Achei-o Amável, Papai



Eduardo estava sentado de frente para seu computador, cuidando de suas coisas, quando viu sua filha, de dez anos, num vestido simples, cabelos desembaraçados, como quem acabara de acordar, a descascar uma escada de madeira que ficava ali na dispensa, onde era seu escritório. Eduardo fumava muito, principalmente quando trabalhava ou estudava, então ficara acordado entre ele e sua esposa que seu escritório ficaria ao ar livre, para que a fumaça do cigarro não empesteasse a casa toda. Então lhe ocorreu perguntar:

-- Filha, leste o romance que lhe dei?
-- Sim, papai. Achei-o amável.

O emprego da partícula “o” e da palavra “amável” fez suscitar no pai o entendimento que Clarissa não só tinha lido, mas também incorporado o que lera. Nesse momento, lembrou até de suas leituras de alquimia. As operações que podem se dar no cérebro humano são incríveis. Eduardo, então, admirado, perguntou:

-- Quer ler outro?

Ao que a menina respondeu:

-- Quero, papai.

Eduardo sabia então que estava diante de uma peça de ouro.

Rafael Vicari, 6 de fevereiro de 2024, Jarinu – SP.

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu