Dez exemplos de pressão acadêmica




1) Na graduação (1981), professores diziam o que nós NÃO devíamos ler (ou assistir). Dois exemplos: o livro “Casa Grande & Senzala” (1933), de Gilberto Freyre (1900-1987) e o filme “Che” (1969, com Omar Sharif);
2) Na pós, autores “proibidos” de serem citados: Régine Pernoud (1909-1998), Barbara Tuchman (1912-1989), Giovanni Reale (1931-2014), Will Durant (1885-1981), Raymond Aron (1905-1983) (a lista é longa);
3) Em um concurso público, fiquei em terceiro lugar por ter explicado a defesa que Marx (1818-1883) fez do imperialismo inglês na Índia (disse-me um colega que era para eu ter passado em primeiro, mas como “fiz uma crítica” a Marx, fiquei em terceiro); em outro concurso público, fui criticado por ministrar uma prova didática muito boa (estava “querendo furar a fila” e passar na frente de outro candidato, pois era “a hora dele”); noutro, fui “aconselhado” a elogiar o Construtivismo na prova escrita, caso contrário, seria reprovado. Elogiei. Minha nota foi 9,2;
4) Certa vez, presenciei um doutor esquerdíssimo comprar o livro “Mea Cuba” (1968) de Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), dissidente cubano. Há histórias inacreditáveis no livro (como, por exemplo, o pagamento de jornalistas da BBC de Londres para elogiar Fidel e o regime). Só havia um exemplar na livraria. Comprou-o para ninguém comprá-lo (e lê-lo);
5) Quando ingressei na universidade, me “aconselharam” a estudar “História colonial” (para ficar mais “próximo” dos colegas);
6) Certa vez, um colega criticou minha roupa (estava com uma camisa verde musgo e uma bota): achou minha aparência “militar”; outro criticou que escutava Frank Sinatra (1915-1998); outra, que eu não deveria usar a expressão “a coisa tá preta”;
7) Quando critiquei Eric Hobsbawm (1917-2012) em uma palestra, um aluno, no dia seguinte, me perguntou como eu “tinha coragem” de fazer aquilo;
Quando divulguei em minha página do Facebook os desenhos do coronel Danzig Baldaiev (1925-2005), integrante da polícia política soviética de 1947 até meados da década de 80, dos gulags soviéticos, um “amigo” me escreveu para me “aconselhar” a “tomar cuidado”, porque “poderiam me pegar em Vitória”;
9) Em um mesmo dia, fui publicamente censurado TRÊS vezes por um colega (doutor, ex-jesuíta) por usar um crucifixo no peito;
10) Participei de uma banca de doutorado. Em sua tese, o candidato fez uma crítica (em nota de rodapé!) a Jacques Le Goff (1924-2014). Aborrecido, um doutor da banca LEU o currículo do historiador francês (sim, é inacreditável, mas aconteceu) para afirmar que o rapaz não poderia ter feito aquilo.
Mas, caríssimos, digo isso para afirmar que, MESMO ASSIM, fiz tudo o que quis: pesquisei o que quis, fiz minha carreira APESAR disso tudo (e muito mais, pois coleciono histórias absolutamente inacreditáveis). Por isso, CORAGEM, cidadão! Não se acovarde!

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