Claudia Wild - Brasil, o país do carnaval e da pantomima:

Mal tínhamos nos recuperado da sessão de gala, no pomposo Supremo Tribunal Federal, em que vaidosos magistrados julgavam com ares de descoberta da roda aquilo que já havido sido julgado há tempos: a manutenção do entendimento sobre a prisão em segunda instância e fomos surpreendidos com o capítulo seguinte; o processo circense da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Brasil estava ainda de ressaca, sentindo muitas náuseas - tamanha a indignação em ver os pavões da alta magistratura nacional com seus intermináveis votos para algo que não deveria mais causar engulhos ao povo brasileiro.

Lá fomos nós para o segundo ato da nossa interminável pantomima: literalmente, armaram um picadeiro na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, antigo QG do nosso condenado presidente que fora chamado compulsoriamente pelo juiz Sérgio Moro para uma temporada na República de Curitiba.

O ato farsesco teve direito a tudo: comédia, dramalhão, rega-bofe, romance policial, bebedeira, simulacro de ato religioso, discurso regado com muitas pérolas sexagenárias vindas diretamente da desenvolvida Cuba e da democrática ex-URSS, incitação ao crime, lágrimas e uma plateia que tentavam fazer parecer gigante. Mas que na verdade era minguada, composta apenas por pelegos profissionais, mortadeleiros, apreciadores do churrasquinho nosso de cada dia e da nossa amada bebida nacional, a cerveja. Lá, os participantes do espetáculo passaram a beber o morto e o morto bebia junto. O teatro dos horrores durou dezenas de horas. Uma vigília interminável em torno de um presunto político que mostrava seu corpo possuído por uma espécie de nauseabundo demônio falastrão. A entidade fazia questão de agarrar-se aos presentes e com eles celebrar uma espécie de transubstanciação - tornando-se uma “ideia” - conforme bradava o político morto possuído.

Apesar do apelo midiático, a tal ideia de jerico não vingou! A pantomima circense não prosperou por falta de quórum, pois apenas era sustentava pelos zumbis escalados e pelos rotineiros holofotes companheiros. Estes, vindos da mídia camarada, do jornalismo “imparcial” feito pelos descolados revolucionários do eixo Leblon-Paris-Nova Iorque. Nossos viúvos ideológicos do morto que insistia em não partir - que em tom de luto e reverência ao cadáver político ali presente -, prolongavam o deprimente sofrimento dos brasileiros de bem. O espetáculo burlesco tentava substituir um feito absolutamente normal em países civilizados - que é o cumprimento de uma ordem de prisão após a condenação de um réu - em um ato de resistência contra a opressão estatal da elite capitalista, aquela que "julgou e condenou um líder sem provas".

Estávamos a caminho da lenta recuperação dos males causados pelos dois espetáculos mambembes acima descritos. Achávamos que os mesmos fariam parte do passado e que respiraríamos aliviados. Mas não é que nos deparamos com um novo capítulo? __ O cortejo fúnebre acompanhando o morto político até a República de Curitiba. Local onde uma turba alucinada roga pela “libertação de Lula - o preso político”. Incômodo generalizado no entorno, reclamação dos moradores e servidores da Polícia Federal e lá está nossa brava e solidária claque, que segundo reportagens e áudios divulgados - “nem sabe o que lá faz” . Mas a palavra de ordem é resistir! Mais uma vez, a pantomima precisou ser levada às barras dos tribunais para afastar a última legião de desocupados que insiste em não deixar Lula descansar merecidamente em sua cela.

Em ato pantomímico praticamente sincronizado, o instituto de pesquisa mais desmoralizado do país, o Datafolha, publica uma pesquisa em que nosso decadente barítono afônico da ópera etílico-bufa segue incólume. Líder absoluto das intenções de voto na vindoura eleição presidencial. Não satisfeitos com este enredo trágico, adicionaram mais dois participantes "de peso” que até então ninguém nem lembrava de suas existências; a quadrienal ecológica petista - Marina Silva e o socialista aposentado - Joaquim Barbosa. O frenesi tomou conta do espetáculo! A imprensa não perdeu tempo e começou a conferir seriedade àquela pesquisa onde nossos revolucionários juntamente com o chefe político preso, poderiam salvar o país e “renovariam” o cenário nacional. A pantomima, antes como uma ópera bufa, deu lugar ao circo de horrores que se instalou no país.

Algumas centenas de quilômetros de distância do local dos espetáculos aqui mencionados, nossa pantomina agora transferiu-se para a matriz dos picadeiros, em Brasília. Lá, nossa supimpa e aparelhada justiça disparou mais dois atos: a família Bolsonaro foi duplamente denunciada pela Procuradoria Geral da República. O pai, por racismo, após ter dito em tom jocoso que um quilombola pesava “ mais de sete arrobas” e o filho, por ameaça, em um processo pra lá de duvidoso.

Enfim, são tantas as pantomimas que nos perguntamos: qual será a próxima?

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