Sobre o Estado e a Caridade ao longo dos séculos:

Na Grécia Antiga, o Estado não existia para organizar a caridade pública. Existia para a organizar a guerra.

Não deu muito certo, os gregos acabariam perdendo as guerras para os romanos, que tudo herdaram dos primeiros enquanto mais e mais iam desviando o Estado para a infraestrutura (estradas, aquedutos, cidades). A organização da caridade pública cabia aos patronos, aos ricos de cada lugar. Ia tudo muito bem, o Império prosperava, mas os ricos acabaram empobrecendo, e o Estado acabaria por substituí-los nessa função até que a poeira levantada pelas patas dos cavalos bárbaros cobrisse tudo.

Os francos, bárbaros, sucessores dos romanos, decidiriam, pela lei franca (daí "zona franca"), que cada um viveria com seus próprios meios, o rei não poderia tributar diretamente os súditos. Da caridade pública se encarregaria uma nova instituição: a Igreja, nascida em Roma também com essa finalidade, porém muito modesta em extensão ao que viria depois. Os mosteiros cristãos se encarregariam também de preservar e cultivar a ciência, o conhecimento capaz de multiplicar os haveres, diminuindo a necessidade da caridade pública.

De lá para cá, a lei franca foi substituída por tributação crescente, enquanto o Estado passou a cuidar também da moralidade pública (Justiça e Segurança). Não dá para dizer que não deu certo, nossas sociedades são as mais prósperas de todos os tempos, mas a ciência perigosamente vai virando religião laica aqui e ali, e a caridade pública mais e mais vai transformando a esmola de necessidade em vício. Pior: em "direito", afetando negativamente tanto a moralidade pública quanto a privada. A abundância contém, como conteve no passado, o germe da decadência, pela via do esquecimento do princípio da escassez. Urge cultivar essa ciência, esse conhecimento.

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