Sobre impérios


Pode um império totalitário e baseado na vontade única do tirano vingar? Exercer governo sobre uma miríade de povos e vastos territórios não pertencentes originalmente à sede do império?
Pode. Mas a história coleciona exemplos do quanto foram curtos os exemplos ou quanto seus poderes eram frágeis.

O império mongol-islâmico de Tamerlão não resistiu à morte de seu dono, ainda que a Índia fosse mantida, para humilhação dos hindus que exibe fortes marcas até o presente.

O império inca não resistiu ao primeiro avanço de uma pouco numerosa cavalaria espanhola. Pizarro mal sabia que estava libertando centenas de comunidades não incas de uma tirania brutal.
Muito se fala no império russo de Pedro, o Grande, consolidado, mas se note que a cultura russa à época representava grande avanço civilizatório sobre as áreas tártaras e turcas dominadas, contraste que permanece. Foi, portanto, um império simpático aos olhos do mundo, como o fora o Romano.

Portugal, Espanha, França e Inglaterra tiveram impérios flexíveis, atentos às culturas locais a que se deram a interagir. Ademais, se não eram democracias tão plurais quanto as atuais, eram monarquias polissinodais, não alicerçadas somente no monarca.

No século XVIII, com a centralização em bases despóticas chegando a essas nações, note-se que apenas a Inglaterra, que caminhava em sentido oposto, manteve (exceção: EUA, que é também uma réplica de sua matriz) e pôde expandir seu império. O despotismo não deu certo como projeto imperial.

China e Rússia atuais são regimes totalitários que tentam estabelecer impérios globais. São ambos antipáticos e baseados no poder concentrado no déspota.

Xi não tem admiradores fora da China (ainda bem), enquanto Putin ilude malucos ultra: de esquerda, achando que é a reedição da União Soviética; de direita, achando que é o retorno à teocracia (teocracia que nunca existiu, diga-se, foi a esquerda que inventou a lenda sobre teocracias medievais). A maior parte das pessoas, porém, é sensata e vê Putin como ele é: vaidoso, cruel e insensível ao sofrimento que seu poder provoca dentro e fora das fronteiras russas. Ademais, ineficiente em economia.

É possível que eu esteja sendo demasiado otimista nessa analogia entre o atual e o antigo. Os meios de controle atuais de estados sobre indivíduos têm enorme e inédito alcance, e consequências para frente imprevisíveis. Mas, nesse caso, é ser otimista ou imaginar um mundo submetido a Xi ou a Putin. Não pode ser tão ruim.

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