Durante 40 anos, os aiatolás:

Nelson Ascher
Apostaram na sua capacidade de criar instabilidade na região e no mundo, sabendo que a natureza de seu regime lhes permitia absorvê-la melhor que seus adversários (em especial EUA e os Europeus), os quais aos poucos pagariam, recuariam ou cederiam para afastar a ameaça. Seu modus operandi deu certo e sob a batuta de Obama, Merkel e sócios menores, o ocidente aceitou de volta o Irã incondicionalmente,  perdoando tudo o que o país fizera nas décadas anteriores, enchendo-o de dinheiro vivo e, para todos os efeitos, acolhendo de antemão sem objeção alguma o mais gângster dos regimes no clube nuclear. Por que e  pra que nem começou a ser honestamente discutido. 

Trump reverteu radicalmente a política do governo anterior, e isso começou a doer. Aconselhados em nome do ex-governo Obama por John  Kerry, os aiatolás esperaram quietos a deposição segura de Trump. Que não veio. E, diante da perspectiva apavorante (para eles) de sua reeleição, resolveram, por meio de ataques aqui e ali e ações terroristas,  desmoralizar o presidente e subverter sua candidatura no ano eleitoral. A certeza era a de que, mesmo com reações e represálias, todas como de hábito meias bombas e a contragosto, a iniciativa continuaria em mãos iranianas. O mais provável é que a esta fosse do próprio general Suleiman. 

De repente os EUA promoveram a maior virada na região em mais de meio século, especificamente desde 1967, quando, destruindo num ataque preventivo as forças aéreas dos países árabes inimigos no início da Guerra dos Seis Dias, Israel se tornou em poucas horas a potência militar hegemônica do Oriente Médio. No caso da eliminação do general Suleimani, um alvo legal e legítimo, os EUA, após anos de reações defensivas, retomou, ou melhor, tomou finalmente a iniciativa e transferiu o peso de décadas de incerteza para as costas dos aiatolás. São ele, portanto, que, ao tomar qualquer decisão, ao planejar um ataque, atentado ou retaliação, terão doravante que se colocar a pergunta: “Será que os americanos são loucos a ponto de arriscarem uma guerra total?” Uma semana atrás a resposta era: “Seguramente não.” Hoje ela não é “Sim”; é (do ponto de vista dos aiatolás e demais inimigos dos EUA) muito pior, ela é: “Ninguém sabe.”

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu