O serviço secreto cubano, Raúl Castro e o STB:


Raúl Castro Ruz,
Ao escrevermos em língua tcheca nos sites de busca da internet “Raul Castro e a StB”, certamente um dos textos mais relevantes que aparecerá como resultado é o artigo do conhecido historiador tcheco e ex-diretor do Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários de Praga, Pavel Žáček, intitulado “Nosso camarada em Havana” (em tcheco Náš soudruh v Havaně ) publicado na revista Paměť a dějiny (Memória e História), edição nº. 3/2012.
O autor descreve os primeiros contatos dos serviços de segurança cubanos com a polícia secreta da Tchecoslováquia, a StB. Esses contatos, que se deram de forma muito intensa ao longo dos anos de 1960 e 1961, surgiram a partir da nova orientação das autoridades revolucionárias cubanas. E o irmão do líder Fidel Castro, Raúl, então Ministro da Defesa, desempenhou um papel essencial nessa história. Os tchecos, mediante solicitação e com o consentimento dos cubanos, enviaram seus especialistas a Havana, os oficiais do Primeiro e Segundo Departamento (inteligência e contra inteligência), a fim de que se familiarizassem com os “amigos cubanos”, como foi definido, e ensinassem a eles os fundamentos do trabalho operacional, os ajudando a construir sua própria polícia política secreta.
Capitão Zdeněk Kvita, codinome Peterka.
O primeiro a chegar em Havana foi o capitão Zdeněk Kvita, em 19 de abril de 1960 (as relações diplomáticas haviam sido retomadas em 17 de abril de 1960), seu codinome era “Peterka”. À meia-noite, como escreve Žáček, de 26 de abril de 1960, Raúl Castro Ruz, como Ministro da Defesa, se encontrou pela primeira vez com Kvita em uma reunião do Estado-Maior. Na noite de 3 de maio de 1960, ocorreu nova reunião no prédio do Estado-Maior do Exército cubano – desta vez estava presente também Eduard Fuchs (codinome “Dominik”), oficial residente do serviço de inteligência tchecoslovaco no México –, a inteligência tchecoslovaca tratava os detalhes sobre a transferência do assassino de Leon Trotsky, Ramón Mercader – um agente da KGB soviética –, desde a prisão mexicana, passando por Havana e Praga e depois até a União Soviética. Concluída a operação de transporte de Mercader, em 8 de maio, realizou-se um terceiro encontro com Raúl Castro, entre as 16 e 23 horas. Segundo os relatórios de inteligência tchecoslovacos, as informações dão conta de que durante essas reuniões voltou a confirmar-se que os representantes cubanos simpatizavam com a URSS, a República da Tchecoslováquia, a República Popular da China e todo o mundo socialista, de quem esperam o mais importante apoio para a difícil luta. Claro, naquela época, por precaução, Praga instruiu seus oficiais a manterem secretos todos os contatos com os representantes cubanos de forma a não revelarem sua presença em Havana. Como nos outros países em que atuavam, os oficiais da StB em Havana usavam da cobertura dos cargos na embaixada tchecoslovaca instalada em Cuba.
Em abril de 1960, por iniciativa de Raúl Castro, ao residente da StB em Havana foi requisitado para que o jovem oficial comandante da inteligência e contra inteligência cubana recebesse treinamento especializado na Tchecoslováquia. Ele era o camarada mais próximo dos irmãos Castro, Ramiro Valdés Menéndez (codinome DIN). Decidiu-se então que o general Valdés, junto com Raúl Castro e Peterka, viajariam a Praga.
Raúl Castro e Ramiro Valdés, em 2014.
Em 7 de julho de 1960, os três homens chegaram à cidade e, de 11 a 17 de julho, o general Valdés recebeu seu treinamento em uma mansão secreta do serviço de inteligência, no bairro Barrandov, em Praga. Raúl Castro reuniu-se com o Ministro do Interior tchecoslovaco, Rudolf Barák, com quem discutiu as formas de cooperação das polícias secretas entre os dois países. O ministro também prometeu ajudar em outras áreas, incluindo treinamento adicional de oficiais, bem como considerar o envio de outros oficiais tchecoslovacos a Cuba. Como a comitiva estava de partida para Moscou, Barák expressou sua crença de que eles poderiam negociar com representantes responsáveis do Serviço de Segurança do Estado soviético, e Castro manifestou interesse em conhecer o Chefe da KGB ligado ao Conselho de Ministros da URSS. O camarada ministro Barák assegurou a Raúl Castro que isso seria bastante natural se ele informasse ao camarada Alexander Shelepin do teor das negociações com o Ministério do Interior tchecoslovaco. A delegação cubana, então, partiu para Moscou.
Ministro do Interior tchecoslovaco, Rudolf Barák, o chefe do serviço de inteligência.
Mais tarde, em outubro de 1960, após a KGB ser consultada, decidiu-se que a StB entregaria o trabalho à KGB. É o que se lê na carta enviada desde a central em Praga ao general Valdés:   No que diz respeito à questão dos conselheiros, de comum acordo com os camaradas soviéticos, gostaríamos que você considerasse o uso de uma parte nesta área – por exemplo, recomendamos o uso dos camaradas soviéticos.[i] Os russos ensinariam aos cubanos a base do trabalho operacional e ajudariam Havana a construir uma força policial política secreta . De qualquer modo, os bons contatos do residente de Praga com o Ministro da Defesa, Raúl Castro, continuariam. Os cubanos ainda trabalhavam na empreitada sigilosa de organizar as atividades da sua polícia secreta e continuavam a receber seu treinamento na Tchecoslováquia. Para agilizar e acelerar a organização, chegaram a propor funções de liderança no serviço cubano a especialistas da Tchecoslováquia e da União Soviética. Praga foi taxativa com seu residente Deixe claro para os amigos cubanos que você não tem autorização para discutir esse tipo de assunto.[ii]
No final de novembro daquele ano, para resolver conflitos existentes na hierarquia do seu serviço secreto, o Ministro Raúl Castro troca o comando da inteligência cubana. Os relatórios da StB da época dão conta de que a decisão era acertada. Isso contribuirá para uma melhora substancial do trabalho, afirmou ao residente um dos revolucionários[iii]. No lugar do general Valdéz é nomeado Manuel Piñeiro Losada, quem, com muito sucesso, foi o principal responsável dentro da inteligência cubana por exportar os movimentos de guerrilha para toda a América Latina. Ele era conhecido como  el Barbarroja. E, espanhol, o Barba Ruiva.
Quando da decisão da mudança de comando da inteligência cubana, Manuel Piñeiro voltava de um treinamento de três meses em Moscou, chegando a Praga em 29 de novembro de 1960. O cubano foi convidado para uma festa no Hotel Internacional na companhia de vários oficiais da StB. O chefe do Departamento I, responsável pela inteligência no estrangeiro, fez esclarecimentos a respeito da divisão de competências na assistência à Cuba Revolucionária, seguindo o espírito da carta enviada a DIN [Valdéz], entre a República Socialista da Tchecoslováquia e a URSS. Piñeiro o tranquilizou dizendo que os amigos soviéticos já haviam lhe informado a respeito. Ele ainda contou ao oficial da StB que os conselheiros soviéticos concordavam com a possibilidade de usar Cuba como plataforma para enviar agentes ilegais para América Latina e América do Norte e, se necessário, prometeu ajuda ao serviço de segurança cubano.
De 3 a 8 de dezembro de 1960, os amigos soviéticos do Departamento I da KGB organizaram para o General Piñeiro uma visita a Berlim, onde, sob o comando de Raúl Castro, ele se reuniria com representantes do serviço secreto da Alemanha Oriental. O objetivo seria o de aprender com a experiência dos alemães, especialmente no que diz respeito ao controle de fronteira, pois Guantánamo, a base militar americana cravada no território de Cuba, partilhava dos mesmos problemas.

