Além do senso comum na política brasileira:


A condenação judicial, ou mesmo a prisão, de um símbolo aglutinador de um movimento ou de um partido revolucionário não basta para desestabilizá-lo ou desorganizá-lo.

Na melhor das hipóteses, um incômodo dessa natureza faz com que a militância adote uma postura errática, própria de quem teve o seu eixo estruturador retirado abruptamente, mas tal postura é rapidamente desfeita pelas ações daqueles que, acima de qualquer símbolo aglutinador, exercem efetivamente a liderança estratégica do movimento ou do partido.

Na pior e mais comum das hipóteses, a revolta histérica que move a militância é reforçada pelo que ela percebe como uma ação reacionária, como um ato de resistência aos encantos e aos apelos de sua luta imaginária contra um mundo que, a partir de um juízo fantasmagórico, julga mau e vil. Acuada pela força da realidade, a militância exacerba ainda mais sua devoção à figura do condenado e, com isso, mergulha numa atmosfera que parece dar sustentação e consistência ao diagnóstico distorcido e equivocado que cada um dos seus membros faz acerca da realidade política e jurídica da condenação do criminoso em questão.

Isso significa que, passada a euforia inicial, teremos que retornar à realidade e, na medida do possível, nos prepararmos para lidar com o fato de que o petismo em particular, e o esquerdismo em geral, continuarão exercendo um assombroso e indesejável protagonismo na dinâmica das disputas políticas, sociais e culturais do nosso país; de que isso terá repercussões no curto, no médio e no longo prazo; e também de que, ao menos por enquanto, é impensável que a cúpula do PT não inscreva Lula como seu principal candidato.

Há alguns meses venho dizendo que Lula participará das eleições, a menos que ele seja efetivamente preso. Concluída a primeira etapa do trabalho magistral do TRF4, sinto ter de dizer que não mudo meu prognóstico: independente do que seja decidido, o PT inscreverá Lula como seu candidato à presidência da República e fará de tudo, senão para vencer as eleições, ao menso para difundir o conjunto farsesco de narrativas que retratam o Brasil pós-impeachment como um país submetido a um "governo golpista, que dá sinais de que pode se tornar um regime de exceção".

A nota intitulada “Não nos renderemos diante da injustiça: Lula é candidato", publicada pelo partido, parece confirmar essa tendência, que deverá se estabelecer em definitivo após a reunião que os dirigentes petistas farão amanhã, dia 25 — por isso, reitero mais uma vez que, embora desejável, é improvável termos uma eleição sem Lula em 2018 e mais improvável ainda nos livrarmos da esquerda sem uma intensa briga política e ideológica.

Filipe G Martins

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