Pretendo lançar, se tudo der certo, análises da situação semanais, para que os meus seguidores possam informar-se acerca do cenário político nacional até o fim do segundo turno (caso haja um).
Geralmente faço isto nas redes sociais, mas dada a importância do evento e a necessidade de analistas que levem o assunto a sério, com frieza e sem militância, coloco-me a disposição para esta tarefa (que gosto muito).
Leitura da conjuntura atual
Nestas eleições teremos uma variedade maior que as anteriores, pela primeira vez em muito tempo teremos um candidato conservador, dois liberais, alguns social democratas e outros assumidamente comunistas.
Liberais
Afirmar que Flavio Rocha e Amoedo estão prontos para o combate eleitoral, é a substituição da ciência política pelo exercício da militância.
Flavio é péssimo orador e Amoedo recusa-se ao combate. O combate por sua vez é a essência da verve política, é o fervente exercício dialético em disputa bélica verbal que suscita paixões de diversas naturezas: não adianta, é estupidez negá-lo, o debate virá querendo ou não.
Schopenhauer quando abordou a dialética erística deixou claro: “quem decide o vencedor de um debate é o público e não o argumento superior“, o público por sua vez, no caso do Brasil é uma massa de mais de 80% de analfabetos funcionais e uma parcela de semi-analfabetos mesmo, o que significa que o termômetro do debate eleitoral no país é a emoção do público e não a qualidade das propostas.
Flavio Rocha e Amoedo tem até uma boa base daquilo que falam, sabem defender seus pontos pacificamente, mas pecam demais em oratória, principalmente Flavio Rocha que treme e se apresenta inseguro.
Para ambos eu recomendo sem medo de errar o curso “Extreme Speakers” do professor Ricardo Ventura, que já treinou os melhores oradores do país e os pode preparar para um melhor desempenho. Não para a vitória, pois não possuem capital eleitoral, mas para crescer e não servirem apenas de palanque para outros mais preparados e acostumados com a batalha verbal. Se entrarem desta forma serão massacrados e se transformarão numa indústria de memes com alta produtividade.
Conservadores
Bolsonaro tem o apoio popular, está com a faca e o queijo na mão: o maior capital eleitoral é sem dúvidas o do capitão. A dúvida que existe é se ele está preparado para o embate verbal, ou ele está escondendo o jogo ou não está pronto para o confronto mesmo. Esta dúvida será sanada apenas após a Copa do Mundo, que deve datar o início da corrida.
Seu julgamento no caso Maria do Rosário não será em agosto e portanto tudo me leva a crer que sua carreira segue intacta até o pleito.
Segundo todas as pesquisas e o termômetro das massas, o segundo turno até o presente está assegurado. Jair toca nas questões fundamentais que o povo preza hoje: segurança pública (que está um caos completo) e política transparente que se manifesta por sua honestidade (não há qualquer queixa de corrupção contra ele).
O caso Maria do Rosário tornou-se apenas uma queixa oportuna da esquerda sem apoio popular geral. Há apenas choramingos da militância e ativismo que acreditam ser a voz do povo, mas que não saem de dentro da bolha ideológica para sentir o real sentimento popular, em outras palavras o caso é irrelevante para a corrida presidencial.
Comunistas
O apoio manifesto de Lula será um elemento fundamental, mesmo preso, para qualquer candidato que deseje o segundo turno com Bolsonaro.
A esquerda deve apresentar algum candidato de peso, não acredito que insignificantes (desconhecidos ou sem quórum) como Boulos serão indicações de Lula ou representantes oficiais da esquerda. Jaques Wagner se enrolou com a justiça e está fora da corrida, Joaquim Barbosa pode causar uma contradição extraordinária e implodir a militância, por isso não deve ter apoio de Lula e embora defenda a as mesmas posições é mais provável que se alie aos social democratas.
Ciro Gomes é o candidato da autofagia, costuma destruir-se sem precisar de ajuda e desta vez tem se comportado diferente, é possível que seja o nome da vez e que receba apoio de Lula caso não haja outro nome.
José Dirceu deixou claro que Ciro foi o único candidato do Foro de São Paulo que ainda não foi presidente na América Latina, todos os demais já foram.
O novo nome permanece incógnito, mas minha aposta no momento pela esquerda é Ciro.
Ciro deverá contar com o apoio internacional da China (e portanto obviamente do partido comunista), além do que é o melhor orador entre os candidatos, ninguém subestime sua capacidade de articular ideias e ainda sua postura mais linha dura vai de encontro com a postura de Bolsonaro, sugere seriedade e compromisso, transmite um certo respeito que conta muitos pontos num debate.
Me parece inclusive que os melhores debates desta eleição terão Ciro como figura central.
Social democratas
Alckimin é sem dúvidas a bola da vez dos social democratas, mas perdeu o quórum no maior colégio eleitoral do país (São Paulo) para o Bolsonaro e dificilmente se recuperará, provavelmente apostará no apoio dos caciques do PSDB, em Doria e nas alianças que se fortaleceram na bancada majoritária do Congresso (sim, o PSDB tem hoje a maior bancada e isto significa alianças que se convertem em maior tempo na TV).
A propaganda tucana promete ser a mais intensa na mídia durante a corrida. Na internet por outro lado a decisão do Ministro Luiz Fux de caça às bruxas contra as fake news enfraquecerá os inúmeros blogs e sites a serviço da publicidade eleitoral e isto vale para todos.
O nome que ninguém está contando é Temer, que deve cedo ou tarde declarar-se candidato e partir para a briga.
Diferente dos anteriores, Temer é um bom estrategista, paciente e articulado, orador a altura de Ciro Gomes e conhecedor do funcionarismo público, e ainda carrega no histórico a intervenção no RJ, que o PSDB terá que se calar, pois Alckimin falhou na segurança pública em São Paulo.
Todos estão apostando num segundo turno entre Bolsonaro e Alckmin ou Bolsonaro e Ciro, eu acredito que também deve ser considerado Bolsonaro e Temer.
Temer é melhor orador que Alckimin e seu tempo de TV deverá ser substancial, além do que é da UNASUL o que significa uma forte aliança de bastidores com as duas esquerdas, tanto a comunista quanto a social democrata.
Nanicos
Marina Silva terá o voto das árvores e samambaias, ela conseguiu perder o apoio dos evangélicos e dos comunistas. Boulos não tem quórum. Joaquim Barbosa deve ganhar algum apoio popular e surfar na onda de Sergio Moro. Este pessoal e os demais que não cheguei a citar, por hora não valem o esforço mental.
Conclusão
As esquerdas (social democratas e comunistas) terão chance com Ciro, Alckimin e Temer, dos quais a maior aposta é Ciro e tudo pode mudar com qualquer declaração de apoio de Lula, mesmo preso.
As direitas (liberais e conservadores) com Bolsonaro apenas.
Tratando-se de política, tudo pode mudar do dia para a noite, em questão de horas ou até em de minutos, o que significa que este quadro com certeza não é definitivo.
A única coisa que se tem de certeza sólida para este ano é que os debates serão elementos decisivos.
Se o intervalo de meus trabalhos permitir soltarei uma leitura semanal.
Minha leitura da situação, pós prisão do Lula, na conjuntura atual é esta.
Do https://ricardoroveran.com/2018/04/11/conjuntura-bolsonaro-amoedo-flavio-rocha-ciro-gomes-lula-e-temer/
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