,
vacilando sem alma pela névoa
tropeçando com milhares de patas
como uma longa, obscura e triste língua,
para formar um charco de agonia
junto ao Guadalquivir de altas estrelas.
Ó branco muro de Espanha!
Ó negro touro de pena!
Ó sangue duro de Inácio!
Ó rouxinol de suas veias!
Não.
Que não quero vê-lo!
Que não há cálix que o contenha,
que não há andorinhas que o bebam,
não há de orvalho luz que o esfrie,
nem canto nem dilúvio de açucenas,
não há cristal que o cubra de prata.
Não.
Eu não quero vê-lo!

Garcia Lorca

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