SEIS PESQUISAS (TOTALMENTE HIPOTÉTICAS)
1.
- Bom dia. Estamos fazendo uma pesquisa de intenção de voto na eleição presidencial. O senhor diz “presidente” ou “presidenta”?
- Presidente.
- Obrigado. O senhor não é elegível para esta pesquisa.
2.
- Boa tarde, senhora. Qual desses candidatos...
- Este aqui não é candidato.
- Esse aí é “o” candidato, senhora.
- Não é, não. Ele é inelegível. Está preso. Lei da Ficha Limpa. Não pode concorrer à presidência.
- Assim a senhora atrapalha a pesquisa.
- Assim você é que atrapalha, misturando alhos com bugalhos. Entre os que realmente podem se candidatar, eu escolheria...
- Senhora, eu podia estar roubando, eu podia estar matando, eu podia estar gritando “bom dia, presidente! ” lá em frente à Polícia Federal em Curitiba, mas estou aqui tentando ganhar a vida honestamente coletando dados que provem que esta eleição já tem um campeão moral, e que qualquer outro resultado é fraude. A senhora poderia, por favor...
- Eu preferia votar nesse aqui, ó, mas acho que vou acabar votando é neste. Ou nesta. Ou mesmo neste, ó – mas só em último caso. Passar bem.
- Mas, senhora, senhora...
3.
- Entre estes candidatos à presidência, qual é o seu favorito?
- Só pode ser homem?
- Não, senhora, há candidatos e candidatas.
- E por que você pergunta qual o meu favorito, e não qual o meu favorito ou favorita?
- Desculpe. Qual o seu favorito ou favorita?
- Por que você perguntou o favorito antes da favorita? Por que a mulher sempre vem por último?
- Perdão. Qual a sua favorita ou o seu favorito?
- Não há nenhume candidate transgênere que possa também ser minha, meu ou meue favorite?
- Aparentemente não, senhora. Os candidatos...
- ... e candidatas...
- ... os candidatos e candidatas são estes.
- E estas.
- Estes e estas.
- Por que o cartãozinho com o nome deste macho branco opressor foi apresentado antes das outras e dos outros?
- Probabilidade estatística, senhora. Há mais candidatos homens – naturalmente, todos brancos e opressores. Eu embaralhei os cartõezinhos e saiu este, como poderia ter saído qualquer outro. Ou outra. Ou outre, se houvesse outre.
- Esse seu discurso de ódio estatístico burguês não me convence. Não vou participar desta farsa manipulada pelo imperialismo patriarcal hegemônico.
- Mas...
- Fascistas não passarão!
- (mentalmente) Boulos, um voto. Lá se vai a unanimidade...
4.
- Como o senhor avalia o péssimo governo do atual presidente golpista?
- Hein?
- Estamos aproveitando a pesquisa de intenção de voto em Lula para avaliar a impopularidade gritante do Fora Temer.
- Fora Temer?
- Desculpe, é o hábito de nunca falar o nome dele sem dizer “fora” antes.
5.
- Boa tarde. Em que ex-presidente preso e condenado o senhor votaria se a eleição fosse hoje?
- Como assim?
- É que trabalhamos com vários cenários. Neste cenário, queremos saber em quem o senhor votaria se só pudesse votar em um ex-presidente preso e condenado.
- Eu votaria em branco.
- Não há essa alternativa, senhor.
- Votaria nulo, então.
- Senhor, essas opções não existem. Vamos então a outro cenário: Se Lula fosse o único candidato, em quem a senhor votaria?
6.
- Bom dia. Qual destes outros candidatos a senhora gostaria de ver derrotado por Lula num eventual segundo turno?
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