Ativismo judicial, como chegamos até aqui?







Há alguns anos, o Brasil assistia atônito às operações da PF contra empresários por participação em esquemas criminosos bilionários. Hoje, as operações são feitas contra empresários que criticam o sistema em conversas privadas. Como chegamos até aqui?

A crise econômica provocada pela mistura da inépcia petista em conjunto com a corrupção em escala industrial produziu as condições para as operações policiais que expuseram a nossa Cleptocracia. A indignação popular foi direcionada inicialmente para o Impeachment da presidente.

Num segundo momento, a maioria da população direcionou a sua indignação na escolha de um presidente anti-sistema, não alinhado à agenda socialista implementada nas décadas anteriores. Eleito Bolsonaro, muita gente acreditava que o serviço estava feito, baixando a guarda.

Só que o presidente representa uma força secundária frente a toda estrutura do poder, que se manifesta através de diferentes dimensões, desde o poder intelectual e cultural, passando pelo estamento burocrático e político, e pela elite econômica, chegando ao poder militar.

A esquerda ocupou quase todos os espaços desde a década de 80, controlando o meio intelectual/cultural, e o estamento burocrático/político. O conluio com o establishment econômico foi bem exposto pela Lava Jato. E os militares sempre foram mais tecnocratas que conservadores.

Os protestos iniciados em 2013, que culminaram com a eleição de Bolsonaro em 2018, representaram ameaça mortal ao establishment, que se reorganizou aproveitando-se do fim da mobilização popular após as eleições para reagir e retomar o controle da situação.

O Supremo passou a ser o QG da resistência. Uma das primeiras medidas tomadas foi criar o inquérito das Fake News, produzindo um instrumento de repressão aos protestos que surgiriam com a anulação da Lava Jato e a soltura dos corruptos, além de proteção dos próprios ministros.

Duas decisões no âmbito desse inquérito deixaram isso muito claro: a censura à matéria da revista Crusoé, que trazia delação de Marcelo Odebrecht direcionada ao presidente da corte, e a anulação de investigação da Receita Federal contra alguns ministros e familiares.

A Vaza Jato apenas facilitou o trabalho de soltar o chefe do esquema preso. A desorganização e inépcia do governo Bolsonaro e suas brigas internas também deixaram tudo mais fácil. Nesse quesito, Moro teve um papel fundamental para enfraquecer o governo e acabar com a Lava Jato.

Desde o princípio, foi identificada a internet como principal ferramenta de proteste popular. O establishment criou então a CPI das Fake News, para mapear e atacar os influenciadores que estiveram à frente das revoltas populares desde 2013, tudo com ajuda da extrema-imprensa.

Todo material foi direcionado para o Supremo, que utilizou o inquérito das Fake News para perseguir e censurar a base de apoio do presidente nas redes sociais. Foram dezenas de influenciadores e parlamentares atingidos. O medo calou boa parte das pessoas nas redes.

O próprio presidente do Supremo à época comemorou o fato dos "ataques" à corte nas redes terem diminuído em mais de 80%. A imprensa, e a própria esquerda, que inicialmente eram críticos do inquérito passaram a apoiar o "tribunal de exceção", como definiu a PGR Rachel Dodge.

Maquiavel afirmava que um regime deveria ser amado ou temido, mas que o medo é mais forte que o amor. Durante o governo Lula e no primeiro governo Dilma, havia recursos disponíveis para comprar o "amor". O amor acabou quando não havia mais dinheiro do governo.

Passada a turbulência para o establishment, foi definido que era preciso se impor através do medo. Esse é um processo usual em qualquer ditadura socialista. Aconteceu a mesma coisa na Venezuela. Chávez era venerado. Hoje, o regime se mantém com base na repressão.

O Supremo assumiu a função de órgão principal de repressão, com ajuda fundamental da imprensa, que funciona como máquina de propaganda do regime. As primeiras listas negras de "bolsonaristas" foram criadas pela imprensa, que passou a apoiar sistematicamente a repressão.

A academia e o meio cultural também servem como base de proteção ao establishment, assim como o estamento burocrático, averso a perda de privilégios produzida pelas políticas econômicas liberais. A pandemia também foi determinante para o enfraquecimento do governo.

É preciso entender que o Brasil já é uma ditadura, e será por muito tempo, independente do resultado eleitoral. Quem critica o sistema tem reais chances de ser censurado, ou até mesmo preso, sem possibilidade de defesa. Não é essa a marca fundamental de um regime autoritário?

Quando José Dirceu afirmou que a esquerda "tomará o poder, o que é muito diferente de ganhar uma eleição", ele estava se referindo exatamente à utilização das instituições aparelhadas para exercer o poder DE FATO. É isso que estamos presenciando.

A liberdade não será alcançada através da eleição de um presidente menos alinhado ao establishment, apesar dela obviamente ser bem vinda. Nem mesmo com o impeachment de um ou outro ministro. É preciso focar na mudança de toda a estrutura de poder, o que levará TEMPO.

A MELHOR coisa que poderia acontecer para o establishment corrupto seria a tentativa de alguma revolta violenta, que serviria como justificativa para escalar muito mais a repressão. É exatamente isso que está sendo incentivado pelas medidas arbitrárias dos últimos dias.

Além de focar o trabalho na retomada das bases do poder mencionadas, nessas eleições é preciso focar nas eleições parlamentares, tanto a nível federal quanto nos estados. E todo cuidado deve ser adotado para que qualquer protesto seja PACÍFICO e ORDEIRO.

Estamos nos primeiros dias de um longo inverno para as liberdades individuais. O ataque às garantias fundamentais não acontece apenas no Brasil, apesar do país estar mais avançado no processo totalitário, em relação a outros. Será uma longa guerra pelas nossas liberdades.

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