Considerações contundentes sobre o dia 1 de outubro de 2022, parte 2



Além da credibilidade das pesquisas (sim, muitos bolsonaristas tinham crises nervosas com ela) e do alcance real das motociatas como ferramenta política, a "morte" que mais comemorei neste primeiro turno foi do icônico "Xadrez 3D".

Não sei como isto começou, pode ter sido um comportamento adquirido dos intervencionistas que diziam ter canais diretos com altos oficiais das FFAA ("Eles estão monitorando! As Forças estão preparadas!"). Não tem importância sua origem. O que interessa mesmo era o efeito que provocava na massa, sua finalidade e as consequências diretas.

Não nego que o xadrezismo é uma forma de motivar e impedir a desmobilização dos bolsonaristas em certas situações limites ou em erros crassos e incrivelmente grosseiros do atual governo. Era o escudo que amortecia as pancadas vindas da mídia, da esquerda e da própria realidade política. Era notório que o comportamento era incentivado desde o alto e por muitos ligados diretamente ao presidente, estando ou não na máquina pública. Nas mãos dos youtubers da direita, tornou-se um negócio rentável, muito rentável ("Explodiu, Aconteceu, Virada, Jogada Final, Surpresa, Reviravolta, Bomba, Sinistro, Decisivo, Inédito, Enquadrou, Atenção, Reação, Alerta, Inacreditável Inverteu, Perigo, Prepare-se...). E aí começam os problemas tridimensionais.

O comportamento é típico: neguinho se apresenta como bolsonarista e, apenas por causa disso, se sentia doutor em política e estratégia. Quando isto não bastava, apresentava-se como portador de informações ultra secretíssimas dos porões de Brasília (sabe aquele áudio maroto de um completo desconhecido com ar grave e sério?). Por mais que você insistisse em dialogar ou debater com o indivíduo, ele soltava um condescendente "as forças armadas estão monitorando" ou "você não sabe nada de estratégia, confia!".

Teria que ser muito cego para não enxergar neste comportamento uma caricatura da atitude do crente diante da Providência. Aos profetas e místicos era permitido um vislumbre, mesmo que parcial, precário e superficial, dos desígnios do Criador neste mundo. Já para o devoto bolsonarista, quem nutrisse alguma desconfiança acerca das atitudes do presidente, automaticamente estaria desprovido da capacidade de entender os saberes xadrezísticos tridimensionais vindos do Planalto.

Eu vi nas redes sociais e privadas os pregadores deste comportamento murchando e murchando a cada avanço percentual do petista. Xadrez em cima de xadrez eram proferidos para barrar a escalada de votos, e xadrez por xadrez iam caindo no chão juntamente com a esperança e a serenidade. A mudez foi tomando conta e a realidade, após quatro longos e tumultuosos anos, foi se desvelando: o rei não estava nu, apenas não sabia jogar xadrez, no máximo uma dama, e olhe lá!

Torço muito para que o golpe tenha sido mortal neste deletério comportamento. Torço para que ele faça parte do passado, tornando-se apenas objeto de estudo e chacota. Torço para que os compatriotas parem com a preguiça de estudar e abandonem os profetas do xadrezismo, investindo naqueles que se esforçam em aprender e entender a realidade, e não naqueles que inventam teorias e desculpas para acalmar ou dar aquele friozinho gostoso no nosso ego, nutrindo uma falsa esperança.

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