Os muitos tipos de Jihad, segundo o PHD Bill Warner

Por: Renato Rabelo
O mundo associa o terrorismo à fé islâmica. 

Sim, vemos sempre na mídia inúmeras guerras no Oriente Médio e a quantidade de soldados suicidas que vemos por lá é imensa. Esporadicamente, alguns atentados acontecem também aqui no Ocidente, com dezenas de vítimas a cada jihadista que se explode gritando o Takbir: “AllahuAkbar”.

O intrigante nesta história toda é que, quase na mesma proporção em que vemos a falta de paz no Oriente Médio e os guerreiros suicidas da guerra santa matando em nome de Maomé, vemos também pessoas apontando para o fato de que a maior parte do povo muçulmano vive uma vida civil comum e que a espiritualidade da fé islâmica é muito rica e envolvente. Então qual seria o elo perdido que faz tanta gente misturar guerras com a fé islâmica e, ao mesmo tempo, paz com a fé islâmica? Estariam as duas versões corretas em relação ao Islã?

Segundo al-Khatib al-Baghdadi, a jihad se divide em 2 classes: a jihad maior e a jihad menor. Na jihad maior, existem 3 tipos de guerra santa no campo espiritual. A guerra santa contra si mesma para aprender e praticar o islã é chamada “jihad al-nafs”. A guerra santa contra Satã, contra os desejos e dúvidas inesperados, é chamada de “jihad al-Shaytaan”. E existe a guerra santa contra o mundo, contra todos os tipos de infiéis (“inimigos de Deus”) que ainda existem, que é a “jihad al-asghar”, que será chamada aqui de “jihad menor”. Cada uma destas jihads maiores tem suas divisões internas, que podem ser conferidas no estudo do Centro Islâmico Brasileiro chamado “O que é Jihad”[1].

Aqui entramos em um campo mais perigoso e complexo do que a grande mídia mostra. Veremos, depois desta seção, que a mídia é quem está causando toda a confusão em relação ao islã, por omitir os aspectos da jihad menor aqui descrita. Para melhor distinguir os níveis da luta menor, contra o mundo, usarei a referência dos quatro elementos clássicos da Teoria Reformada das Castas, para um melhor entendimento.

Se engana quem acredita que o terrorismo é o principal tipo de jihad. Na verdade, ele é o último, segundo o PhD Bill Warner, e é o menos destrutivo quando se fala em guerras entre civilizações[2]. Para entender melhor o que ele disse, acompanhe a classificação feita abaixo.

[FOGO – jihad bilqalam] No primeiro nível, que é o mais importante, existe a jihad da ESCRITA, que trata dos avanços islâmicos sobre a fé, a ciência, os professores e escolas, sobre influenciadores e pensadores de uma maneira geral.

Aqui o que importa é ter um nível intelectual alto para entrar nas mentes das pessoas mais inteligentes e fazê-las seguir os caminhos de Alá. Devorar pensamentos e pensadores para dentro do Islã permite que todas as jihads a seguir sejam possíveis. Sem uma sólida base para iniciar ataques sobre outras áreas, o império do Islã (ou “califado”) sobre a Terra seria impossível.

É a partir de fortes centros de estudo que os combatentes santos são formados, assim como uma semente que concentra todo o corpo de uma árvore dentro de sua casca. A jihad maior começa com estudos e a jihad menor também, sendo que esta última vai além dos lares muçulmanos e atinge todos os centros religiosos ou científicos que existam no planeta.

[AR – jihad billisan] Depois da jihad da escrita, vem a jihad política, a jihad da FALA. Esta busca influenciar a opinião popular, a mídia, a política de uma maneira geral (estatal) e até mesmo de uma maneira estrita (regulamentos de empresas privadas). Assim, o poder de imposição da maioria democrática ou mesmo do império da lei vai adotando a Sharia (lei islâmica) sem ser necessário o imediato derramamento de sangue.

Por exemplo, se um muçulmano trabalha em uma empresa e um colega de trabalho esquenta uma fatia de bacon no microondas, ele pode alegar para o seu superior que o cheiro de porco ofende os seus princípios religiosos. Assim, ele pode fazer com que a empresa inteira proíba o consumo de porco em todas as suas unidades, saindo o fiel vitorioso em sua jihad da fala.

Muito embora ele seja mais social, este também é um tipo ativo de jihad. Note, caro leitor, que este tipo de guerreiro santo sabe lutar com a fala porque primeiro os seus intelectuais desenvolveram argumentos para entrar até mesmo na mente dos homens mais inteligentes do mundo. Uma vitória leva à outra.

