Ricardo Roveran - Conjuntura: Lula, Amoedo, Bolsonaro, Alckimin, STF, Sergio Moro:

Haja coração! Esta semana a coisa bombou no mundo da política: certezas se tornaram dúvidas, dúvidas se tornaram possibilidades e possibilidades se tornaram certezas. O cenário da última análise de conjuntura simplesmente sofreu um terremoto.
E vamos aos fatos!
Marco Aurelio Mello luta para livrar Lula da prisão (Carta Capital)
Candidatura Lula (O Antagonista, Estadão)
Chance de Lula ser solto (G1)
Moro fora do caso de Atibaia (TV 247, Veja)
Bolsonaro critica modus operandi Temer na intervenção do RJ (Direto de Brasília)
Amoedo se enrola com feminismo (Twitter do candidato)
Joaquim Barbosa votou Dilma (Pragmatismo Político)
Luis Fux afirma que “fake news” podem invalidar eleições (BR18)
Celso de Mello arquiva queixa de Jean Wyllys contra Bolsonaro (Jota)
50 mil presos serão libertados (Extra)
STF, TSE e possível candidatura de Lula (Estado de Minas)
Defesa Civil fecha acordo com Cuba (Defesa Civil – Niterói)
STF contra Moro (Estadão)
Tiroteio em Curitiba (Estado de Minas)
O poder da delação de Palocci (Os Pingos nos Is)
Possível delação de Renato Duque (Os Pingos nos Is)
Azeredo e Aécio complicam Alckmin (O Globo)
Mais denúncias contra Lula e o PT na Lava Jato (UOL)
Flávio Rocha e a Lava Jato (Folha de São Paulo)
Bolsonaro rejeita o uso do Fundo Eleitoral (Estadão)
Joaquim Barbosa pode ser candidato pelo PT (Época)
Ciro Gomes e o PT (Estadão, Carta Capital)
Bolsonaro conquista o agronegócio (Folha de São Paulo)
Geraldo Alckmin descarta pesquisas (Folha de São Paulo)
Marina Silva perde espaço político (UOL)
Bolsonaro amplia eleitorado com evangélicos (Estadão)
Ciro Gomes ficha limpa (IstoÉ)
Joaquim Barbosa a favor e contra o mercado (Brasil 247, Infomoney)
Mais denúncias contra Temer (Folha de São Paulo)
Leitura da conjuntura atual
É provável que apenas 1 segundo após esta publicação o cenário inteiro mude novamente. A política nacional está mais efervescente que aspirina em dia de ressaca. A esquerda debate-se como um peixe fora d’água, a direita ilude-se com discursos e os neutros correm como quem desperta no meio de um apocalipse zumbi.

Vamos então, dar uma olhada no cenário para saber primeiro onde e como estamos, para só depois dizer para onde vamos.
Liberais

Alguém deveria tirar o Twitter do Amoedo. É sério. Ou se não é dele, chutar o estagiário que ali responde. Este pessoal está de brincadeira? Usar termos da esquerda? Empoderamento? Isso é pedir para apanhar dos concorrentes. Alguém se lembra daquela moda dos anos 80, quando colavam uma folha de caderno nas costas do nerd da escola com os dizeres “me chute! por favor!” e os colegas atendiam, dando-lhes bicos na bunda pelos corredores do colégio? Pois é, é o que o Novo está fazendo com seu candidato. Apesar de Amoedo ter apenas 1% das intenções de voto e não estar de fato no páreo, este tipo de coisa é um aprendizado muito tardio. Espero que após o episódio do “empoderamento” eles tenham aprendido a lição. Ainda o mesmo candidato que costuma fugir do combate, deve ter aprendido ou pelo menos evoluído com esta: política é isto, é boxe, é UFC e fim de papo.

Flávio Rocha anda meio sumido e no fim pode não ser uma má ideia, o candidato apoiado pelo MBL tem gaguejado face aos jornalistas durante as entrevistas, ele não domina determinados assuntos. Acredito que seja um bom candidato para o futuro, mas para esta eleição ainda não. Eu mesmo, apesar de não ser seu eleitor, não o vejo com maus olhos, pelo contrário, quanto mais diversidade desta natureza ocupar a corrida, melhor é para o país e para a democracia. Tal pleito no entanto, exige um preparo sobretudo de oratória, que não é o forte de Rocha.

