Onde foi parar a exaltação à beleza?

(...) ainda que eu não possua a medida certa do Novo, penso que o que chamam de modernidade na arte, é algo mais antigo do que tenham conhecimento. 

Transformar a obra de artistas consagrados, que passaram pelo inferno até alcançarem algo realmente bom, (embora incompreendidos por muitos até hoje) em “releituras” e objetos decorativos, (“coisas” para combinar com o sofá e a cortina!) para ser educado, é algo que realmente abomino. Talvez meus próprios valores artísticos sejam ultrapassados, mas solitariamente ou não, acredito que os mestres do passado diziam mais; Tocavam-nos no que há de melhor dentro de nós. Provocavam sentimentos, aguçavam nosso olhar nos tornando mais críticos com relação à sociedade e ao mundo que nos cerca. A “arte” de hoje, dita “Contemporânea”, nada mais é que o conformismo institucionalizado com o sistema; É a falta do senso crítico, a falta do pensar. É a apatia e a imbecilidade ante algo importante que está ao alcance de nossas mãos: As rédeas de nossos destinos, ainda que improváveis, e a esperança de um mundo melhor. 

Prefiro minha arte antiquada a me render ao consumismo vazio de padrões e estéticas imediatas. Prefiro ver minha arte, ora bucólica e lúdica, ora simbolista e densa, provocando olhares curiosos e felizes através dos temas, detalhes e cores, a assistir “quadros” pendurados numa sala-vitrine vazia de emoção. Prefiro ver crianças em fase de explosão criativa “copiando” minha obra em seus desenhos puros, do que instigar a alienação destas mesmas crianças hipnotizadas pelos seus celulares e jogos sanguinários da modernidade. Prefiro ver minha “obra barata e de conteúdo nostálgico” alegrando a casa dos humildes do que competir com as mega-TVs penduradas em paredes como “obras de arte” decorando lares abastados, que contaminam pessoas com a cultura televisiva e sem esperança das novelas e telejornais. Pois a arte não pode ser um sentimento efêmero. A arte é e deve ser sempre a Beleza externada do espírito humano e o veículo de sublimação para os que possuem olhares atentos e sensíveis. A arte é acima de tudo, uma experiência sensorial perene, um coquetel psicológico que nos transforma e nos faz pensar. Acho que minha arte não tem um caráter social ou provocativo de fato. Arte é emoção e em seu valor subjetivo e primordial desperta à reflexão, remetendo-nos à simplicidade da vida, algo esquecido por muitos. 

Que me perdoem os contemporâneos, críticos, curadores de Bienais e decoradores de plantão, mas o que vocês fazem não passa de lixo irresponsável, respaldo da corrida desenfreada e insana pelo dinheiro e poder; Basta alguém dizer que é bonito, vale dinheiro ou combina com a decoração e vocês devoram garganta abaixo, como se comessem um prato horrível, mas dissessem que é chique... Onde foi parar a exaltação à beleza? Por que não reconhecem mais uma arte de valor de fato? Simplesmente porque não sabem mais o que é arte e o que é beleza. Porque não conseguem acompanhar os filhos crescendo e transformando-se como uma crisálida até a uma borboleta. Porque não enxergam mais a beleza da mulher, com toda a sua delicadeza e força e, simplesmente como um pedaço de carne (ou fruta..!) suculenta a ser consumida e descartada a seguir. Porque não enxergam de fato as transformações de seus dias, de seu planeta, as necessidades do próximo que mais precisam de atenção do que de migalhas, enfim, não percebem a razão de viver e o sentido de tudo isso. Ao invés disto, acumulam capital, guardando talvez para uma outra vida, compram a felicidade de suas esposas com Smartphones de última geração, jóias, cruzeiros marítimos e plásticas sem-fim, tornando-as prisioneiras eternas da ditadura da beleza, compram seus filhos na vã tentativa de aproximar-se deles, mas não podem escutá-los, compram amizades, amores, valores e sensos éticos como se o dinheiro fosse o pão sagrado e a cura de todo o mal. Mas para toda essa breve existência ter um sentido verdadeiro, não precisam se trancar num templo ou numa igreja, nem tão pouco, viajar nos remédios e drogas; Não! Só precisam entender que a simplicidade está ao alcance de suas mãos e a luz que banha uma verdadeira obra de arte é a mesma que ilumina sua existência! Não é uma revelação messiânica nem tão pouca um novo paradigma. São o resgate de nossos valores ancestrais e seus representantes, sábios incríveis, com o melhor que eles pensavam e acreditavam. 

Não é um retrocesso nem um ato de ignorância ou estagnação e sim uma reflexão profunda desencadeada numa mudança simples de comportamento, pois Ter não é Poder, Ter não é Ser, ter é parte de uma vida partilhada, é parte de uma idéia maior, tão disseminada por profetas, messias e Iniciados, no qual o que importa de fato é o amor, não-profano, não-carnal, não-egoísta, e sim um amor maior, ecológico, espiritual e cósmico, mas ao mesmo tempo a soma de todos estes tipos de amor, sobre o pilar da compreensão e conhecimento de si próprio, o reconhecimento que você é parte do Todo. “Você é aquilo que pensa e não menos importante que as formigas ou as estrelas”, já dizia o poeta.
Não sei onde vou parar com todas essas idéias, ideais, conceitos e valores, nem tão pouco acredito no imutável, mas sei que devo continuar, pois, neste momento, é tudo o que penso, faço e acredito. (...)

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu