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Filipe G. Martins |
É verdade que a morte de Ned Stark, ao final da 1ª temporada, deixou aqueles que têm uma visão cínica da política animados com a perspectiva de uma boa representação ficcional da "realpolitik", mas logo o desenrolar da série revelou que as coisas não eram tão simples assim.
O final da 7ª temporada deixa muito claro que, ao contrário do que os realistas poderiam esperar, a disputa pelo poder protagonizada por atores egoístas, preocupados com a maximização de seus ganhos, não conduziu a nenhuma espécie de equilíbrio, mas ao caos e à vulnerabilidade.
Do mesmo modo, personagens movidos apenas pelo egoísmo e pela ambição acabaram tendo destinos ainda mais cruéis do que o reservado ao patriarca do norte, demonstrando que a busca do poder pelo poder pode ser ainda mais perigosa do que o apego à ética de cavalaria de Ned Stark.
Ignorar o senso de dever e a honra, ou desprezar as necessidades dos homens comuns, se provou um erro fatal ao longo de toda série — sendo Cersei Lannister, a encarnação da fome cínica pelo poder, a única possível exceção.
Em suma, Game of Thrones mostra que o aparente realismo de quem acredita que "o poder se conquista através da astúcia e da traição, conserva-se através da mentira e do homicídio e perde-se pela lealdade e pela compaixão” não passa de uma ilusão com consequências perigosas.
Mostra também que propósitos superiores e transcendentais são imprescindíveis para uma perspectiva real de poder e que, sem honra e senso de dever, nenhuma ação pode estender-se para além da vida do agente que a colocou em curso—mostra que quem tem um porquê suporta qualquer como.
É por isso que os protagonistas, heróis e sobreviventes da série são Jon Snow, Daenerys Targaryen, Tyrion Lannister e o Clã Stark—Bran, Arya e Sansa—e não Joffrey Baratheon, Viserys Targaryen, Tywin Lannister, Petyr Baelish e Ramsay Bolton. Sapientiam autem non vincit malitia.
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