A Folha de São Paulo publicou uma matéria na qual Rocha teria doado meio milhão para candidatos do MDB e teria um pé no partido de Temer, o problema é que a matéria é ambígua e não deixa claro a natureza destas doações, se jurídica ou física e ainda afirma que há processos no Ministério do Trabalho, sem também discernir para o leitor se tratam-se de denúncias de funcionários contra a empresa (o que é normal em qualquer empresa) ou se tratam processos contra a pessoa do candidato. Nada grave na verdade, primeiro porque ele não tem eleitores suficientes que justifique um combate acirrado contra ele e segundo porque não ficou claro se tais “denúncias” fazem qualquer sentido. Se as denúncias forem puro sensacionalismo, podem ser algo até bom para o candidato, que pode respondê-las desmentindo o jornal e ainda dizer-se perseguido, o que neste caso seria verdade.

Eu não sou liberal, mas torço para que os liberais conquistem também seu espaço.
Conservadores
Na linha de frente da direita o centroavante é o capitão Bolsonaro. Esta semana o candidato meteu dois gols, entrou com bola e tudo para delírio da platéia. Primeiro rejeitou o Fundo Eleitoral mantendo-se fiel à sua proposta de derrubar tal fundo e ainda reuniu-se com membros do PSL para um diálogo, solicitando que se possível também o rejeitassem. Segundo, foi chamado de “mito” no Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) em Ribeirão Preto pelos agronegociantes, isto por si só é importante: o apoio do mercado que solidifica o eleitorado. Este tipo de fenômeno no Agrishow não é o tradicional grito de guerra dos eleitores em redes sociais, mas o empreendedor, o empregador, o apoiando; é no final das contas o emprego querendo empregar num país de desempregados vivendo da informalidade.

A campanha pela via dos evangélicos também está crescendo, conquistar o apoio do pastor Claudio Duarte que é muito influente inclusive, foi outro golaço de primeira.

Outro ponto importantíssimo foi a postura do candidato na entrevista concedida ao Direto de Brasília: ao ser questionado sobre a intervenção no RJ, Bolsonaro conseguiu satisfatoriamente livrar-se da sombra de Temer e expor a sacanagem comum no país dos políticos, lembrarem-se do povo exclusivamente na véspera de eleição, sobretudo na questão de segurança pública. Foi com bola e tudo.

Por fim, de repente, um ministro da segunda turma, lulista até o último fio de cabelo, Celso de Mello simplesmente arquivou o processo de Jean Wyllys contra o capitão, segundo o ministro nada pode ser feito devido a imunidade parlamentar. Um processo a menos faz bem.

Como nem tudo são flores, a esquerda está atribuindo diversas picuinhas ao capitão: parece que deram tiros em Curitiba em direção aos petistas no acampamento pró-Lula, e o site comunista Brasil 247 noticiou como “Responsabilidade do Bolsonaro, da Rede Globo e Carmen Lúcia“, em seguida houve a triste notícia esta semana de um prédio que caiu no centro de São Paulo deixando mortos e feridos, a esquerda também aproveitou a tragédia para atacar Jair. De real possibilidade de ferir seu capital eleitoral no entanto, nada mesmo.

Social Democratas
Pelo lado da esquerda heterodoxa, circulou muito nas redes sociais uma notícia antiga de Joaquim Barbosa na qual afirma ter votado em Dilma e não se arrepender. É munição para os adversários e um posicionamento claro à esquerda do ex-ministro, para que nenhum direitista ou neutro acredite em sua posição, surfando na onda da Lava Jato. Barbosa deve em breve ser derrubado da prancha de Sérgio Moro, tal imagem não se sustentará por muito tempo.

Joaquim Barbosa no entanto, apesar de ter um quórum substancial ainda não confirmou a candidatura, é por hora apenas especulação apesar de tudo.

Falando em especulação, Barbosa não é paquerado só pelo PSB, mas também pelo PT. Segundo Jaques Wagner o ex-Batman do Supremo é do interesse do Partido dos Trabalhadores que deve abrir diálogo em breve. Alguém já pensou na situação ridícula e sem precedentes? Pois, é o hospício chamado Brasil permanece em funcionamento e sem psiquiatras.

Há uma confusão pairando sobre o nome de Joaquim: sua posição em relação ao mercado, por um lado o Brasil 247 noticiou que ele é “contra posições ultra-liberais” (seja lá o que isso possa significar!), por outro o Infomoney afirmou que o ex-STF recebeu convites para falar em embaixadas, corretoras e universidades, e que ele defende privatizações e livre concorrência. Afinal, quem é Barbosa em termos de mercado?! O que ele realmente pensa?! Isto precisa ser esclarecido.

Temer se enrolou mais esta semana com outra denúncia, desta vez envolvendo sua filha. Segundo um colega advogado, as denúncias anteriores não vão dar em nada pois não foram bem elaboradas apesar de seu potencial. Eu acredito que nesta época, o mero fato de haverem denúncias, tantas e seguidas, representam pontos negativos contra um possível concorrente ao pleito pelo MDB. De onde eu vejo, as chances deste ser carta fora do baralho são maiores do que as dele concorrer à presidência.

