Em um dia chuvoso, véspera do feriado, calçadas apinhadas de gente, pressa, tumulto, barulho... Estou sentado na poltrona a fim de provar um calçado. À esquerda, um casal indeciso na escolha dos objetos: ele, comendo coxinha, bebendo refrigerante e sem muito interesse em decidir pela mulher que sandália levar. Ela mostrava uma, duas, três e ele apenas concordava com a cabeça (parecia apenas decidido a comprar e sair). Mais uma sandália e ela comenta que o objeto tinha muita informação e eu pensei comigo: "Parece um carro alegórico, ou árvore natalina, dadas a quantidade de pedras na sandália e o brilho delas.". Ele mais uma vez assente com a cabeça e assim que ela termina de escolher chega a vez dele. Dois tênis apenas e no momento que ela diz que um é melhor a compra é feita.
Com a loja calçadista abarrotada, vendedores baratinados, atendentes com megafones controlando as vendas, variedade dos produtos em limpas vitrines, tudo isso rodopiando a mente a e a visão, parei e olhei...
... À direita, uma mulher, mãe e sua filha, um bebê. Em meio a todo "fuzuê" ela olhava ternamente para sua cria. Não deixei de reparar que ela parecia em paz, tranquila diante de toda balbúrdia capaz de chatear fortemente qualquer pessoa, mas ela, não, "nem aí". Interesse apenas na pequena vida. Uma ajeitada no cabelo, um cheiro de leve e um fechar de olhos como que querendo sonhar. Seria isso mesmo? Sim, ela não parecia com sono, mas um cerrar pálpebras de satisfação.
Deixe-me agora escrever o que me ocorreu mentalmente após isso:
José fatigado após uma caminhada exaustiva e procura de um lugar para descansar; Maria, cheia de dores da gravidez, indisposta e ansiosa por um pouso tranquilo. Ambos em uma cidade repleta de peregrinos, pessoas de outras localidades, todos na correria do melhor lugar e para o casal restou um canto meio que "de favor". Uma melhoria, limpeza básica e mesmo assim o cheiro forte dos animais e o barulho característico não foram tão intensos quanto ao nascimento dEle. Não está registrado na Bíblia, porém consigo imaginar algo como o pai carpinteiro/pedreiro tendo melhorado o quanto pode, então, sentar-se e admirar o menino-bebê. José sabia muitíssimo bem quem era o fruto do ventre materno, e Maria?
Mais do que aquela senhora da loja, não só no regaço segurava o Cristo, como em certos momentos imaginava a bênção, poder e amor contidos nEle. O casal não abandonou, destratou, deixou de lado aquela vidinha que viria ser a materialização da Fé, da Esperança do Amor do Alto.
Sei que não há data precisa da vinda do Salvador em forma humana, nem do seu retorno em glória, no entanto tenho certeza de que é o único capaz de nos assegurar uma graça maior, melhor e sobre-excelente.
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