Na fase de preparação para a Copa do Mundo de 2014, Felipão, então técnico da seleção brasileira, gritou a seguinte frase aos defensores no treino, após uma cobrança de escanteio que ele mandou repetir em razão da falha de posicionamento do time: “Não adianta ter dez marcando, se não souber marcar.”
Naquele dia 2 de junho, eu destaquei no Facebook essa frase, chamei a atenção para o velho problema de marcação do Brasil e acrescentei: “veremos se ele corrigirá a tempo”.
[https://abrilveja.files.wordpress.com/…/captura-de-tela-201…]
Não corrigiu.
Mais de um mês depois, no famigerado 7 a 1 da Alemanha, o primeiro gol, aquele que desnorteou os jogadores, veio justamente de cobrança de escanteio após a qual Müller, desmarcado na área, entre 9 brasileiros, escorou sozinho de chapa para o fundo da rede.
[https://veja.abril.com.br/…/nao-galvao-nao-e-8220-uma-part…/]
Quatro anos se passaram daquele vexame e a seleção brasileira não aprendeu a lição, como evidenciou o gol de empate da Suíça na estreia na Copa da Rússia neste domingo.
A imagem da jogada mostra Zuber cabeceando livre na pequena área, entre 8 brasileiros, inclusive o goleiro Alisson, estático. Assim como David Luiz deixou Müller passar pelas suas costas em 2014, Miranda tomou bola nas costas para o gol de Zuber, que havia passado pelos demais brasileiros sem que ninguém o acompanhasse na marcação.
Parafraseando Felipão: não adianta ter oito na área, se não souber marcar.
O empurrãozinho de Zuber em Miranda, que também buscava conter o jogador suíço com o braço esquerdo para trás, não exime o zagueiro de culpa por estar à frente, sujeito a ficar vendido no lance, com ou sem um empurrãozinho que pode ser, e nesse caso foi, interpretado pelo árbitro como natural da disputa na área. Não se deve contar com o juiz. Marcação em cruzamento exige responsabilidade de acompanhar ombro a ombro o atacante, com firmeza, em vez de deixar para o coleguinha ou ficar olhando a bola.
O golaço de Philippe Coutinho de fora da área no primeiro tempo foi apenas um sintoma de que o Brasil tampouco conseguiu furar a retranca da Suíça, assim como a Argentina, a da Islândia, em outro empate em 1 a 1. Furar retranca exige inteligência, paciência e precisão nas triangulações, o que Neymar, William e Gabriel Jesus, como Messi, Di María e Agüero, não tiveram. Os brasileiros, como os argentinos, ainda esperam demais que o gol saia em jogada individual, em vez de serem mais voluntariosos para as jogadas coletivas de ataque.
A propósito de jogadas individuais, convém registrar o óbvio: só há mérito em sofrer faltas, de preferência na entrada da área, se o adversário for expulso ou alguém for capaz de fazer gols de falta. Caso contrário, o melhor é aprender a fugir das faltas – tocando a bola, por exemplo –, em vez de cair e posar de vítima caçada em campo. Neste jogo, pelo menos, Neymar só caiu e errou cobranças. De nada adianta.
Em resumo: o Brasil preferiu segurar o placar magro de 1 a 0 no primeiro tempo em vez de pressionar e tomou o gol em falha de posicionamento da defesa, que Tite terá de corrigir, em vez de culpar árbitros de campo e de vídeo, ou a tensão da estreia.
Não precisamos de revoluções na seleção, nem no futebol, muito menos no país.
O Brasil só precisa aprender as lições deixadas pelos seus fracassos.
(Felipe Moura Brasil, para a Jovem Pan, 18 de junho de 2018)
* Ouça a versão em áudio: https://www.youtube.com/watch?v=UOaTg4YdO7k.
* Link no site da Pan: https://jovempan.uol.com.br/…/quatro-anos-depois-e-a-seleca…
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