Alckmin perdeu o segundo maior colégio eleitoral do país, segundo o Estadão. O comportamento do PSDB de proteger seus candidatos não agradou o público mineiro e com o tropeço chamado Azeredo (que é azar até no nome) sua situação ficou ainda pior. O tucano já havia perdido o primeiro maior colégio eleitoral do país para Bolsonaro, agora foi o segundo. Sua situação não está fácil.

Segundo o Ibope o tucano teria entre 12% e 15% das intenções de voto em São Paulo, atrás de Lula e Bolsonaro, mas para ele tais dados não representam valor político. Nisto, o Chuchu tem razão, de fato tudo pode mudar.

Comunistas
É aqui que a coisa pega. O arranca rabo desta semana foi o jogo de xadrez da história do país que merecia um livo inclusive. A segunda turma do STF manobrou bonito para tirar Lula da cadeia. Foi por pouco, do nada surgiu uma nova delação de Palocci que não só promete complicar mais a vida do ex-presidente, como arrolar Dilma e Gleisi Hoffmann. A cacetada foi feia na esquerda que tentava tirar de Moro trechos do processo. Não contente com a situação da nova delação, surgiu outra do Renato Duque que promete terminar de fritar os marxistas num caldeirão da Idade Média. Mas calma! A segunda turma do Supremo, petista até o último trago também prepara novas manobras que devem surgir esta semana.

Lula solto? É possível. Lula candidato? Extremamente difícil.

Tais acontecimentos tiraram Luiz Inácio da posição de mártir da lavagem de dinheiro, da corrupção passiva e da ocultação de patrimônio, para a posição de bandido político comum, isto é, para o povo. A agenda da resistência em Curitiba já está enjoativa e ninguém aguenta mais ouvir falar disto, o povo e até a mídia mainstream já abandonaram o assunto, deixando apenas para a militância ativista mais fanática.

O país esta semana girou apenas sobre notícias acerca desta prisão, teve até gente dizendo que é falta de sexo, no que eu concordo: para um povo que gritou “Lula na cadeia!“, realmente vê-lo na cadeia é um orgasmo.

Marina Silva perde espaço continuamente. Primeiro errou ao atacar Bolsonaro confrontando a maior parte do eleitorado quando seu dever era conquistá-lo, não afrontá-lo. Foi burrice pura e simples. Em seguida perdeu espaço político importante, as coligações perderam a fé nela e isto poderá afetar seu tempo de TV. É cedo ainda para dizer, mas por hora ela decresce.

Ciro Gomes teve uma semana muito tímida na mídia: se apresentou como “candidato ficha limpa“, mas deixou no ar sua posição em relação ao PT, ora contra, ora a favor. Não está claro ainda sua real posição. Primeiro disse ao Estadão que o projeto do PT não era dele, distanciando-se, depois tentou visitar Lula na prisão deixando nas entrelinhas uma possível indicação do ex-presidente, aproximando-se desta vez. Embora o candidato tenha agido corretamente, em direção aos anseios populares declarando-se ficha limpa, ao cair na tentação do apoio de Lula tornou-se contraditório. É como declarar-se honesto e em seguida receber apoio de Fernandinho Beira-Mar. Enfim, autofágico.

A vida da esquerda não está boa e deve piorar.

Nanicos e surpresas
Boulos teve sua imagem muito complicada pelo desabamento em São Paulo, embora o MTST aparentemente nada tenha a ver com os inquilinos (sim, inquilinos! os invasores pagavam aluguel!), o fato do psolista ser o defensor desta bandeira estranha das invasões em nada contribui com qualquer campanha atual.

Manuela d’Ávilla está comportando-se como quem sabe que não ganhará e fazendo ouvir sua voz. Para hoje não, mas para o futuro pode ser uma candidata forte pela esquerda. D’Ávilla não comete as falhas de Dilma e é combativa. Atentem para isto.

Meirelles, Nunes, Maia e demais, eu me recuso a comentar por hora, não vale o esforço.
Conclusão
A vida política do Brasil nesta semana pôde ser resumida em um crescimento sutil da direita e uma luta da esquerda que prometia grandes resultados, mas cujos tiros saíram pela culatra e a derrota foi maior que se podia imaginar.

O Ministro Fux deu uma importante declaração acerca das fake news, que deve abranger da mídia mainstream até as mensagens de SMS nas vésperas de eleição, passando pelos pequenos blogs e sites. Não sei ao certo o que o Fux tem em mente, mas a proposta é a princípio boa. Veremos o que nos aguarda nos próximos capítulos.

Lembrando que em política, tudo pode mudar em questão de minutos.

Abraços e até a próxima!

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