O processo revolucionário e o conhecimento sobre ele:

Luis Vilar
Até Leon Trotsky sabia que um processo revolucionário se inicia muito antes de uma Revolução propriamente dita, desenvolvendo passo a passo as condições objetivas e subjetivas para tal processo, instigando as massas, mas sabendo que estas são de comportamento difuso.

Portanto, sendo necessário, uma classe dirigente acima do Estado - para poder destruir todas as instituições ali existente e se fazer mais forte que este Estado e suas convenções legais - e acima da própria massa, para condensar as intensas paixões e mudanças psicológicas previamente insufladas, e assim conduzir a Revolução dentro de uma moral elástica, relativista.

Como afirma Trotstky em A História da Revolução Russa, "a dinâmica dos acontecimentos revolucionários é diretamente determinada pelas rápidas e intensas e apaixonadas mudanças psicológicas das classes constituídas antes da Revolução". Logo, subverter a moral objetiva (que na burguesia materialista ainda se faz como um mero verniz e sem qualquer apoio transcendente) ao mesmo tempo em que se esconde o fim político dessa subversão é uma regra.

É o que ocorre, por exemplo, com o uso de uma "ideologia". Ela é posta como um conjunto de ideias que esconde sua finalidade. Este conjunto de ideias ressignifica a linguagem - como tão bem mostra George Orwell - dissociando-a da realidade, criando falsas polêmicas que servem de cortina de fumaças; assim mobilizar pessoas dentro de coletivismos para que se tenha o ambiente perfeito para que a classe dirigente - em meio ao caos implantado - tome o Estado e dite como se deve viver para se alcançar o paraíso na Terra. Tudo neste processo será visto como um sacrifício em nome de um bem maior: a tal libertação.

Ocorre que a História mostra que tais processos libertadores criaram tiranias piores que aquelas que fingem combater. Leiam a História de Esparta e verão.

Quando as massas se encontram nesse estágio de relativização de tudo, Trotsky reconhece que "não há um plano preestabelecido de transformação social, mas o amargo sentimento de não lhes ser mais possível tolerar o antigo regime". Ou seja: tudo precisa mudar. Gritam as massas: Queremos mudar tudo. Nesse mometo, a classe dirigente que previamente insuflou o caos, toma sua posição política e crava: "Então, deixe com a gente que mudaremos tudo para vocês. Temos a fórmula perfeita do novo regime". Eis o "novo homem". Eis "o novo mundo".

"Apenas o centro dirigente da classe possui um programa político, o qual entretando precisa ser confirmado pelos acontecimentos e comprovados pela prática", pontua Trotsky, no prefácio da A História da Revolução Russa. São os engenheiros-sociais e a intelectualidade orgânica a serviço destes. Os extremistas ganha voz e poder ao traduzirem os anseios dos impulsos crescentes das massas para a esquerda. Sim, Trotsky também afirma isso.

É por isso que insisto, leiam a esquerda. Leiam a esquerda. Leiam Trotsky, leiam Karl Marx, leiam a Escola de Frankfurt. Estudem essas pessoas. As fontes primárias são fundamentais para que saibamos exatamente o que se encontra lá.

Eu não deixei de acreditar na esquerda porque apenas li autores de direita. Estes reforçaram e explicaram melhor aquilo que eu já percebia dentro dos autores de esquerda, além de refutar pontos que eu não havia percebido sozinho.

O confronto entre esses autores foi que foi formando a minha visão de mundo ao ponto de fazer mea culpa ao renegar velhas opiniões até chegar onde me encontro hoje: a rejeição a toda e qualquer ideologia secular em suas cosmovisões e não somente as de esquerda.

Razão pela qual quando identifico qualquer flerte de uma direita com a mentalidade revolucionária ou com o racionalismo político denunciado por Michael Oakeshott, eu já me afasto desta completamente, pois na complexidade humana existem coisas que vão para além do rótulo.

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