Imparcialidade quando não se conhece a verdade:

Olavo de Carvalho
Uma coisa que os cristãos e conservadores têm de aprender de uma vez para sempre -- e que parecem empenhados em não aprender de maneira alguma – é que ninguém pode, ao mesmo tempo, ser o defensor de uma causa e um juiz imparcial. Muito menos pode falar simultaneamente nesses dois tons. No esforço de persuadir os hostis e recalcitrantes, o discurso conservador, com freqüência, assume o tom do observador imparcial que trata os dois lados com igual deferência. Com isso, já entra em campo com um braço amarrado. A imparcialidade é apenas uma precaução inicial, útil quando não se conhece a verdade e tudo o que se pode fazer é investigá-la. Quando a verdade já é conhecida, ser imparcial é fingir desconhecê-la, concedendo ao erro e à mentira as mesmas honras que a ela e somente a ela são devidas. A verdade não é imparcial. NUNCA é imparcial. A imparcialidade é a expressão lógica da dúvida e de uma ignorância que, justamente, se pretende provisória. Quando o defensor da verdade assume o tom de um juiz imparcial ele a avilta e a degrada e, com freqüência, mesmo contra a sua vontade expressa, será interpretado como inimigo e detrator daquilo que tenciona defender. Esse erro primário foi até cometido pelo Papa João Paulo II no prefácio às atas do Congresso L’Inquisizione: Náo foi a mídia que distorceu suas declarações, fazendo parecer que ele condenava a inquisição. Foi ele próprio que, adotando o tom de uma imparcialidade descabida, pareceu condenar o que defendia.

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