[ÁGUA – jihad bilyad] Depois da jihad da fala, vem a jihad do DINHEIRO (ou da MOEDA). Aqui o fiel luta financiando as outras formas de jihad. Sim, ele pode ser um médico que passa o dia salvando vidas, ou um empresário que alimenta uma cidade inteira, mas, ainda assim, ele está lutando diretamente contra os infiéis à medida em que ele dá suporte, por exemplo, a estudos, a políticos e a terroristas pró-islã, além de compra de setores estratégicos em países-alvo.

A surpresa aqui é que em países capitalistas ocidentais, o liberalismo chegou ao seu extremo de fazer as pessoas acreditarem que ganhar dinheiro ajudando os outros torna automaticamente alguém nobre. O que você faz com o seu dinheiro também é importante para definir quem você é, como mostra a jihad da moeda, mas parecemos estar cegos a este tipo de questão.

Um caso famoso de jihad da moeda foi a do filho do presidente do Suriname, aqui na América do Sul, que foi preso em 2013 por estar financiando o Hezbollah[3]. Note, caro leitor, que este tipo de jihad floresce em ambientes já dominados mentalmente (fogo) e politicamente (ar) pelo islã.

Espaços em que financiar o Islã seja proibido, a jihad da moeda se torna quase impossível, como em duros regimes comunistas como o da Coreia do Norte. Então vitórias na jihad da escrita e da fala são pré-requisitos para a existência e a prosperidade da jihad da moeda.

[TERRA – jihad bilsayf] Depois da jihad da moeda, vem a jihad como nós a conhecemos, a jihad da ESPADA (ou de ASSASSINATOS, como prefere o PhD Bill Warner). Este é o nível militar da guerra santa. Inclusive, a palavra “militância”, que usamos normalmente para protestos de rua, também está neste nível. Aqui a destruição e a humilhação dos inimigos de Deus é completa.

Eu não preciso falar do derramamento de sangue, das torturas, das ocupações (ou “imigrações”, como queira), das zonas proibidas na Europa e da jizia, que o leitor já deve conhecer bem. O que é preciso mostrar aqui é que há toda uma preparação para que este último nível venha a existir. O amadorismo não é permitido em uma batalha tão sagrada para os muçulmanos.

Primeiro, há um embate para se conhecer (a si mesmo e a Deus). Depois, para resistir ao pecado que se infiltra sorrateiramente na vida do fiel. No último nível, acontecem investidas para se espalhar o seu estilo de vida e a sua fé pelo mundo. Este último nível, complexo, tem toda uma rede de guerreiros que lutam em todos os níveis para alcançar o califado mundial. Mas estes guerreiros têm atividades que o Ocidente classifica como civis e inofensivas, deixando a maioria dos jihadistas invisíveis aos olhos dos mais preocupados vigias militares e dos civis desavisados que lhes recebem.

Para mais informações sobre este tipo de classificação, ver o Módulo 2 do estudo sobre a ameaça jihadista global (The Global JihadiThreat), chamado “O papel da Jihad no Islã”, do Center for Homeland Defenseand Security[4], de dezembro de 2016. Esta classificação é semelhante à feita pelo PhD Bill Warner em seus estudos.

FONTES:
[1] Artigo “O que é Jihad”, do Centro Islâmico Brasileiro: http://www.centroislamico.com.br/o-que-%C3%A9-jihad--a193.htm.
[2] Os Muitos Tipos de Jihad, segundo o PhD Bill Warner: https://www.politicalislam.com/the-four-jihads/. Há uma versão legendada em português em: https://www.youtube.com/watch?v=-pD-WbHfQlw.
[3] Filho do presidente do Suriname é preso por financiar o Hezbollah: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/03/filho-do-presidente-do-suriname-e-condenado-por-apoiar-o-hezbollah.html.
[4] Estudo “The Role of Jihad in Islam”.The Global JihadiThreat (Módulo 2); Center for HomelandDefenseand Security.Publicado em 18 dez. 2016. Link para a aula: https://www.chds.us/ed/items/1203.

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BIO

Renato Rabelo, 28, é pesquisador independente de inteligência militar, tradutor (livro publicado: “No Serviço Secreto de Stálin” – Walter Krivitsky) e aluno do Curso Online de Filosofia de Olavo de Carvalho.

Facebook: https://www.facebook.com/IniciativaRenatoRabelo

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