Jornalismo na bolha ou, Como seria ter adversários inteligentes?

Por: Flávio Morgenstern 
A coisa mais grave no jornalismo é a "autofagia jornalística" denunciada por Rolf Kunz: jornalistas SÓ LÊEM outros jornalistas. Isso até arrendava cerca de 0,00001% a mais de inteligência quando os jornais tinham diferenças entre si. Hoje, são apenas nomes diferentes para as mesmas visões de mundo.

Ninguém precisa ser especialista em geopolítica do Oriente Médio para ter uma visão um pouco mais abalizada do que a mera opinião - filosofia, aliás, surge como uma atitude e método rigoroso de pensamento para poder avaliar o que está acima da opinião, e como podemos descobrir se algo é verdadeiro sem precisar citar um acadêmico (filosofia é anti-acadêmica por definição), e sim por mero raciocínio.

Mas isso exige algo simples, que é sair da zona de auto-enganação dos seus amiguinhos. Você conhece um jornalista da grande mídia, um desses que nos chamam de "seita" com "guru" ou "mídia alternativa" (ou até "blogueiro de crachá") que já tenha lido um livro sobre o Irã? Que cite o Irã? Que, de passagem, comente o que foi o acordo nuclear do Obama, que sopese o jogo de forças na região, que avalie quais os interesses de cada potência no mundo em relação ao Irã, que tenha tentado desmistificar as alianças que envolvem o Irã?

Não. E são justamente eles que adoram citar "acadêmicos" e "especialistas" e se acham "científicos". Nunca leram nada nem para conhecer - mas lêem outros jornalistas para se emburrecer o dia inteiro. 

E nós, claro, que temos apenas "opiniões", sem base. Eles é que sabem. Sabem tanto que podem dar umas aulinhas para um Donald Trump, o homem mais bem assessorado do planeta.

No fim, todo jornalista atualmente tem RIGOROSAMENTE A MESMA OPINIÃO DO FELIPE NETO. Como é ter adversários inteligentes? Tenho muita curiosidade em saber como é essa sensação.

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