Depois, segue para sanção presidencial. As famílias que recebem Bolsa Família deverão levar algum dinheiro até sexta-feira, no melhor cenário.
Os milhões de outros que precisarão se cadastrar vão ter que abrir uma conta bancária sem comprovante de residência ou com cadastro negativado.
Ou então, terão que esperar a demorada confecção de cartões de pagamento, disponibilização do crédito etc. O STF impossibilitou o Presidente de ordenar abertura das Lotéricas. Coloque na conta de complicação os milhares que não podem provar identidade, acessar a internet, que não possuem endereço fixo.
Porém, a fome já começou a bater nas casas de quem nunca teve reserva para mais de uma semana. Os pobres já estão saindo de casa para tentar arrumar comida, com parentes, instituições de caridade.
A quarentena desses já acabou. As crianças começaram a chorar de fome em casa, não tem mais dinheiro para o gás ou para a querosene. Fora isso, quem aguenta muito tempo trancado em casa num barraco empestado, com 5, 6, 7 pessoas que antes mal podiam se amontoar para dormir?
A maior parte, nesse momento, vai pedir no amor. Alguns já vão pedir no terror. Conforme a instituição dos saques se disseminar, a parcela desses últimos aumenta, já que, na hora do desespero, o produto que está lá na prateleira não é de ninguém mesmo.
Espero que os desesperados pela quarentena imediata, que nunca entenderam que ela se tratava de uma impossibilidade nesse país, de um sonho tolo de dirigismo absoluto num Estado que nunca, em toda sua existência, agiu com coordenação, eficiência e disciplina exemplares, estejam dispostos agora a dividir vossas dispensas e soldos.
Porque, se é verdade que se isolar da peste às pressas é uma instituição antiga, quem está desesperado por comida tomar de quem a tem e tocar fogo no palácio dos poderosos que não deixam o povo comer são, também, tradições milenares das massas em tempos de exceção.
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