Manuel Piñeiro Losada, Fidel Castro, Raúl Castro e sua esposa, Vilma Espín.

Salvador Allende, Manuel Piñeiro Losada e Fidel Castro.
Ciente da existência desses documentos e do que eles fazem prova, é interessante lembrar da primeira parte do documentário AS CONEXÕES DA KGB, de 1982, o qual legendamos e disponibilizamos em nosso canal do Youtube. Você pode assistir no link abaixo. As informações levantadas pelo historiador Pavel Žáček confirmam o que o ex-agente da StB, Ladislav Bittman, disse quando entrevistado no documentário e em seu livro, The KGB and the Soviet Disinformation. A StB desempenhou um papel importantíssimo na criação do serviço secreto cubano junto com os soviéticos.
Vladmír Petrilák & Renor Oliver
[i] Relatório de Havana nº. 1, de 6 de outubro de 1960.
[ii] Correio da Central em Praga, Borecký, de 25 de novembro de 1960.
[iii] Coleção do Arquivos dos Serviços de Segurança “Departamento I das Forças de Segurança Nacional”, Registro nº. 80589, Registros dos encontros com Rafael no mês de novembro de 1960, 3 de dezembro de 1960
Material originalmente do - https://stbnobrasil.com/pt/raul-castro-os-arquivos-da-stb-e-o-servico-secreto-cubano

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