Rodrigo Gurgel - Redes Sociais e a sanha de opinar sobre tudo:

As redes sociais são um convite permanente a falar sobre tudo. Não se trata apenas do “domínio da vulgaridade intelectual sobre a vida pública”, que Ortega y Gasset denunciou, mas de existirem, de forma crescente, os meios práticos para se falar a respeito de tudo. Falar, inclusive, sem “interesse em se ajustar à verdade”, recordando outra observação de Gasset, problema a respeito do qual ele concluiu: “(…) Se não tem interesse em se ajustar à verdade, se não tem vontade de ser verídico, é intelectualmente um bárbaro”.

Percebam que não se trata de uma questão de tom. Juízos críticos são, inevitavelmente, em alguma medida desrespeitosos, ainda que o emissor utilize ironias delicadas. Aliás, sob o peso de um relativismo crescente, a opinião, desde que fundamentada, precisa expressar vigor, obstinação, julgamentos — é o estilo dos que recusam a conciliação imoderada, a tolerância excessiva.

Quando critico o hábito disseminado de “falar a respeito de tudo”, refiro-me aos que falam sem conhecer os próprios limites intelectuais. Aliás, obedecem a uma regra infalível: quanto menos sabem, mais opiniáticos são. Expõem, assim, com destemor inacreditável, sua própria insuficiência de conhecimentos — às vezes, até mesmo aquela ignorância que não é, nunca foi fruto da ingenuidade.

Não questiono o imenso benefício que a Internet nos trouxe. Sou, vocês sabem, entusiasmado utilizador das redes sociais. Mas seria bom que, ao opinar, tivéssemos o cuidado de conhecer nossos limites. No mínimo, servirá para ocultar o quanto somos, em infinitas coisas, ignorantes.

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