Filipe Martins - Instituições instáveis já há tempo:

De quando em quando, reproduzo aqui este texto que escrevi em 2016 para tratar de um tema que, em minha opinião, está entre os mais urgentes, delicados e importantes do país. Também tenho feito algumas palestras sobre o assunto e conversado com uma série de pessoas a respeito da gravidade do momento que vivemos.

Em todas essas ocasiões, inevitavelmente surgem aqueles que acreditam que essa ordem de coisas me agrada ou que confundem, voluntária ou involuntariamente, a leitura que faço da situação atual, que já existe, com o desejo de que ela venha a se tornar realidade. Julgam, em suma, não o que escrevi, mas o que imaginam que eu quis dizer.

Cada vez mais vai ficando claro, no entanto, que, longe de expressar desejos subjetivos, essa compreensão da atual ordem de coisas se impõe pela força dos fatos.

Tendo sido alertado pelo Professor Olavo de Carvalho a respeito desse fenômeno ainda em 2013, agora, cinco anos mais tarde, noto que mesmo as figuras mais icônicas da Nova República começam a se dar conta de que vivemos o esgotamento de um ciclo, um momento de ruptura e o ocaso do atual aparato político-institucional.

Aqui e ali, já podemos ouvir ou ler um José Sarney, um Fernando Collor, um Fernando Henrique Cardoso e um José Dirceu afirmando que o ciclo da Nova República se esgotou e admitindo que enfrentamos uma situação de ruptura.

Em outra fronte, mesmo os críticos mais ferrenhos dessa tese carvalheana já iniciaram o processo do "veja bem" e, hoje, começam a admitir que não vivemos uma situação de normalidade institucional, embora, ao que tudo indica, ainda se apeguem a uma espécie de fé metastática, à crença de que algo simplesmente irá acontecer e colocar as coisas em seu devido lugar.

Se somam às fileiras dos que enxergam essa situação a Casa Monárquica do Brasil, um grupo significativo de militares e intelectuais e acadêmicos, à esquerda e à direita.

Seja como for, já passou da hora de pôr um fim à brincadeira de "guerra política" que a direita faz na internet e de começar a impedir que nossas divergências, rixas e intrigas contaminem nossas análises e discussões sobre esse fenômeno. Estamos todos no mesmo barco e não dá mais para perder tempo com bobagens enquanto ele afunda. É urgente buscar meios de reagir inteligentemente a essa situação, equalizando as divergências e construindo consensos. Caso contrário, isso que se chama de direita no Brasil pode ser aniquilado.

Nas próximas semanas, tentarei trazer mais algumas reflexões sobre o assunto. Por ora, deixo aqui mais uma vez esse brevíssimo resumo do drama nacional, conforme eu o via em 2016.
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Há alguns paralelos muito claros entre a situação que se iniciou no Brasil em junho de 2013 e a situação que teve início na Rússia em fevereiro de 1899. No caso da terra natal de Lenin, a crise que se iniciou com uma revolta estudantil, inicialmente vista como um evento menor e localizado, agravou-se e se alastrou de tal modo que precipitou três momentos revolucionários.

O primeiro em 1905 com a adoção de uma constituição por parte do regime czarista (quantos liberais não se deixaram enganar, à época, pelas ilusões de um avanço institucional e democrático?); o segundo em fevereiro de 1917, quando caiu a monarquia e Kerensky, uma espécie de social-democrata, chegou ao poder anunciando suas intenções de modernizar o Estado russo por meio de reformas econômicas e constitucionais (mais uma vez sob os aplausos dos liberais); e o terceiro em outubro de 1917, quando os bolcheviques tomaram Petrogrado e, liderados por Lênin, assumiram o controle de facto e de jure da Rússia.

Nos dezoito anos que constituíram esse período, os comunistas, mestres da dialética, souberam jogar com as contradições, olhando tudo desde um horizonte muito amplo; os liberais e os conservadores, por sua vez, buscavam se posicionar, momento a momento, com base em uma visão estreita e doutrinária da situação, com frequência se deixando levar por ilusões de momento e pelo entusiasmo de vitórias políticas aparentes (como as celebradas por alguns aqui no Brasil), alienando o apoio popular, adotando posturas tímidas perante os acontecimentos e entregando, na prática, o protagonismo e a direção da situação nas mãos dos bolcheviques.

Queira Deus que esses paralelos permaneçam apenas na esfera dos exercícios mentais e imaginativos. Queira Deus que nada remotamente parecido com a Revolução Russa se repita no Brasil. Porém, cada vez que olho para o noticiário fico mais convicto de que a Nova República está morta, de que teremos uma revolução e de que o caráter dela — se ela será à americana ou à russa — dependerá de cada um de nós.

Estamos vivendo uma situação revolucionária que, por ora, ninguém sabe como aplacar ou gerir; uma situação cada vez mais explosiva e complexa, aprofundada pela explicitação do derretimento das instituições e dos arranjos do establishment, de um lado, e dos adeptos da falsa esperteza que criam soluções artificiosas, de outro — e, por distantes que experiências como as que estão sendo lembradas aqui nos pareçam, a imolação dos nossos vizinhos venezuelanos não nos permite esquecer que a destruição revolucionária está sempre mais próxima do que gostaríamos e que a vigília constante não é um capricho, mas sim uma necessidade.

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