Por que virei à direita? Eis uma das tantas histórias que explicam.
No natal de 2008 eu quase morri. Jovem professor de filosofia, estava começando a desfrutar de merecidas férias, cansadíssimo do trabalho intenso do último ano, em que venci o antepenúltimo semestre do curso de Direito, estagiei toda manhã na Defensoria Pública da União e trabalhei à tarde na Academia de Letras. "Todo um futuro pela frente", como os mais velhos dizem, "e quase foi morto".
Costumava rever amigos que foram estudar fora todo final de ano, porque voltavam para ver suas famílias. No 26 de dezembro, ia chorar mágoas e celebrar vitórias em uma padaria com esses amigos recém-chegados, reunião típica da minha juventude, época em que a imagem da felicidade estava muito associada a longas conversas em cafés. Não tinha carro; fui a pé.
Ainda perto de casa, carregando um guarda-chuva para evitar os torós periódicos daquele dia, dois maloqueiros de bicicleta, que alguns jornais chamariam de "jovens", vinham em alta velocidade de uma rua que eu tinha acabado de atravessar, na minha direção, e me fecharam contra a parede, impedindo a fuga.
Lembro de suas fisionomias: exalavam ódio, como se eu lhes tivesse feito algum mal pessoal, como se lhes devesse muito, ou tudo, gritando xingamentos em meio a exigências de dinheiro na mão. Eu não tinha quase nada e respondi que tinha. O mais agressivo tirou uma arma da cintura e apontou para o meu abdômen. Tomaram o guarda-chuva da minha mão, e gritaram que ou eu lhes dava celular e dinheiro, ou iam me matar.
Eu já tinha sido roubado algumas vezes com faca na garganta (relógio), arma apontada para a cabeça (15 reais), cercado num arrastão (celular) – era normal isso naquela época – mas nunca tinha visto tanta vontade de me matar.
Eu lembrei na hora de um dos meus amigos mais próximos: ele quase morreu com um tiro no rosto, que o marca até hoje, por causa de uma máquina fotográfica. Lembrei também de um rapaz que, ali perto, tinha recusado o celular e morreu com dois tiros. Eu tinha que entregar tudo e torcer para não morrer mesmo assim.
Por sorte, eu estava com um celular velho do meu irmão, que, se bem me lembro, ia mostrar a um dos amigos que entendia de tecnologia, então eu o entreguei em vez de dar o meu, mas a minha carteira, que abri para pegar dinheiro, eles tomaram por inteiro, depois do que deveriam ir embora correndo, mas mantiveram os xingamentos, as ameaças e a arma apontada por um tempo, e eu achei que ia ser alvejado na barriga, quando um carro veio correndo quase subindo a calçada, assustando-os, que, aí sim, pedalaram alucinadamemte. Eram policiais à paisana.
Fui ao DP fazer o BO, e tinham acabado de chegar alguns policiais que, em meio a uma troca de tiros, conseguiram prender um de uma dupla de bandidos. Eram eles. Pediram para eu reconhecer o preso. Era o menos psico deles.
Tempos depois, fui chamado à audiência criminal em que o reconheci de novo, e contei detalhadamente o fato. Ele pegou dez anos. E o outro, mais violento e armado, estava foragido. Era um presidiário em "saidinha".
Ainda lembro disso com chateação, revolta, inconformismo. Eu não quero esse Brasil de volta. E você? E isso que você quer para si e para os seus? É esse futuro que você quer aos seus filhos e netos? Se é isso que quer, vote no PT, turna que que acha que é coisa pouca isso de roubar celular.
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