Análise do crescimento do PIB de 7,7% no 3º trimestre de 2020:


O IBGE divulgou os dados do PIB (Produto Interno Bruto) referente ao 3º trimestre de 2020, mostrando um crescimento de 7,7%. A euforia inicial de muitas pessoas parece ter a ver com o cumprimento do que Paulo Guedes anteviu: a retomada econômica do Brasil em V, ou seja, após um grande baque, a economia rapidamente voltaria aos níveis anteriores à recessão.

Contudo, por se tratar de um indicador macroeconômico que tem as suas imperfeições, é preciso que saibamos o que está por trás desse crescimento para que não sejamos pegos de surpresa muito em breve. Passo a tecer então pelo menos 3 (três) pontos de alerta sobre este crescimento:

1) O crescimento de 7,7% representa a comparação do 3º trimestre de 2020 (jul/ago/set) com o 2º trimestre de 2020 (abr/mai/jun). Como o pico da COVID-19 se deu no 2º trimestre, evidentemente teríamos com a abertura do comércio e de outras atividades um desempenho muito melhor no 3º trimestre. Um crescimento assim seria significativo se aquilo que estamos comparando tivesse sido bom, mas não foi o que aconteceu, já que o 2º trimestre foi o pior trimestre da série histórica iniciada pelo IBGE em 1996. Ou seja, não estamos comparando nem com o medíocre, estamos comparando com o pior de todos.

2) Com medidas restritivas impostas por governantes estaduais e municipais houve uma quebra na cadeia produtiva, resultando até no fechamento de várias empresas. Portanto, nesse cenário, a oferta de produtos e serviços diminui, o que leva a uma alta nos preços. Por outro lado, a demanda por produtos e serviços foi incentivada pelos pacotes de auxílio emergencial e pelo programa do governo que salvou funcionários de demissões. Desta forma, houve um descompasso entre a oferta e a demanda, já que a produção não acompanhou o ritmo da demanda (auxiliada por aproximadamente R$ 500 bilhões injetados para salvar a economia). Assim, este crescimento do PIB, que contém na sua fórmula o consumo das famílias (quanto maior o consumo maior o PIB), traz a reboque uma inflação já percebida e que pode crescer ainda mais superando a própria meta do BACEN (2%);

3) A fórmula do PIB não expressa um verdadeiro crescimento econômico. Analisando a fórmula PIB = C + I + G + (X - M), onde C é o consumo das famílias, I são os investimentos, G são os gastos gerais do governo e (X – M) são as exportações menos as importações, percebemos quão frágil se torna este indicador. Por exemplo, as lagostas compradas pelo STF entram no cálculo do PIB, contudo, não geram valor para a sociedade, pois nenhum bem ou serviço foi realizado a partir desse gasto. Quando a China quer por exemplo aumentar o seu PIB, ela constrói cidades fantasma, pois isso implica em aumento dos gastos do governo. Mas qual a utilidade de se construir essas cidades? Zero. Outro exemplo são as importações; se a importação de máquinas e tecnologia propicia o aumento da produtividade em nosso país, por que deve ser subtraído do cálculo? Não faz sentido algum. O PIB não mede a qualidade do crescimento, pois não consegue avaliar a alocação dos recursos escassos na sociedade e não considera que a maior produtividade é o que de fato pode trazer um maior padrão de vida para a nação.

A despeito desses alertas, é inegável que nós tivemos um alívio, mas não podemos baixar a guarda e permitir que as arbitrariedades dos governantes estaduais e municipais nos conduzam a um segundo lockdown, até porque essa elite política não está interessada em destruir o vírus, mas o mercado, e só este poderá pavimentar o restabelecimento da nossa economia.


Syer Rodrigues
Auditor e Compliance
Especialista em Escola Austríaca de Economia (Instituto Mises Brasil)
Conselheiro do Direita PE - Jaboatão

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