Quando jovem eu era de esquerda; hoje eu sou adulto:

Aurelio Schommer
Quando jovem, ali pelos 16 anos, experimentei o cassetete da Brigada Militar (nome da PM no RS) nas costas. Antes, experimentara o gás lacrimogênio.

Tempos de PT, depois de PCB.

Eu queria mudar o mundo. E achava que a repressão queria mantê-lo como a "terra do sofrimento".

Mas, infortúnio, me dava a fazer perguntas. Perguntei-me por que, havendo um muro, quem habitava o paraíso era impedido por enorme aparato de pular para o inferno, não o contrário?

Por que a liberdade era incompatível com a comunidade dos homens que não sofriam, pois viviam sob o socialismo que a todos irmanava e provia?

Longo parto o das perguntas incômodas ao universo dos que creem em ideias e guias terrenos.

Somente muito tempo depois, eu descobriria que o sofrimento é indispensável à felicidade e ao que quer que tenha algum valor além do efêmero.

Somente muito tempo depois, eu descobriria que, antes de mim, muitos experimentaram a morte dolorosa, de todo mais cruel do que o cassetete e o gás lacrimogênio, para defender a liberdade como bem maior, liberdade que nos permitiu compreender o sentido de todo sofrimento.

Hoje vejo que alguns buscam desesperadamente pelo cassetete e pelo gás lacrimogênio, provocam ao extremo, como eu e meus iguais de então provocávamos, para não terem de experimentar o infortúnio que é fazer perguntas e perceber que o paraíso não é o mundo. O mundo é o sofrimento indispensável tanto à liberdade quanto à felicidade. Sobretudo à compreensão de que somos anões nos ombros de gigantes, pois muitos sofreram para legar o que nos permite viver e ter escolhas. E boa parte deles o fez lutando contra o socialismo, contra o fascismo, contra o nazismo, contra quem dizia querer "mudar o mundo" e arrastava multidões consigo.


Texto escrito em 2016 

Obs.: o título não é do autor do texto.

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu