Apple sofre retaliação do governo chinês, na Guerra Fria 2.0 Muita gente não sabe, mas a guerra entre China e Estados Unidos já é uma realidade. Uma resolução do Partido Comunista Chinês desta semana evidencia o conflito. O PCC proibiu o uso de iPhones por funcionários públicos, sugerindo que eles representam risco à segurança nacional.
Há mais tempo, vários países ocidentais baniram equipamentos da chinesa Huawei, incluindo smartphones, depois que técnicos da Amazon descobriram dispositivos espiões em placas eletrônicas produzidas pela empresa. Detalhe: equipamentos da empresa são responsáveis por 70% do tráfego de dados no Brasil. Recentemente, a Huawei sofreu outro golpe: o governo americano proibiu a exportação de uma série de tecnologias de ponta para a China, incluindo chips avançados que são utilizados na maioria dos smartphones de primeira linha, como os da Apple e Samsung.
Dessa forma, a Huawei deixou de oferecer ao público os telefones capazes de utilizar a tecnologia 5G, que permite a transferência de dados a uma velocidade de até 1000 Mbps por segundo. No mesmo dia do anúncio da proibição de iPhones para uso oficial, a Huawei apresentou uma nova série de telefones capazes de alcançar velocidade de transmissão 5G, sugerindo que os chineses conseguiram produzir chips mais avançados por conta própria. Hoje, o maior produtor do mundo de chips avançados é a TSM, que fica em Taiwan. Ou seja, uma eventual invasão da ilha não envolve apenas uma questão nacionalista chinesa, mas o controle da tecnologia que move a economia digital global, muito além de smartphones.
Os chips da TSM são usados em praticamente todos os eletrônicos mais avançados, hoje em dia, desde telefones até automóveis, passando por roteadores e servidores que fazem a internet funcionar.
Há um punhado de empresas que fornecem máquinas à TSM, todas elas fortemente atreladas aos governos ocidentais. Para controlar a ameaça chinesa, tais governos tem limitado o acesso às tecnologias mais avançados pela ditadura de Xi Jinping. O balanço de forças é complexo. Por exemplo: a Apple é a empresa mais valiosa do mundo, com capitalização de mercado de quase US$ 3 trilhões. Além de produzir a maior parte dos seus produtos na China, a empresa domina o mercado de smartphones no país. Hoje, o mercado chinês representa 20% das vendas da empresa. Ou seja, há uma relação de dependência entre a China e a Apple. Se por um lado a empresa se beneficia de custos baixos de produção, e de receita representativa na China, o país é beneficiado pelos investimentos da Apple e da forte geração de receita, e de empregos.
Após o anúncio do governo chinês de banimento dos telefones da Apple, as ações da empresa chegaram a perder US$ 240 bilhões em valor de mercado, recuperando parte das perdas nos últimos dois pregões. O fato é que o conflito tem se aprofundado nos últimos tempos, e há uma clara determinação do PCC em dar prioridade à agenda geopolítica, em detrimento das questões econômicas. Ou seja, tudo aponta para o agravamento da tensão, o que é muito ruim para o mundo. PS: muito cuidado com ações da Apple.
0 Comentários