Filipe Martins - Trocando a honestidade intelectual pela "isenção":

Em 2018, vocês verão (como já devem ter visto) muitos trocarem a honestidade intelectual pela "isenção" e o compromisso com a verdade pela "neutralidade".

Evidência disso é que as cheerleaders de redes sociais e os fabricadores de narrativas, que adoram posar como conservadores ou liberais mas que não passam de tradicionais cabos eleitorais do tucanato (2014 foi ontem!), agora fingem-se de analistas políticos neutros.

Pode notar. Pessoas que se engajaram intensamente no apoio à candidatura do Aécio agora tentam apagar o passado e se apresentar como observadores neutros, indiferentes ao resultado das eleições de 2018 e aos rumos do país na próxima década, alegando que não é sua função declarar voto.

Mas se era correto deixar claro seu posicionamento em 2014 e defender, ainda que tapando o nariz, o voto pragmático no mau menor contra o PT, o que mudou em 2018? Por que os mesmos que fizeram isso naquele momento agora tentam se passar por analistas independentes e neutros?

Sempre que você se deparar com uma dessas figuras que fizeram campanha aberta pelo Aécio em 2014, mas que agora afetam uma isenção que não possuem, saiba que você está diante de alguém que sacrificou o único valor essencial a um analista político: a honestidade intelectual.
É possível fazer análise (e análise de excelente qualidade) sem isenção ou sem neutralidade, mas jamais será possível analisar o que quer que seja sem honestidade intelectual, auto-conhecimento e clareza sobre suas crenças e posicionamentos.

Um analista que possui uma agenda oculta e que não revela para si mesmo e para o seu público qual candidato apóia em seu íntimo, ou como vê um determinado cenário, elimina de partida o princípio do auto-conhecimento sem o qual não há honestidade e nenhuma análise de qualidade é possível.

Afinal, sem ter clareza sobre quais são seus sentimentos, desejos e percepções não é possível neutralizá-los para fazer uma leitura objetiva, honesta e sincera, que reflita a realidade e não o conjunto desses elementos subjetivos.

Isso se torna ainda mais grave nos casos aqui mencionados: o que abarca indivíduos que jamais foram isentos, que sempre atuaram ativamente em todas as eleições mas que agora mentem para os seus leitores e se apresentam como analistas neutros e indiferentes.

Prefira sempre os analistas que não omitem suas posições, que apresentam abertamente suas críticas aos candidatos, que não omitem nem se desviam de suas premissas (sejam elas quais forem) e que de fato possuem método em suas análises.

Prefira sempre analistas transparentes, pouco importando se estes tecem críticas ao Bolsonaro, ao Amoedo ou a quem quer que seja. O importante é não possuir uma agenda oculta e não fingir uma isenção inexistente por medo de perder público ou de comprometer a carreira.

Porque, no fundo, o que diferencia 2014 de 2018 é exatamente isto. Em 2014, todos apoiavam o voto anti-petista e era confortável se posicionar. Agora, em 2018, o público anti-petista apóia o Bolsonaro, que os supostos analistas desejam boicotar, mas omitindo esse desejo para não perder nem alienar esse público.

Portanto, mais uma vez: prefira analistas que são transparantes em suas posições e em suas críticas, que não omitem o que apoiam nem o que combatem, e fujam da independência fingida, da neutralidade dissimulada, da isenção de fachada.

Afinal, não é possível saber tudo o que se passa nos bastidores, mas qualquer um sabe que um desafeto sincero e honesto vale mais do que um falso amigo.

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