A alta cultura, aquisição obrigatória de todo ser humano:

Aluno: Acessar a alta cultura é a única forma de conhecer a si mesmo? Trocar um coração de pedra por um coração de carne?
Olavo (de Carvalho): Não, existem outros meios que estão à disposição de Deus. Deus pode fazer isso com você a qualquer instante, tão logo Ele queira. Mas nós só podemos esse. E se você recusa esse, comete pecado contra o Espírito Santo. Se você não quer adquirir a alta cultura porque se julga uma pessoa simples e sem essas ambições etc. quer dizer que, para você, Deus tem a obrigação de fazê-lo por você, sem que você faça o esforço correspondente. Você supõe que Deus tem um contrato de exclusividade com você e é obrigado a fazer o que você quiser. Se recusa esse tipo de aprendizado, você mesmo fecha a porta. A alta cultura não é um elemento externo que se acrescente à condição humana, ela é a própria condição humana. A linguagem, a capacidade de você participar de círculos cada vez mais amplos de diálogo, de intercâmbio: eis a natureza do ser humano. Por que você acha que esses estudos em outras épocas se chamavam Humanidades? Porque isso é próprio do ser humano. E sem isso não pense que vai chegar a alguma coisa maior, porque não vai. Existem outras possibilidades? São infinitas. Você pode, por exemplo, pedir a Deus que o faça por você. Mas Deus nunca faz por você o que Ele pediu para você fazer por si próprio: se foi Ele quem pediu para você fazer, não é Ele quem tem de fazer, mas você. Ou seja, a aquisição de alta cultura é obrigação de todo ser humano. Só deixa de ser obrigação quando há um impedimento objetivo. Por exemplo, se você está num meio social onde isso simplesmente não existe, você não tem acesso e não dá para saber, vai ficar abaixo do nível; mas você não tem culpa disso. Mas se você tem os meios e não quer adquirir alta cultura, então é claro que você é culpado, porque não quer conhecer os assuntos dos quais você fala. O sujeito que diz que não quer adquirir alta cultura está dizendo exatamente isso! Mas um sujeito que não quer ter alta cultura, será que abdica de ter opinião sobre qualquer coisa? Só trabalha e fica quieto? Não, ele quer ter o direito de ter sua opinião e quer, ao mesmo tempo, que os outros a ouçam. Eu penso que o direito à livre opinião é correspondente ao direito de não ouvi-la. Todo mundo tem o direito de virar as costas e ir embora. Mas a maior parte das pessoas que querem ter direito à opinião não pensa assim: pensam que têm direito à opinião e que, portanto, a platéia universal tem obrigação de sentar e escutá-las, ainda que não tenham pensado no assunto nem por dois minutos; ainda que tenham acabado de inventar uma idéia, todos têm de sentar e ouvi-las. Mas por quê? Querer ter suas próprias opiniões sem ter as obrigações da alta cultura é o mesmo que querer ter o direito de opinar sobre algo que não conhece como se o conhecesse, e ainda assim contar, como um sábio, com a atenção dos outros. Qualquer sujeito que pensa assim merece um tapa na cara, não mais do que isso. Não existe um padrão de normalidade, de sanidade, de moralidade humana ao qual a alta cultura venha a se acrescentar como um enfeite, não existe isso. Sem a alta cultura não há nada disso! Charles de Gaulle dizia que a identidade nacional consiste em três coisas: língua, religião e alta cultura; mas essas três coisas são a mesma, pois a alta cultura é o domínio da língua. Há quem pense que o domínio da língua se adquire estudando a língua, a gramática, fazendo exercícios, mas isso é apenas o domínio das regras esquemáticas da língua. A língua verdadeira é a que está depositada nas grandes obras e é lendo essas obras que se adquire o domínio da língua e não estudando gramática. A gramática é um estudo secundário feito em cima disso. O domínio da língua é a própria alta cultura. E a alta cultura é o que lhe permite, através do diálogo com os grandes espíritos de todas as épocas, chegar um dia a conceber o que é conversar com Deus. Então, língua, religião e alta cultura são a mesma coisa."

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Fonte - Contra os Acadêmicos

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