Mais que ser humano:



Trecho de Versos Íntimos, autoria de Augusto dos Anjos:







"Acostuma-te à lama que te espera! 
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera."



Revisito esse verso mentalmente nas diversas vezes que tomo o ônibus para vir a casa que resido. Essa recorrência mental continuará existindo por um tempo indefinido, uma vez que a fila não possui nada de organizada e que sempre há tumulto por parte de alguns usuários os quais abdicaram de ação cidadã, agindo fora do mínimo de ética possível (se é que já possuíram alguma, difícil saber), portanto cada vez que preciso subir no coletivo há entre alguns passageiros a mesma concordância com o segundo e terceiro verso poético, agir como "feras", aos empurrões, gritos, alvoroço, etc. 

Se não há acordo entre os que querem entrar seria necessário algum constrangimento ou coerção a fim de organizar a fila, mas nas pouquíssimas vezes que tal arrumação aconteceu foi quase tão rápida quanto o descer e subir de um ônibus e, quando realizou-se foi pelo muito sofrer e apelar, não existe facilidade ou respeito.

Ainda falta compreender melhor o título da postagem, então, tendo hoje conseguido sentar com alguma disputa (quase assumindo aquela atitude "fera", já estando perto de outras, não todos assim, mas bem "representadas"), vi alguém em pé com bastante incômodo - mais velha, sacola, pasta, calçado, balanço do veículo e já chega, para não ficar pior! Alguns segundos de hesitação e pensamento (estou cansado mental e fisicamente, com uma bolsa grande e pesada, há pessoas mais jovens próximas dela e "gentileza gera gentileza", será que já foram gentis com os sentados para que assim retribuam?) e nada ao redor daquela senhora aconteceu.

Tendo olhado para os lados, para trás e para frente a tônica era "farinha pouca, meu pirão primeiro!"  Não podia mais ignorar, não por um simples gesto altruísta ou mesmo aparecer (e tinha certeza que mal seria reparado no gesto), não, houve algo mais que parecer "legal", relembrei algo superior, vindo de alguém espetacular: "Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles façam a vocês; pois esta é a Lei e os Profetas." Mateus 7:12. A chamada Regra de Ouro é parte de princípio do alto, divino, nada humano, nada animal, e sim sobrenatural.  

A matéria humana possui algo de Deus, seja pela criação ou mesmo ação do Espírito. É essa condição que nos é negada ou por nós ou por alguém que diga não ou ainda circunstâncias equivocadas. Não devemos viver por nossos instintos carnais, não nos tornam melhores, não nos desenvolvem. Parece-me mais verossímil sermos desafiados a não-conformidade com o presente século, não por parecer moralmente aceitável, mas por ser espiritualmente correto.

Ah, sim! Cedi o lugar.

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